sexta-feira, 15 de novembro de 2024

BASE-FUT COMEMORA 50 ANOS DE LUTA PELOS DIREITOS E INTERESSES DOS TRABALHADORES!

 A Base-Frente Unitária de Trabalhadores (BASE-FUT) promove no próximo dia 16 de novembro,no Auditório Municipal de Pombal uma Conferência para comemorar os 50 anos da sua fundação.

Perfaz agora 50 anos que uma centena de aguerridos  militantes, a maioria oriunda dos Movimentos Operários Católicos, se reuniu nas instalações da então FNAT,hoje INATEL,da Costa de Caparica, para criar uma Organização que, através da formação e ação sindical e cultural ,promovessem a defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores portugueses no novo quadro de esperança

 nascido com a Revolução do 25 de abril de 1974.Foi escolhido um logo forte,uma imagem quebrando as cadeias da opressão, e uma frase célebre no Movimento Operário e sindical mundial já bem conhecida por muitos militantes sociais -«Só os trabalhadores libertarão os trabalhadores»!

Naquela magna reunião de novembro de 1974 uma centena de militantes aprovaram os estatutos da BASE-FUT e uma aspiração que já percorria as ruas das cidades e vilas de Portugal:chegar a uma sociedade livre,democrática e socialista autogestionária!

A maioria das pessoas tinha feito um caminho na Ação Católica Operária

A maioria daquelas pessoas já tinha percorrido  um caminho militante no quadro da Ação Católica Operária portuguesa de luta contra a ditadura e a guerra colonial, ligados a outras componentes cristãs e oposicionistas nacionais e internacionais,com particular destaque aos sindicatos internacionais de inspiração cristã.

Foi um segmento significativo dos Movimentos Operários Católicos ,o Centro de Cultura Operária (CCO) e o clandestino Grupo Base os motores desta nova Organização autónoma que, para além de ter como objetivo a liberdade, também tinha animado em conjunto com militantes comunistas e socialistas a conquista dos sindicatos livres que desembocou na Intersindical Nacional a 1 de outubro de 1970, fazendo uma ruptura com o capitalismo português, onde meia dúzia de famílias detinha a grande fatia da riqueza nacional.Foram estes dois grupos que emergiram como uma das componentes  mais conscientes social e politicamente do chamado «catolicismo progressista».

Comemoramos


também a esperança de Abril

Passados 50 anos estamos a comemorar também a esperança renovada de Abril com as preocupações e desafios de hoje.Neste sentido no programa da Conferência de 16 de novembro está prevista uma intervenção de José Afonso Oliveira, um militar de Abril,que acompanhou a coluna de Salgueiro Maia naquele luminoso dia!Está Abril ainda por cumprir? É sempre válida a luta pela democracia  e contra a guerra?-eis as questões que irá desenvolver.

E que futuro tem o Estado Social?A esta questão vão responder já na parte  da tarde Diogo Cunha,investigador do COLABOR, e Luis Simões,Presidente do Sindicato dos Jornalistas.

Nessa mesma tarde será ainda apresentado o livro «Do sonho à realidade-o livro como semente de liberdade» de Fernando Abreu,um dos militantes que dirigiu o CCO e o Grupo BASE na clandestinidade, fundador e primeiro Coordenador Nacional da BASE-FUT e que estará presente agora em Pombal!

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

ACORDO DE RENDIMENTOS É TRAVÃO SALARIAL?

 Mais uma vez o «Diálogo Social» foi politicamente utilizado por um governo!Os mesmos de sempre,ou seja patrões e UGT assinaram um Acordo para a Melhoria dos rendimentos, salários e


fiscaliade, deixando para debate futuro temas muito importantes como a segurança e saúde dos trabalhadores, segurança social e formação profissional,ou, ainda sem referir sequer outros temas, como a negociação coletiva e a participação dos trabalhadores.

Este Acordo não passa de uma atualização do anterior realizado no governo de António Costa, procurando agora acomodar alguns aspetos do programa da Aliança Democrática.Mais uma vez o «bloco central »,que inclui a UGT,funcionou e também vai funcionar para a aprovação do OE .

Poderemos dizer que as propostas salariais não acomodam as perdas enormes da recente inflação e do aumento do custo de vida nos bens essenciais.Com um aumento de 50 euros nos próximos anos o salário mínimo só chegará aos 1020 euros em 2028.Se o compararmos com o da vizinha Espanha veremos logo o que espera a uma importante percentagem de trabalhadores portugueses,em especial trabalhadores imigrantes e outros trabalhadores essenciais,sempre invisíveis.Mas o salário médio também se perspetiva no mesmo ano para 1890 euros que será o mínimo na vizinha Espanha.Como vamos cativar os jovens quadros?

