A situação social e política vivida em 2016/2017 tem alguma dimensão ilusória para os trabalhadores.É
verdade que as costas descansaram do «pau troikista» e passista.Não se julgue, porém, que a austeridade terminou para as classes trabalhadoras e vamos ter a reversão fácil de direitos sem luta e forte pressão!Ela foi e é ainda tão grande que o próprio Presidente do BCE, Mário Draghi, se diz preocupado com a persistente baixa de salários na União Europeia.Não tanto porque o atual Partido Socialista queira aplicar as políticas de austeridade e dar todo o poder aos patrões e respetivas empresas.É muito mais porque o modelo austeritário na Europa ainda não foi derrotado sob ponto de vista político e ideológico.A crise foi uma excelente ocasião para aplicar o modelo de contenção salarial, desvalorização do trabalho e ganhos de competitividade à custa dos trabalhadores.
Temos que assinalar o aumento do salário mínimo fortemente contestado pelas organizações patronais e pela oposição de direita e pelo regresso às 35 horas na Função Pública e reversão dos feriados. Parece que a torneira das reversões laborais significativas por aí ficou!
0ra, se o modelo austeritário e de flexibilidade laboral ainda não foi derrotado e tem até importantes adeptos em alguns sindicatos e partidos de esquerda,é porque ainda não se acumularam as forças sociais e políticas necessárias a nível europeu e nacional para o derrotar.É necessário continuar o debate político e ideológico demonstrando que este modelo económico é suicidário e destruidor dos valores fundamentais da estabilidade laboral dos trabalhadores e suas famílias e predador dos recursos naturais.
0 capitalismo atual precisa, para acumular riqueza nas mãos de alguns, de mercantilizar toda a vida humana criando necessidades inúteis, precarizando e desvalorizando o trabalhador e alimentando uma cultura do efémero , do descartável , de um trabalho sem sentido e uma vida olhada sempre a curto prazo!Perdem-se os valores da estabilidade, confiança, da lealdade ,da palavra dada,da ética nos negócios e na vida!
Sobre esta questão valerá a pena reler os trabalhos do sociólogo americano Richard Sennet, em especial o livro a « A corrosão do caráter-as consequências pessoais de trabalho no novo capitalismo».
Esta cultura é promovida pelos«media» que estão nas mãos dos grandes interesses económicos, e pelas grandes empresas multinacionais e organizações internacionais.
Este combate cultural vai ser longo e exige um maior esforço cultural e ideológico das organizações de trabalhadores numa sólida aliança com os investigadores, escritores e opinadores sem reservas e preconceitos partidários.Todos somos necessários num combate para evitar o regresso das velhas teses racistas, nacionalistas e de submissão total do trabalhador ao capital, à empresa seja ela virtual ou não!É no trabalho que jogamos muito da liberdade e emancipação!
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