quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A IDEOLOGIA DA AUSTERIDADE!

A austeridade tornou-se uma verdadeira ideologia, isto é, um pensamento (uma visão) legitimador de uma economia e de um modelo de relações sociais. Uma economia subordinada aos «mercados» ou seja ao capital financeiro e especulador que gera dinâmicas de concentração do capital e de desigualdade social inéditas na Europa.
Para se conseguir essa concentração da riqueza nas mãos de alguns aplicam-se políticas de austeridade para a maioria da população, políticas, aliás, já experimentadas pelo FMI noutros locais do globo!
Para que as políticas de austeridade sejam assumidas pelos povos sem grande contestação utilizam-se os «media» apropriados em geral pelos grandes grupos económicos beneficiários destas políticas. De facto, os meios de comunicação social desempenham hoje um papel chave na manipulação do pensamento como, aliás, os investigadores sociais explicam muito bem. Por outro lado reforçam-se os «meios de segurança», não vá o diabo tecê-las!
O medo é outro instrumento da ideologia da austeridade. Dizendo que não existem alternativas á austeridade senão o caos, consegue-se domesticar as pessoas que se disponibilizam para aceitar tudo, nomeadamente a perda de direitos e até cortes drásticos nos seus parcos rendimentos.
Neste momento existem assim duas políticas e duas culturas em confronto: uma que considera que será através da austeridade e de reformas estruturais que nos redimimos do passado e voltaremos a crescer; outra considera que a austeridade pura e dura impede o crescimento económico e aprofunda as desigualdades sociais. É óbvio que a UE rica, em particular a Alemanha, assumiu a primeira política ou seja a da austeridade e das reformas estruturais. É a política do FMI! As reformas estruturais são a constituição de um outro modelo de relações laborais e de Estado que permitam um crescimento económico socialmente mais injusto, beneficiando apenas um pequeno setor da população.
A ideologia da austeridade nórdica ainda tem uma outra componente de cariz racista com raízes geográficas e culturais. O norte protestante e rico considera o sul pobre e católico incapaz de se regenerar e, em geral, preguiçoso! É um elemento ideológico importante na medida em que legitima por um lado e desvirtua por outro as relações comerciais de desigualdade frequentes entre o norte e o sul. Apenas um exemplo, em tempos de avultados subsídios comunitários á agricultura portuguesa, pela década de noventa do seculo passado, compraram-se inúmeras máquinas agrícolas, algumas bem sofisticadas e particularmente caras. Sabem quem as vendeu? A Finlândia, a Suécia etc…Ou seja, o dinheiro do subsídio vinha para o sul mas rumava depois para o Norte!
Frente a uma ideologia da austeridade há que construir uma cultura da sobriedade. O consumismo incentivado pelo mercado é a outra face da austeridade. A sobriedade, porém, é a cultura do desenvolvimento económico sustentado social e ambientalmente. A sobriedade exige auto - controlo individual e coletivo, promovendo a qualidade de vida, a satisfação das necessidades fundamentais de todos, sem hipotecar o presente nem futuro!
O consumismo como ideologia e prática não voltará certamente, pese alguns sectores da população ainda sonharem com o regresso de tal paraíso! Nas mudanças em curso será necessário, porém, promover a cultura da partilha e da cooperação, afirmação de direitos e deveres para todos, sem privilégios e sem castas. Uma cultura da igualdade que combata a caridade institucionalizada que se reforça enquanto se alargam as valas da desigualdade

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