Referenciais salariais são travão às reivindicações sindicais

Os referenciais salariais previstos neste Acordo são um espartilho, um travão, para os sindicatos reivindicativos numa época de falta de trabalhadores e do alto nível do custo de vida que se vai manter com a guerra, secas e o turismo.Estes referenciais vão ser ainda bitola para as empresas,condicionam a negociação coletiva,sendo fonte de conflito e concorrência entre sindicatos.

Nos aspetos fiscais as críticas vindas da CGTP são esclaceradoras ao lembrar que quem mais ganha com as propostas sobre o IRC,seguros de saúde,pagamento do trabalho extraordinário,etc,são as grandes empresas e os seus acionistas!

É igualmente de lamentar que os rendimentos dos pensionistas não estejam aqui mais aprofundados  com metas a atingir para as pensões em geral e, em particular ,as que estão abaixo de mil euros.Os governos gerem a Segurança Social como esta não fosse dinheiro descontado dos salários dos trabalhadores!

Mas para mim o mais chocante é, sem dúvida, a triste figura em que se tornou o Conselho Económico e Social que parece uma «caixinha dos segredos» quando deveria ser um Forum de diálogo , de debate social com ampla divulgação das matérias em discussão,incluindo o máximo de organizações nesse debate.

Conselho Economico e Social governamentalizado

O Conselho com estas práticas de negociações secretas tornou-se um órgão governamentalizado,de negociações seletivas e de truques onde pontificam as organizações patronais e os sindicatos da UGT que precisam especialmente desta plataforma.

Temos a sensação de que falta uma estratégia negocial a curto e médio prazo que inclua a valorização do trabalho e de todos os trabalhadores,as medidas fiscais,as medidas de caráter ambiental,os objetivos económicos a alcançar.

Quanto à CGTP as opiniões dividem-se mesmo dentro da Central.Uns consideram que o Conselho não é mais do que um órgão de ressonância do capital,enquanto outros consideram que a Central deveria ir até ao fim, negociando até ao limite.

Embora seja, de facto, um assunto que os dirigentes da CGTP terão que decidir internamente apenas lembro que  também é muito cómodo para as organizações patronais e até para a UGT a não assinatura de nenhum acordo de rendimentos por parte da CGTP.Com esta Central na negociação final os referenciais salariais seriam outros,mais favoráveis aos trabalhadores e as benesses fiscais às empresas não seriam tantas.

Espera-se que no âmbito de eventuais acordos sobre segurança e saúde dos trabalhadores, formação profissional e legislação laboral a CGTP lute na rua e no Conselho até ao fim.Também aqui se podem conseguir ganhos para os trabalhadores!

terça-feira, 1 de outubro de 2024

NOVAS FORMAS DE GESTÃO E LIDERANÇA? (I)

 

Nos últimos tempos desenvolveu-se uma nova narrativa nas escolas de gestão no que respeita à gestão


dos trabalhadores, ou, como eles dizem agora, dos «colaboradores».Definem-se novas estratégias para o sucesso de um bom ambiente de trabalho e abunda a literatura psicologisante e «humanista» das relações laborais e da satisfação dos ditos colaboradores.Perante a falta de trabalhadores qualificados existem numerosas declarações de amor aos colaboradores nas revistas e jornais económicos!

Diga-se já em abono da verdade que quando se usa o conceito de «colaborador» eu fico logo de pé atrás!Ele não existe na literatura da Organização Internacional do Trabalho , da UE, nem na legislação portuguesa.Um colaborador não é um subordinado nem tem o estatuto de trabalhador assalariado!

Define-se e caracteriza-se essa nova gestão e liderança empresarial como em ruptura com a tradicional de tipo fordista e hieráquica,valoriza-se um tipo de participação e flexibilidade com alguma autonomia;valoriza-se o ambiente de trabalho, as relações mais horizontais,enfim,estratégias mais adequadas às novas gerações mais qualificadas e com uma diferente relação com o trabalho.

