O recente acidente com um avião da
Germanwings da rota Barcelona – Dusseldorf abriu o debate sobre os vários problemas
que afetam as companhias aéreas e as respetivas tripulações. Mas há debates e
debates, ou seja há debates que procuram ocultar realidades e debates que
procuram colocar o «dedo na ferida».
Após um acidente destes há quase sempre
vários interesses em jogo, nomeadamente as indemnizações às vítimas, a imagem
da companhia com eventual perda de clientes, desvalorização na bolsa, enfim um
montão de problemas.
Como pano de fundo deste acidente parece
aparecer com clara evidência um problema grave de saúde de um piloto que
porventura foi ocultado. Segundo as informações da imprensa tudo indica que era
um problema de ordem psicológica! Por certo que o inquérito irá revelar outros
dados da situação.
A questão que se coloca é que um acidente
é sempre a revelação extrema de uma desordem organizacional na empresa, é a
manifestação de que existem falhas e que são necessárias medidas de prevenção e
segurança. Em geral os acidentes são produto também de uma cultura da empresa.
A nossa sociedade considera a competição e
nomeadamente a competitividade uma «vaca sagrada» que nunca deve ser
questionada. Ora a competição, que tem as suas virtualidades também tem
importantes limitações e deve ter limites. Sabemos que as companhias aéreas, em
particular com a introdução dos voos low-cost, reduziram os custos a todos os
níveis, nomeadamente no pessoal. Pilotos que ganhavam grandes salários
trabalham por metade e fazem mais horas de voo. A competição e a resistência ao
stresse são enaltecidas. O mundo da aviação é para heróis, para fortes. Ter uma
doença qualquer, e em particular psicológica, pode significar uma carreira acabada!
Mais do que as medidas de tipo
complementar que estão a ser tomadas, como manter dois tripulantes na cabine, é
fundamental cuidar da cultura da empresa e de instituir bons serviços de
segurança e saúde ocupacional.
Infelizmente esta cultura sem humanidade atravessa
hoje a maioria das empresas e até dos serviços públicos. A doença é vista como
uma fraqueza, uma debilidade do trabalhador. Fomenta-se o «presentismo», ir
para o trabalho mesmo doente, e exorcisa-se o absentismo, mesmo que por doença!
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