Para muitas pessoas que trabalham na construção, quer sejam trabalhadores ou patrões, os acidentes nas obras ainda são “ossos do ofício”, como uma espécie de tributo a pagar a um deus estranho e senhor dos nossos destinos. Tal forma de pensar revela um fatalismo propício aos acidentes e doenças profissionais e em tudo contrário á necessária cultura de segurança de que fala a Organização Internacional do Trabalho na sua mais recente Convenção sobre SHST.
Ora, os acidentes de trabalho não são uma fatalidade. Pelo contrário, têm causas, custam dinheiro, afectam a produtividade e são, para as pessoas atingidas um luto doloroso e um drama para toda a vida!
Nos últimos tempos tivemos notícias de demasiados acidentes por soterramento e por quedas em altura. Estas duas causas, juntamente com os esmagamentos e electrocussão constituem um quarteto mortal que vitima todos os anos mais de uma centena de trabalhadores do sector.
O que mais impressiona em todos os relatos é a persistente semelhança que muitos deles apresentam, nomeadamente na forma como se utilizam escadas – de - mão, a ausência de entivação nas valas que se abrem, nos guarda -corpos que não se instalam, nos sistemas eléctricos sem protecção, enfim, diversos procedimentos incorrectos que revelam falta de prevenção e de organização do trabalho devidamente pensada.
Que significa isto? O que é que está verdadeiramente escondido por detrás dos dados estatísticos que nos revelam apenas a superfície do “icebergue”?
Claro que estarão procedimentos e processos de trabalho perigosos, mentalidades e formas de “olhar” o risco, necessidade de atender a prazos, pessoas imigrantes ou ainda com uma cultura de ruralidade, precariedade, maneiras de encarar o negócio e o trabalho, enfim um mundo de factores económicos, sociais e culturais.
Para se promover uma cultura de segurança no País é necessário analisar e conhecer melhor os traços essenciais dos comportamentos de empresários e trabalhadores, saber qual a importância que conferem `a segurança e saúde no trabalho, á formação e informação, às relações de trabalho, como organizam os estaleiros, como “pensam a obra” desde o projecto até á sua execução, como “se faz” em Portugal um empreiteiro.
É certo que houve progressos ao nível de legislação e a prática de algumas grandes empresas melhorou! Todavia, a legislação tem sempre muita dificuldade em “balizar” a acção das pequenas empresas! Daí a importância complementar das boas práticas! É certo que o Estado tem dedicado energias e meios substanciais ao sector da construção, como aliás acontece em toda a Europa.
No entanto, e apesar dos progressos havidos, existe uma taxa de sinistralidade inaceitável na construção. Assim, para além de ser importante conhecer melhor a realidade sócio – económica, em particular dos seus actores, é necessário fazer um grande esforço de informação e formação no sector.Mais é necessário que a ACT tenha mais meios de combate ao trabalho clandestino no sector.
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