sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

QUEBRAR O SILENCIO!

O suicídio de trabalhadores da France Telecom desencadeou um debate significativo em França, particularmente nas comunidades de especialistas ligados ás ciências do trabalho, da sociologia e psicologia e em algumas organizações de trabalhadores e até no próprio Governo.
Um investigador pouco conhecido , Christophe Desjours, começou a ser falado e lido .Este veio agora nos finais de Janeiro a Portugal onde deu uma entrevista interessantíssima ao jornal Público sobre a temática do suicídio e trabalho, aliás, o título do seu mais recente livro .

Uma das coisas mais impressionantes deste novo século é o silencio dos trabalhadores e suas organizações sobre a temática do sofrimento no trabalho. O sofrimento não apenas relacionado com os acidentes de trabalho e doenças derivadas de exposições a agentes perniciosos para a saúde, mas o sofrimento psíquico derivado da carga mental, da adaptação às novas tecnologias, ao assédio moral e às bárbaras formas de organização do trabalho iniciadas na década de oitenta.
Claro que existem razões da parte dos trabalhadores para aguentar, nomeadamente razões de sobrevivência. Mas nem todos aguentam e os que aguentam com que custos humanos e sociais?
Existem estratégias individuais várias para aguentar e até prolifera agora um negócio de promoção de terapias contra o stress, de manter a forma, de gerir a competitividade individual, enfim, um conjunto de «soluções» que encobrem a verdadeira natureza do sistema actual de relações laborais que promove o «homem como lobo do homem» para que alguns arrecadem lucros indecentes!

Ora, é necessário quebrar este silencio que paira sobre o sofrimento no trabalho e no isolamento trágico que muitos trabalhadores levam ás costas! Falar no problema e colocar o mesmo na ordem do dia das preocupações sindicais e laborais é um passo importante para a prevenção. Falar neste assunto nos locais de trabalho. Não aceitar a ideia de que trabalhar, mesmo o trabalho assalariado, é sempre uma tortura .Não legitimar pelo silencio a aceitação da crueldade do esvaziamento da humanidade do trabalhador.

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