segunda-feira, 25 de novembro de 2013

CAMPANHA NO CALÇADO-melhorar a segurança e saúde dos trabalhadores?

A indústria nacional do calçado tem sobressaído na maré recessiva da nossa economia aparecendo como uma atividade em expansão, sendo responsável por cerca de 1% do PIB português em 2011, equivalente a 1555 milhões de euros, e vendendo cerca de 75 milhões de sapatos no mercado mundial. Esta confortável situação é fruto de várias dinâmicas económicas e sociais ocorridas nas últimas décadas no país. Ocorreram muitas falências de pequenas unidades, desemprego de milhares de pessoas e manutenção de salários baixos. A qualificação dos trabalhadores e empresários também mudou e continua a mudar. A criatividade, as competências tecnológicas, de gestão e marketing tornaram-se decisivas para o futuro de uma indústria que tem tradição em Portugal. 

O setor apresenta inúmeros riscos profissionais, com destaque para os riscos químicos, mecânicos e ergonómicos, ocorrendo, melhor dito, foram registados, entre 2006 e 2010 cerca de 8.900 acidentes de trabalho neste setor, havendo a salientar a inexistência de vítimas mortais. Não é fácil saber o número de doenças profissionais em Portugal, e obviamente neste setor, dada a subnotificação existente no nosso País. Todavia, existe informação que aponta para a ocorrência de doenças que decorrem do trabalho repetitivo e da movimentação de cargas, entre outras. 
Embora algumas instituições do setor afirmem que existem poucos acidentes de trabalho e que não se encontrarão grandes problemas de higiene e saúde nas empresas a realidade é que as condições de trabalho são deficientes. Basta falar com alguns trabalhadores e delegados sindicais. O problema é que, ao contrário de outros países, quase não existem estudos credíveis publicados sobre esta matéria. Agora que o setor está a progredir, exportando como nunca, seria interessante um investimento neste capítulo. A visão que a tecno-gestão (técnicos, gestores, etc.) tem das condições de vida e de trabalho é muito diferente da visão de quem está oito e mais horas na oficina. 
Este facto é uma lacuna que, de certo modo, prejudica a campanha que a Autoridade para as Condições do Trabalho vai promover em 2013-2014 em parceria com várias entidades empresariais e sindicais. O ponto de partida está pouco alicerçado num conhecimento sustentado da realidade. Seria assim de esperar que no âmbito da Campanha existissem os meios para financiar um estudo sólido sobre a realidade do setor no que respeita às condições de trabalho`, nomeadamente quanto a doenças físicas e psíquicas, consequências da modernização do setor na organização do trabalho, ritmos, horários, salários e precarização. 
Os próprios parceiros que vão participar na Campanha não indiciam um empenho particularmente profundo na mesma. Aceitam o desafio como mais uma iniciativa/boleia da Administração. Falta-lhes estratégia própria para além do imediato que é pouco em altura de vacas magras! Mas, vamos ver quais as iniciativas dos parceiros, nomeadamente sindicais. Será que vão pôr os trabalhadores do setor a debater as suas condições de trabalho? Ou será que ,mais uma vez, se fazem uns seminários onde se debitam teses já debitadas noutros seminários?

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