quarta-feira, 5 de março de 2008

O ACIDENTE ESTAVA LÁ! POIS É...!

Naquele dia de Setembro o sol continha algo de melancólico! O mês ia a meio e o jovem António Pinto fazia as contas aos dias de vindima que tinha trabalhado. Se tudo corresse bem e o pai cumprisse as promessas de Verão a soma total daria bem para uma mota, novinha em folha! A velha motorizada já várias vezes o tinha deixado mal perante o riso da Cristina que galhofava de forma bem cruel com outras miúdas á porta da escola da vila.
Ainda hoje se perguntava porque tinha deixado tão cedo a escola! Seria apenas porque os estudos o aborreciam ou porque queria trabalhar para ganhar dinheiro, mesmo que pouco, para ter acesso a coisas que a ele estão proibidas?

Em tempos idos alguém do «rendimento mínimo» tinha - lhe proposto um curso de formação agrícola. Saber podar e enxertar como deve ser, utilizar em segurança os pesticidas, saber conduzir uma máquina e uma carrinha! Nessa altura ele sorriu e achou que para tudo isso não lhe faltaria tempo.
Agora habituou-se a trabalhar e a receber no fim - de - semana. O tempo corre ao sabor das tarefas agrícolas e dos domingos passados com os amigos em alegres competições de motorizadas na estrada da Senhora da Boa Esperança. Voltar aos bancos de uma escola seria difícil! Os pais também nunca o forçaram. O dinheiro que ganhava dava jeito a todos! E não fosse o defeito que tinha na perna e já há muito teria acompanhado outros nas idas a França e á Suiça onde os salários são a dobrar!

Ao entrar na vinha colorida para mais um dia de vindima António Pinto esquece tudo isso e inicia a tarefa ingrata de acarretar cestos de uvas maduras para a velha «toyota». O suor e o cansaço vão tomando conta do seu corpo ao longo da manhã.

Os companheiros de trabalho não param no corte da uva. Pelas encostas do Douro toneladas de cachos vão ser cortados até ao fim do dia, antes de dar algum descanso ao corpo! Todos sabem que é preciso que as horas sejam bem passadas. Ora se canta, ora se brinca. O sol não dá tréguas, o empreiteiro “está de olho” em cada um!
Com a carrinha cheia de uvas o motorista da firma quer arrancar para levar a carga ao seu destino. António Pinto, arrisca e salta para a carroçaria da carrinha já em andamento. Sente que o pé lhe fugiu e perde o controlo do seu corpo….

Quando acorda fica espantado com a sua situação! Na cama e no hospital! Um gesto banal e imprudente atira-o para aquela cama com um traumatismo craniano.
Já lhe tinham dito que a carroçaria não serve para transportar pessoas juntas com a carga! Até é ilegal….Mas, foram tantas as vezes que o fez sem qualquer susto! E, ao fim ao cabo, o patrão não se interessa verdadeiramente com o problema, pois o pessoal está no seguro!
Como foi possível que um dia tão bonito de Setembro acabasse daquela maneira?
De facto, a vida pode dar uma grande volta! É que, afinal, quando menos se esperava, o acidente estava lá!

Filipe

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