Os recentes conflitos sociais como o dos professores têm colocado algumas pessoas de esquerda em desconforto perante os sindicatos e o seu papel nas actuais sociedades. Algumas pessoas consideram que os sindicatos, nomeadamente no actual conflito na educação, deveriam ceder e pôr os interesses da educação em primeiro lugar, outras consideram que o Governo tem a legitimidade do voto e , portanto, deve decidir e resolver o conflito impondo a sua vontade.
Não tenho como objectivo agora dizer qual a posição que me parece mais justa ou adequada. Antes pretendo partir para uma reflexão sobre o sindicalismo para os próximos tempos.
Lembro, no entanto, aos que consideram que o Governo deve vencer este confronto com um episódio não muito longínquo no Reino Unido com o Governo da “Dama de Ferro”, a senhora Tatcher que teve um braço de ferro com os sindicatos, vencendo-os e privatizando diversos sectores e serviços públicos. O desemprego e a pobreza aumentaram, os transportes e o serviço de saúde não melhoraram, antes pelo contrário!
É no, entanto, importante que nos entendamos sobre o que queremos em termos sindicais, ou seja que sindicalismo defendemos para uma democracia que não é mera ficção, mas que é participativa não se limitando a um voto periódico em políticos profissionais! Em geral os governos gostam de sindicatos colaboracionistas e excomungam os mais protestantes e inconformistas.
Ora, o sindicato colaboracionista apenas ganha as migalhas que sobram do banquete dos ricos! Em geral os trabalhadores desconfiam daqueles que estão sempre dispostos a assinar acordos e a brindar com os governos!
Assim, e contrariando algumas pessoas acomodadas, os sindicatos devem continuar a ser reivindicativos, apesar da crise e por causa da crise. Devem, obviamente fazer uma leitura da situação concreta nacional e internacional, enquadrando na mesma as suas reivindicações. Mas, em tempos de sacrifícios todos devem contribuir, em particular os que mais ganham ou mais rendimentos usufruem!
Um papel importante do sindicato continua a ser a repartição da riqueza nacional! Há pouco? Há menos a dividir!
Discordo assim daqueles que defendem que os sindicatos deveriam calar as suas exigências salariais para, enfim ,mais tarde recuperarem o que perderam....como se tal fosse fácil!
A Luta pela promoção da saúde no trabalho deve ser central na acção sindical!
Embora a reivindicação salarial continue a ser central na melhoria das condições de vida o sindicato deve ser reivindicativo ao nível de melhores condições de trabalho, nomeadamente de saúde e segurança e bem estar no trabalho
A promoção da saúde no trabalho é, assim, um dos grandes desafios do sindicalismo actual, nomeadamente no que respeita aos novos riscos do trabalho como o stress e a violência psicológica e até física!
Os imigrantes e operários desqualificados são as principais vítimas do trabalho! Em muitas empresas, a segurança é uma ficção!
Todavia, os sindicatos terão que fazer um grande esforço de formação dos seus quadros neste domínio. Tal como os empregadores os sindicalistas continuam, embora por razões diferentes, a menorizar a luta pela promoção da saúde no trabalho! Ora, nos tempos actuais e futuros esta reivindicação é central, já que está no centro da luta pelo trabalho digno e de qualidade!
Embora pouco estudadas, as consequências da precarização do trabalho, dos ritmos de trabalho e dos horários prolongados vão fazer-se sentir na saúde e na vida das pessoas!
Os sindicatos deverão adoptar rapidamente uma abordagem mais empenhada e mais fundamentada desta realidade. O recente projecto de estudo e de sensibilização para a prevenção do stress nos locais do trabalho promovido pela CGTP e pela CCP no âmbito do Acordo Europeu sobre a mesma questão parece-me uma iniciativa promissora se prosseguir após os apoios .(continua)
Sem comentários:
Enviar um comentário