sexta-feira, 5 de setembro de 2008

LUTAR CONTRA O FATALISMO...e o negócio à custa da vida dos outros!


Para muitas pessoas que trabalham na construção, quer sejam trabalhadores ou patrões, os acidentes nas obras ainda são “ossos do ofício”, como uma espécie de tributo a pagar a um deus estranho e senhor dos nossos destinos. Tal forma de pensar revela um fatalismo propício aos acidentes e doenças profissionais e em tudo contrário á necessária cultura de segurança de que fala a Organização Internacional do Trabalho na sua mais recente Convenção sobre SHST.


Ora, os acidentes de trabalho não são uma fatalidade. Pelo contrário, têm causas, custam dinheiro, afectam a produtividade e são, para as pessoas atingidas um luto doloroso e um drama para toda a vida!

Nos últimos tempos tivemos notícias de demasiados acidentes por soterramento e por quedas em altura. Estas duas causas, juntamente com os esmagamentos e electrocussão constituem um quarteto mortal que vitima todos os anos mais de uma centena de trabalhadores do sector.
O que mais impressiona em todos os relatos é a persistente semelhança que muitos deles apresentam, nomeadamente na forma como se utilizam escadas – de - mão, a ausência de entivação nas valas que se abrem, nos guarda -corpos que não se instalam, nos sistemas eléctricos sem protecção, enfim, diversos procedimentos incorrectos que revelam falta de prevenção e de organização do trabalho devidamente pensada.
Que significa isto? O que é que está verdadeiramente escondido por detrás dos dados estatísticos que nos revelam apenas a superfície do “icebergue”?
Claro que estarão procedimentos e processos de trabalho perigosos, mentalidades e formas de “olhar” o risco, necessidade de atender a prazos, pessoas imigrantes ou ainda com uma cultura de ruralidade, precariedade, maneiras de encarar o negócio e o trabalho, enfim um mundo de factores económicos, sociais e culturais.

Para se promover uma cultura de segurança no País é necessário analisar e conhecer melhor os traços essenciais dos comportamentos de empresários e trabalhadores, saber qual a importância que conferem `a segurança e saúde no trabalho, á formação e informação, às relações de trabalho, como organizam os estaleiros, como “pensam a obra” desde o projecto até á sua execução, como “se faz” em Portugal um empreiteiro.

É certo que houve progressos ao nível de legislação e a prática de algumas grandes empresas melhorou! Todavia, a legislação tem sempre muita dificuldade em “balizar” a acção das pequenas empresas! Daí a importância complementar das boas práticas! É certo que o Estado tem dedicado energias e meios substanciais ao sector da construção, como aliás acontece em toda a Europa.

No entanto, e apesar dos progressos havidos, existe uma taxa de sinistralidade inaceitável na construção. Assim, para além de ser importante conhecer melhor a realidade sócio – económica, em particular dos seus actores, é necessário fazer um grande esforço de informação e formação no sector.Mais é necessário que a ACT tenha mais meios de combate ao trabalho clandestino no sector.

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