quarta-feira, 21 de março de 2012

SAÚDE NO TRABALHO: o risco da superficialidade!

Nos últimos anos os meios académicos, em particular das ciências sociais, vão centrando a sua atenção para os problemas de tipo psicológico que afetam os trabalhadores e até quadros dirigentes. Temos assim mais trabalhos neste domínio com particular incidência no estudo do stress e suas consequências para a saúde dos trabalhadores e produtividade das empresas, assédio moral, depressão, bulling , violência no trabalho e outros.

A par destes trabalhos académicos temos o esboço de um discurso público, de empresas e outras entidades públicas e privadas a falarem destas questões em colóquios, seminários e conferencias. Até aqui tudo bem, eu diria mesmo, é um bom sinal!


No quadro da promoção de uma cultura de segurança e saúde no trabalho é fundamental que a preocupação com a promoção da saúde de quem trabalha, nomeadamente com a prevenção dos chamados riscos psicossociais, ganhe foros de cidadania, ganhe espaço público e editorial!

No entanto, quem acompanha esta realidade questiona-se frequentemente se este movimento é mais porque os temas estão na moda no estrangeiro, nomeadamente nos países nórdicos, ou é uma genuína vontade das pessoas e instituições portuguesas! Uma vontade alicerçada no estudo e na análise da realidade e na urgência efetiva de passar á prática nos locais de trabalho.

Questiono-me se não será mais para «inglês ver» que embarcamos em muitas destas questões frequentemente tratadas em consequência da nossa inserção comunitária! Ainda é hoje frequente ouvir gente a mofar-se quando se fala em assédio moral ou stresse e no seu impacto para a saúde de muitos trabalhadores. No seu mundo preconceituoso, mesmo que licenciados, o sofrimento físico e psíquico é sempre inerente ao trabalho. Mas esta questão levar-nos-ia muito longe, nomeadamente no que respeita a uma determinada ideologia weberiana e á necessidade capitalista de disciplinar e explorar o trabalhador.

Mas, a verdade seja dita, as organizações de trabalhadores também deveriam levar mais a sério estas questões que cada vez ganham mais peso na vida doe quem trabalha. Tradicionalmente a dimensão subjetiva dos trabalhadores é quase ignorada pelos sindicatos. Estes subvalorizam também o sofrimento no trabalho, não se apercebendo que está aqui um dos principais riscos de fragmentação dos coletivos de trabalhadores. Os sindicatos devem começar também a trabalhar com os psicólogos e psiquiatras.

Crise potencia os riscos

Temos indícios efetivos de que com a crise aumentaram os riscos psicossociais nas empresas e serviços públicos! O medo de ser despedido, o assédio moral, a violência no trabalho estão aí para ficar na medida em que vai diminuindo a proteção legal do trabalhador e aumenta o desemprego! Ainda há pouco o Presidente do Sindicato dos Impostos se queixava a um jornal que a violência estava a aumentar contra os trabalhadores do fisco! E nas unidades de saúde? Muitos problemas todos os dias!

Nos últimos anos (2009, 2010, 2011 e 2012) a Autoridade para as Condições do Trabalho realizou na temática do assédio no local de trabalho, (assédio moral, sexual e violação do dever de ocupação efetiva dos trabalhadores), um total de 1515 visitas a estabelecimentos (respetivamente 409, 497, 606 e 3 até esta data), das quais resultaram 299 autos de notícia, (respetivamente 77, 79, 140 e 3 até esta data) que corresponderam a um valor de coimas de 913 895,11 €. As zonas do país com o maior número de dados registados são os grandes centros urbanos de Lisboa e Porto.

Perante esta realidade era bom que em Portugal se agarrassem estas questões no terreno. A prevenção dos riscos psicossociais tem que ser tomada muito a sério pelas empresas e sindicatos. Neste momento existe muito medo em muitas empresas portuguesas. O medo é o quadro ideal para criar doenças que custam caro às famílias e à nossa sociedade!

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