Gestão produtivista e, por vezes, doentia

Todavia,a perspetiva destas novas abordagens de gestão continuam a inserir-se numa visão produtivista de redução de custos e maximização dos lucros.Pretende-se efectivamente que o trabalhador/quadro «vista a camisola»,ou seja,se comprometa a cem por cento com a empresa e com os seus objetivos.Objetivos definidos pelos CEO /acionistas e depois pelos gestores de departamento ou de equipa.Objetivos quase nunca negociados e, por vezes, irrealistas.

Toda a narrativa destes gestores tem como único objetivo a intensificação do trabalho,a que o pessoal possa «dar o litro»,muitas vezes sem fronteiras entre a vida pessoal e profissional,submetidos à agenda do cliente, com picos frequentes de horários extenuantes.

Não podemos admirar-nos que advenham o stresse e o bounout, a depressao, a falta de sono,os problemas gástricos e, em casos extremos, o suicídio!

Para mal dos nossos pecados é frequente a culpabilização dos trabalhadores que ficam doentes.São pouco resilientes, essa outra moda agora reinante em algum vocabulário!Não sabem trabalhar sob pressão, um elemento essencial nos dias de hoje,dizem esses sabichões dos «recursos humanos»!Estamos num mundo competitivo e há que ter estofo de combatente,trucidando,competindo com os colegas,intrigando,assediando se necessário!

Nota: na segunda parte deste artgo abordarei os eixos de uma gestão participativa que não seja enganosa nem doentia.

 

terça-feira, 17 de setembro de 2024

AS DOENÇAS PROFISSIONAIS SÃO ATENTADO AO TRABALHO DIGNO!

 

A maioria dos trabalhadores e trabalhadoras portuguesas não relaciona as doenças com a profissão.Uma realidade invisível mas que revela os níveis de exploração dos trabalhadores e uma cultura escandalosa  de desvalorização do trabalho!Esta cultura é incompatível com a promoção do trabalho digno que enche a boca a tanta gente!

Em geral vamos ao médico de família e este frequentemente também não relaciona  as doenças com a


nossa profissão.Como a maioria dos serviços de saúde do trabalho são externos, as condições de trabalho são pouco conhecidas pelos médicos desses serviços que nos fazem de longe em longe um exame, nos tiram umas «chapas»,nos pesam e, quando muito, fazem um electrocardiograma.A medicina do trabalho em Portugal é em larga medida uma prática burocrática.O próprio Estado como patrão deixa muito a desejar...são muitos os locais de trabalho de serviços públicos que não cumprem a legislação no que respeita à prevenção dos riscos profissionais!

Segundo a Organização Internacional do Trabalho as doenças profissionais matam seis vezes mais trabalhadores/as a nível mundial que os acidentes de trabalho e deixam incapacitados milhares de trabalhadores/as.

Em Portugal são as mulheres trabalhadoras as mais afectadas pelas doenças profissionais representando mais de 70% do total das certificações, sendo a maioria das incapacidades resultantes de lesões músculo-esqueléticas.Esta doença tornou-se na principal doença profissional em toda a Europa e levou a Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho a realizar  campanhas de informação e alguns estudos sobre esta problema.

Quantas mulheres trabalham anos e anos com tendinites, com dores, sem poderem fazer uma vida normal e não são mudadas dos locais de trabalho que as puseram doentes?Andam com paliativos, intoxicadas de remédios quando deveriam estar de baixa e devidamente acompanhadas.Não uma baixa de doença normal, mas profissional com todos os direitos inerentes, nomeadamente sem custos para a pessoa doente.

Os números sobre doenças profissionais não são credíveis

Os números sobre doenças profissionais certificadas em Portugal não são crediveis e nunca ultrapassaram as cinco a seis mil por ano. Os distrito de Setúbal,Aveiro e Porto aparecem nos primeiros lugares.A indústria transformadora aparece como o sector com mais doenças profissionais.

A própria Direção Geral de Saúde reconhece que só uma pequena parte das doenças profissionais é participada.Assim os custos são suportados em larga medida pelo próprio trabalhador/a.É um dos aspectos mais escondidos da exploração dos trabalhadores que tem aumentado com os ritmos de trabalho,a pressão da gestão e dos clientes e de algumas tecnologias, nomeadamente a informatização da economia.

A invisibilidade das doenças profissionais tem várias causas, sendo a principal o facto de que existe uma grande dificuldade na associação entre doença e trabalho.Todavia, o sistema pode e deve ser melhorado.Temos que melhorar em especial a avaliação de riscos nas empresas e todo o sistema de participação e certificação das doenças profissionais.

