Nos últimos tempos desenvolveu-se uma nova narrativa nas escolas de gestão no que respeita à gestão
dos trabalhadores, ou, como eles dizem agora, dos «colaboradores».Definem-se novas estratégias para o sucesso de um bom ambiente de trabalho e abunda a literatura psicologisante e «humanista» das relações laborais e da satisfação dos ditos colaboradores.Perante a falta de trabalhadores qualificados existem numerosas declarações de amor aos colaboradores nas revistas e jornais económicos!
Diga-se já em abono da verdade que quando se usa o
conceito de «colaborador» eu fico logo de pé atrás!Ele não existe na literatura
da Organização Internacional do Trabalho , da UE, nem na legislação
portuguesa.Um colaborador não é um subordinado nem tem o estatuto de
trabalhador assalariado!
Define-se e caracteriza-se essa nova gestão e liderança
empresarial como em ruptura com a tradicional de tipo fordista e
hieráquica,valoriza-se um tipo de participação e flexibilidade com alguma
autonomia;valoriza-se o ambiente de trabalho, as relações mais
horizontais,enfim,estratégias mais adequadas às novas gerações mais
qualificadas e com uma diferente relação com o trabalho.
Gestão produtivista e, por vezes, doentia
Todavia,a perspetiva destas novas abordagens de gestão
continuam a inserir-se numa visão produtivista de redução de custos e
maximização dos lucros.Pretende-se efectivamente que o trabalhador/quadro
«vista a camisola»,ou seja,se comprometa a cem por cento com a empresa e com os
seus objetivos.Objetivos definidos pelos CEO /acionistas e depois pelos
gestores de departamento ou de equipa.Objetivos quase nunca negociados e, por
vezes, irrealistas.
Toda a narrativa destes gestores tem como único objetivo
a intensificação do trabalho,a que o pessoal possa «dar o litro»,muitas vezes
sem fronteiras entre a vida pessoal e profissional,submetidos à agenda do
cliente, com picos frequentes de horários extenuantes.
Não podemos admirar-nos que advenham o stresse e o
bounout, a depressao, a falta de sono,os problemas gástricos e, em casos
extremos, o suicídio!
Para mal dos nossos pecados é frequente a culpabilização
dos trabalhadores que ficam doentes.São pouco resilientes, essa outra moda
agora reinante em algum vocabulário!Não sabem trabalhar sob pressão, um
elemento essencial nos dias de hoje,dizem esses sabichões dos «recursos
humanos»!Estamos num mundo competitivo e há que ter estofo de
combatente,trucidando,competindo com os colegas,intrigando,assediando se
necessário!
Nota: na segunda parte deste artgo abordarei os eixos de
uma gestão participativa que não seja enganosa nem doentia.
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