terça-feira, 1 de outubro de 2024

NOVAS FORMAS DE GESTÃO E LIDERANÇA? (I)

 

Nos últimos tempos desenvolveu-se uma nova narrativa nas escolas de gestão no que respeita à gestão


dos trabalhadores, ou, como eles dizem agora, dos «colaboradores».Definem-se novas estratégias para o sucesso de um bom ambiente de trabalho e abunda a literatura psicologisante e «humanista» das relações laborais e da satisfação dos ditos colaboradores.Perante a falta de trabalhadores qualificados existem numerosas declarações de amor aos colaboradores nas revistas e jornais económicos!

Diga-se já em abono da verdade que quando se usa o conceito de «colaborador» eu fico logo de pé atrás!Ele não existe na literatura da Organização Internacional do Trabalho , da UE, nem na legislação portuguesa.Um colaborador não é um subordinado nem tem o estatuto de trabalhador assalariado!

Define-se e caracteriza-se essa nova gestão e liderança empresarial como em ruptura com a tradicional de tipo fordista e hieráquica,valoriza-se um tipo de participação e flexibilidade com alguma autonomia;valoriza-se o ambiente de trabalho, as relações mais horizontais,enfim,estratégias mais adequadas às novas gerações mais qualificadas e com uma diferente relação com o trabalho.

Gestão produtivista e, por vezes, doentia

Todavia,a perspetiva destas novas abordagens de gestão continuam a inserir-se numa visão produtivista de redução de custos e maximização dos lucros.Pretende-se efectivamente que o trabalhador/quadro «vista a camisola»,ou seja,se comprometa a cem por cento com a empresa e com os seus objetivos.Objetivos definidos pelos CEO /acionistas e depois pelos gestores de departamento ou de equipa.Objetivos quase nunca negociados e, por vezes, irrealistas.

Toda a narrativa destes gestores tem como único objetivo a intensificação do trabalho,a que o pessoal possa «dar o litro»,muitas vezes sem fronteiras entre a vida pessoal e profissional,submetidos à agenda do cliente, com picos frequentes de horários extenuantes.

Não podemos admirar-nos que advenham o stresse e o bounout, a depressao, a falta de sono,os problemas gástricos e, em casos extremos, o suicídio!

Para mal dos nossos pecados é frequente a culpabilização dos trabalhadores que ficam doentes.São pouco resilientes, essa outra moda agora reinante em algum vocabulário!Não sabem trabalhar sob pressão, um elemento essencial nos dias de hoje,dizem esses sabichões dos «recursos humanos»!Estamos num mundo competitivo e há que ter estofo de combatente,trucidando,competindo com os colegas,intrigando,assediando se necessário!

Nota: na segunda parte deste artgo abordarei os eixos de uma gestão participativa que não seja enganosa nem doentia.

 

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