Mais uma questão: para quando a atualização da lista nacional de doenças profiisionais?A Comissão já está a trabalhar há anos e ainda não temos resultados?É urgente a sua atualização dado que temos novos riscos profissionais em particular do domínio psicossocial.

A CGTP editou recentemente um GUIA intitulado «COMBATER AS DOENÇAS PROFISSIONAIS das mulheres trabalhadoras» que explica de forma pedagógica e simples o que são as doenças profissionais, quais os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras neste domínio, nomeadamente quanto á prevenção e reparação das mesmas.A brochura, para além de estar acessível em papel também pode ser consultada no site da Central Sindical.A perspectiva sindical também está presente neste pequeno livrinho que aconselhamos vivamente.

 

 

 

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

SINDICALISMO E ECLIPSE DA DEMOCRACIA LIBERAL

 

Um dos sinais importantes do definhamento da democracia foi no passado a crise do sindicalismo.Basta ver a história do nosso País no século passado e constatamos que alguns anos antes da ditadura militar de 1926 a República atacou por diversas vezes o Movimento Operário e Sindical tendo como pano de


fundo o medo de que se implantasse em Portugal uma República dos Sovietes.

Para além dos ataques ao Movimento Sindical dos governos liberais e republicanos ocorreu também um importante debate entre os sindicalistas libertários e comunistas sobre a Revolução Russa e a natureza do regime bolchevique.A estratégia da Internacional Comunista em todo o mundo teve também a sua influência no Movimento Sindical Português aprofundando a disputa e guerrilha entre anarquistas e comunistas pela liderança do mesmo.

As consequências da guerra e a crise económica do capitalismo levaram a uma crise social  enorme com  desemprego , doença e fome não apenas no campo mas também nas maiores cidades.A República conservadora  e a democracia liberal ,tal como a Monarquia, não resolvia os problemas nacionais e muito menos os problemas sociais e económicos do povo português.Criou até as condições internas para a ditadura.

A prisão e deportação de milhares de sindicalistas , a crise económica e a luta pela hegemonia das organizações de trabalhadores foram debilitando o Movimento Operário e Sindical facilitando assim o advento da ditadura do «Estado Novo»

Ora hoje as classes dominantes e as grandes empresas têm o controlo político da nossa segunda República.Por enquanto ainda não reprimem às claras as organizações de trabalhadores e os ativistas sindicais.Todavia , e por enquanto,conseguem os mesmos objetivos através de outras táticas:colocam os seus representantes nos órgãos do estado , controlam os grandes órgãos de difusão da ideologia burguesa em que tudo é uma mercadoria,varrem da memória , deturpam ou ignoram os principais acontecimntos e simbolos da Revolução de Abril como Otelo,Salgueiro Maia,Reforma Agrária,ocupações de casas pelos pobres,enaltecem contecimentos que lhes deram o poder como o 25 de novembro de 1975.

Usando e pagando a dezenas de comentadores e jornalistas silenciam as atividades das organizações de trabalhadores e investem milhões em eventos de afirmação da modernidade tecnológica,festivais e outros arraiais.Procuram decredibilizar e meter no saco do anacronismo tudo o que sejam utopias,projetos coletivos e do bem comum.Enaltecem o empreendorismo, o culto burgues e acomodado do casamento,o consumismo desenfreado,amesquinhando a poupança, a seriedade e o compromissão generoso e militante!

Se esta estratégia de anestesiamento social para obter o máximo lucro e todo o poder ao capital tiver sucesso poderemos ter paz-a paz dos escravos.Se esta estratégia tiver a contestação e a rebelião de largos setores do povo, então virão medidas mais duras e até será colocada em causa a democracia liberal que essa gente da finança tanto ama enquanto lhes encher os bolsos!

Fazer esquecer as organizações de trabalhadores e a sua luta,descredibilizar e atacar a sindicalização dos trabalhadores foi e  é um elemento central da estratégia do capital.O futuro da democracia social ,económica e participativa exige um sindicalismo forte, reivindicativo e ator social central!Não existem grandes transformações sociais emancipatórias sem a participação das organizações dos trabalhadores!

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

A LUTA PELA PAZ PASSA HOJE PELA UCRÂNIA E POR GAZA

 


Em novembro de 2022 escrevi este texto que resultou de um debate realizado em Coimbra.Passados quase dois anos mantém toda a actualidade apenas acrescentando que hoje a paz também passa por um cessar fogo em Gaza!


