domingo, 3 de julho de 2011

DOURO:Um brilhozinho nos olhos!


Os cachos de uvas, em particular as tintas,chamam a atenção semi - escondidos entre as folhas das videiras causticadas pelo sol de Agosto!Um Agosto particularmente quente naquele ano de 1974.Tanto ao nível térmico como político.Portugal , graças aos capitães de Abril e ao povo nas ruas,tinha acordado das longas e tristes décadas da ditadura salazarista.

Um brilhozinho nos olhos morava no povo agrícola, em particular daqueles nunca tiveram uma palavra na Região-os trabalhadores agrícolas e demais gente pobre, doente ou marginalizada.Eles foram sempre os peões do chamado «reino maravilhoso» que, para estes, não tinha nada de maravilhoso.

À força de picaretas, dinamite e ferros do monte esventraram as montanhas do Douro, construindo de seguida e durante séculos, aquelas imensas escadarias de socalcos tão belos ao longe...mas apenas ao longe!

As «Ferreirinhas» multiplicaram-se por todo o vale do rio de ouro dando aos trabalhadores rabos de sardinha de barrica e, os mais humanos, caldo de feijão.Milhões de litros de vinho do Porto foram sendo transformados em libras e escudos, sustentando uma burguesia rural-urbana protegida que manteve todo um povo escravo e na ignorância!Mais tarde a fuga possível foi a França quando o ditador morreu e lhe sucedeu o delfim.

Agora ainda restavam alguns que por ali trabalhavam e que viam ainda a medo na Revolução de Abril uma oportunidade, algo que despontava...
Para outros ,uma minoria, nascia também um mundo cheio de ameaças depois de meio século de tranquilidade abençoada e vigiada pelo «velho» e pela polícia política.

Melhores salários e sindicatos! Nas grandes cidades falava-se abertamente!Algo até agora proibido e indizível!A prepotência e o paternalismo das «Ferreirinhas» estavam em causa.A palavra socialismo era entendida de muitas formas, quase religiosamente!Era uma espécie de religião sem sacerdotes.
Mas naquele Agosto de 1974, logo ao nascer da democracia, apareceram nuvens negras em forma de boatos ameaçadores que exploravam a pobreza de muitos homens e mulheres...no silencio dos solares e grandes casas existia o alvoroço.Era preciso matar aquele brilhozinho nos olhos visto em muitos na Vila...
Cuidado com os que têm um brilhozinho nos olhos!

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