Só uma pequena parte das doenças é que está notificada.
A conclusão é do primeiro estudo nacional sobre o assunto, ontem revelado em Lisboa."É uma catástrofe em andamento, uma bomba-relógio". Luís Cunha Miranda, reumatologista e um dos três autores do primeiro estudo nacional sobre a prevalência de lesões músculo-esqueléticas relacionadas com o trabalho, não tem dúvidas de que este é um problema com tendência a agravar-se.
O envelhecimento dos trabalhadores e a precariedade do emprego, associadas à falta de investimento na prevenção e diagnóstico destas doenças, são factores que irão conduzir a um aumento do número de casos.Face à inexistência em Portugal de dados rigorosos sobre o número de pessoas que desenvolvem doenças reumáticas devido as suas condições de trabalho, os três investigadores - Luís Cunha- Miranda, do Instituto Português de Reumatologia, Filomena Carnide, ergonomista e professora da Faculdade de Motricidade Humana e Fátima Lopes, médica do trabalho e membro da Sociedade Portuguesa de Medicina do Trabalho -, com o patrocínio da Direcção-Geral de Saúde, decidiram deitar mãos à obra.
Contactaram as 822 empresas portuguesas com mais de 250 trabalhadores e enviaram aos médicos do trabalho um questionário sobre a incidência deste tipo de lesões entre os seus funcionários. Responderam 515 empresas, num total de 410 496 trabalhadores, o que, segundo os autores do estudo, corresponde a 11% da população activa em Portugal.
Das respostas recebidas foi possível apurar que 5,9% dos trabalhadores abrangidos pelo estudo padecem de lesões músculoesqueléticas provocadas pelo emprego, o que significa que 24 269 pessoas sofrem todos os dias de dores devido às suas condições de trabalho. A grande maioria (quase 75%) são lesões ao nível da coluna vertebral (na zona lombar, cervical e dorsal) - mais frequentes no sector da construção civil, indústria metalomecânica e pescas - e dos membros superiores (ombros, mão e cotovelo), mais frequentes na indústria automóvel e na montagem de componentes eléctricos e electrónicos.
Extrapolando para o total da população activa em Portugal, os investigadores concluíram que há mais de 220 mil portugueses que sofrem destas doenças. Um número "gravíssimo" e bem distante das estatísticas oficiais.Segundo Filomena Camide, em 2006 foram apenas reportados 1500 casos de lesões músculo-esqueléticas, o que equivale a 60% de todas as doenças profissionais reportadas, mas muito abaixo da realidade identificada no estudo.
Há várias razões que podem explicar a subnotificação das doenças reumáticas em meio laborai, mas os autores do estudo não poupam críticas aos médicos do trabalho. "Existem muitas vezes para cumprir os mínimos requisitos legais e não para serem uma aposta para o crescimento da empresa e da saúde dos trabalhadores", admite a médica Fátima Lopes, antevendo um futuro com "trabalhadores doentes e desmotivados que não garantem empresas saudáveis".(notícia do dia)
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