Logo no início da invasão da Ucrânia pela Rússia a BASE-FUT tomou uma posição clara relativamente a este terrível conflito que assola o centro da Europa e afecta todo o mundo.Assim no mesmo dia desse acontecimento, 24 de fevereiro de 2022, foi tornado público um comunicado onde dizíamos que «Quaisquer que sejam a origem e a validade das queixas russas, o uso unilateral da força militar e os argumentos apresentados pelo Presidente Putin para a justificar são completamente inaceitáveis e merecem a nossa mais viva condenação e repúdio.»

O comunicado da BASE-FUT dizia ainda« Esta invasão é o culminar de um conflito que lavra desde 2014 e que nunca foi resolvido. É também um lembrete dos efeitos nefastos de uma ordem internacional em que os estados mais poderosos – como a Rússia e os Estados Unidos da América – continuam a arrogar-se o direito de definir “esferas de influência” e de interferir com as escolhas dos povos que são por elas abrangidas.»

Ao longo dos meses temos assistido a uma perigosa e horrível escalada da guerra com milhares de mortos e de feridos,milhões de refugiados ,em particular ucranianos,destruição de cidades  e estruturas vitais da Ucrânia.

Para além deste horror os efeitos nefastos desta guerra em todo o mundo, nomeadamente no abastecimento e encarecimento de bens de primeira necessidade como a energia e os alimentos,a inflação galopante e a desvalroização dos salários e pensões colocam em cima da mesa a necessidade de parar esta guerra de imediato para que ao horror da fome e da subida trágica do custo de vida  não venham outros males como a recessão económica,a convulsão social e os perigos da extrema direita, bem como a ameaça nuclear.

O debate sobre a guerra continua pouco dinâmico e entregue aos comentadores ligados aos sectores dominantes das ciências políticas ou a militares de alta patente reformados ou no activo .Na maioria das situações pinta-se o quadro a preto ou branco e legitima-se a guerra sem margem para posições mais criticas.É óbvio que esta visão da guerra não interessa às classes trabalhadoras portuguesas, europeias e mundiais e, em particular, não interessa aos trabalhadores dos povos em conflito.São os trabalhadores que irão sofrer mais com os investimentos na guerra e com a presença  na frente de batalha!

Foi assim que perante esta situação a BASE-FUT escolheu o tema« as origens da guerra da Ucrânia suas consequências e caminhos para a paz»para o debate comemorativo dos seus 48 anos de trabalho ao serviços dos trabalhadores portugueses.Um debate animado por dois excelentes especialistas nas questões internacionais,o professor José Manuel Pureza e a jornalista Sandra Monteiro.

Deste debate podemos retirar algumas conclusões  e reflexões para o futuro.

Cosequências desta guerra

Esta guerra  está ter várias consequências locais e mundiais com destaque para:

1.Efeitos energéticos nomeadamente no abastecimento e preços mas também na transição energética justa.A transição para novas energias com menores efeitos climáticos está a ser retardada com possíveis efeitos catastróficos;

2.Efeiros na carência alimentar com o aumento da fome em várias regiões do planeta afectando milhares de seres humanos, em particular pessoas pobres;efeitos na subida histórica da inflação com a desvalorização dos salários e das pensões

3.Efeitos na qualidade da democracia com reforço da autarcia e autoritarismo ao alterar as condições de vida das massas populares.A extrema direita alimenta-se das tensões geradas.

As visões dominates desta guerra

As visões dominantes desta guerra e que em geral alimentam a comunicação social e a maioria dos analistas são duas:

1.Visão liberal:

O que aconteceu na Ucrânia foi a adesão aos valores de mercado e das liberdades económica e política.É a história triunfante que no século XX hegemonizou o mundo.É a narrativa da guerra dos bons contra os maus, das democracias contra as autracias;É a mais divulgada entre comentadores e políticos europeus e ocidentais em geral.Esta visão alimentada pela maioria da comunicação social está espalhada na opinião pública ocidental.

2. Visão realista

Tudo se resume a um jogo entre as grandes potências.Cada uma das grandes potências controla o seu campo geoestratégico.Tudo o que acontece tem aí uma explicação.Esta narrativa está nos discursos de académicos e comentadores.

3.A visão dos caminhos da paz

Existe um silêncio horrível sobre os caminhos para a paz.Afirma-se subtilmente que a guerra termina quando uma das partes seja derrotada.Ora,há que criar espaço para um debate com outras saídas que não seja a derrota de uma das partes.Nessas saídas a ONU e outras organizações devem ter um papel importante mas estão a ser marginalizadas pelos próprios estados.As saídas para a paz devem, todavia, ter em conta os interesses de ambas as partes e do mundo.

Hoje já não é credível ver na Rússia de Putin e dos oligarcas um polo de resistência ao imperialismo norte-americano.Neste país, bem como na Ucrânia existe uma aliança entre o capitalismo liberal e o autoritarismo.Porém, um reforço unilateral dos USA levaria a uma ordem mundial pouco favorável às classes populares.A guerra está a ser utilizada para disseminar o medo, a diminuição das reivindicações e a imposição de uma segunda vaga de austeridade na Europa!

Neste sentido é fundamental uma solução diplomática rápida, um cessar fogo que permita negociações e entendimentos.Para se alcançar este objectivo é fundamental o debate , o esclarecimento e um movimento mundial pacifista que sensibilize e mobilize a opinião pública.

Nota: BASE-FUT-Base-Frente Unitária de Trabalhadores,organização que nasceu com a Revolução do 25 de Abril tendo como fundadores quadros dos Movimentos Operários da Ação Católica Portuguesa

segunda-feira, 5 de agosto de 2024

O CONSELHO ECONÓMICO E SOCIAL VISTO PELA EXTREMA DIREITA

 

Há dias pasmei com um artigo de 27 de julho passado, no Observador ,de um senhor Paulo Marcos, Presidente do Sindicato dos


Quadros Bancários, intitulado «O CES-o último reduto marxista».Para meu espanto aqui o CES é o Conselho Económico e Social,Órgão tripartido da mais pura social democracia europeia,um figurino de poder partilhado entre sindicatos,patrões e governos defendido desde 1919 pela Organização Internacional do trabalho (OIT) e pelas instituições da Comunidade Europeia e mais tarde pela União Europeia!Pois este senhor escreve dizendo que toda a construção e trabalho deste órgão estão imbuidos da ideologia marxista e que denfende interesses corporativos sindicais caducos!Como não leio o Observador não me tinha dado conta de que este jornal,pretensamente de uma direita ilustrada, publicava tais barbaridades, ou deixava tais ignorantes escreverem sobre matérias que não dominam.

Já temos estudos suficientes de investigadores credenciados sobre esta matéria.Basta procurar alguns no ISCTE,no Centros de Estudos Sociais e no próprio Conselho Económico.Estudos críticos que demonstram que a ação do Conselho Económico poderá ser tudo menos marxista e muito menos leninista!

O facto de existir demasiado protagonismo do Estado neste Órgão tal não significa que seja marxista!Salazar ainda era mais intervencionista nas relações de trabalho e não era marxista!O facto de alguns sindicatos ou confederações não estarem representados no CES e na Comissão Permanente de Concertação não é um indício de marxismo pois tem que ver com a representatividade das organizações,sem grandes critérios de apuramento,admito.Os interesses sindicais representados são reconhecidamente maioritários! Esses «interesses sindicais» são a UGT e a CGTP.São caducos?É uma apreciação subjetiva.Quais seriam então os «interesses sindicais» a representar?Os «interesses» do sindicato do articulista?

Se alguma crítica pode ser feita ao CES é a de que ao longo da sua existência ajudou a legitimar políticas laborais e sociais na sua maioria contrárias aos interesses dos trabalhadores,nomeadamente em todo o processo da facilitação do despedimento e precariedade, dos horários de trabalho,do trabalho temporário,rendimentos e  contratação coletiva.Não vejo que o CES tenha defendido mais os interesses sindicais do que os interesses do patronato,antes pelo contrário!

Como pode assim um sindicalista vir para um jornal dizer que o CES é «o último reduto marxista que defende interesses sindicais caducos que nos colocam na cauda da Europa» apenas por interesse, despeito e excentricidade?Um jornal que publica tais enormidades não pode ser credível! 

Admito que seja necessário repensar o CES,que algumas entidades também deveriam estar ali representadas.Admito, no entanto, que não é algo prioritário nem urgente!É muito mais preocupante a situação da contratação coletiva e da fragilidade dos chamados «parceiros sociais».Embora deficiente o CES ainda é o único forum macro onde os sindicatos podem debater e apresentar propostas que defendam os seus interesses.

Os centros de difusão das ideologias do retrocesso social e cultural estão muito ativos.Há que lhes dar combate!