quarta-feira, 11 de agosto de 2021

AS ELEIÇÕES, A IDEOLOGIA DO VAZIO E OS TRABALHADORES

 

As eleições para o Poder Local a realizar no próximo mês de setembro já mexem e vemos


nomeadamente cartazes de todos os partidos com as figuras que serão cabeça de lista para cada Vila e cidade.Sob ponto de vista político e social tem muito interesse analisar a postura dos candidatos e o texto dos cartazes.Várias constatações podemos fazer todas elas carregadas de significado e demonstrativas de como vai a democracia portuguesa.

A primeira constatação é a de que lendo os textos dos cartazes um estranho ao país que não tivesse qualquer informação sobre a vida política  não pereceberia quais seriam as forças de esquerda e de direita.Vemos cartazes de esquerda a prometer coisas do género como «uma  ambição grande para uma cidade grande» ou «honestidade e competencia» ou ainda  «tradição e identidade».Por acaso estes cartazes não poderiam ser de uma qualquer força de direita?Claro que sim como é óbvio!

Uma segunda constatação é o conteúdo dos textos que é soft,aparentemente vazio de ideologia.Referem-se alguns valores é certo.Todavia, são valores que podem ser perfilhados por eleitores de direita e de esquerda.Mas a maioria estão aparentemente vazios de ideologia.Digo aparentemente porque eles reflectem de facto a ideologia actual do sistema.Afirmam claramente o vazio de ideias,a navegação ao centro, á superficialidade e não compromisso.É a chamada «cultura líquida», o apelo ao voto para gerir o poder estabelecido, sem rasgos, sem rupturas, sem incómodos para os eleitores. O apelo ao «votem em mim que eu vou fazer obra».Nos cartazes e panfletos da maioria dos candidatos não aparece qualquer ideia de uma cidade diferente.Mais ciclovias, mais rotundas, mais estacionamentos.

A política tornou-se publicidade.O meu produto tem que ser melhor do que o teu.Realiza-se um enorme esforço para trabalhar as fotografias de velhos e novos, alguns bem feios e feias.Arredondam-se bochechas, moldam-se narizes, cortam-se orelhas.O produto final são pessoas disformes e pouco parecidas com os originais.É o resultado de se entregar a politica ás empresas de marketing.Estas esvaziam os candidatos de ideologia e dão-lhe a ideologia do capitalismo, do vazio político e cultural .

O resultado de tudo isto é o afastamento dos eleitores e cidadãos.Os políticos assemelham-se a pastas dentríficas, a sabonetes.Em alguns locais os cartazes da REMAX confundem-se com os candidatos eleitorais!O mercado tomou conta das eleições e dos políticos.Não existe emoção,antagonismo, propostas claramente diferenciadas.A abastenção cresce e vai crescer ainda mais!

Há que voltar com discursos novos à ideologia , á afirmação e debate de ideias , aos antagonismos.Existe esquerda e direita e cada uma tem que procurar o seu caminho, propostas e discurso.As candidaturas de esquerda não podem ser um vazio ou uma proposta reacionária de cidade.

A luta pelo emprego digno, pelo ambiente , pela habitação com qualidade  devem estar no centro das candidaturas de esquerda.As organizações de trabalhadores devem ser ouvidas por essas candidaturas.Por sua vez as uniões sindicais deveriam ter uma palavra nas candidaturas.O Movimento sindical alheia-se demasiado das eleições.O seu discurso estreita-se cada vez mais e não se renova.O território e a sua gestão democrática e de qualidade é assunto muito importante para os trabalhadores.Não é suficiente a candidatura de um ou outro sindicalista que faz um frete ao partido A ou B.Há que alterar esta situação.

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

TRABALHADORES DAS LIMPEZAS INDUSTRIAIS- cada vez mais visíveis e activos!

 

São mais de 40 mil os trabalhadores das limpezas industriais.São trabalhadores essenciais antes e na


pandemia, e são  quase socialmente invisíveis.Fazem a limpeza e higienização de transportes, hospitais,empresas, ministérios e aeroportos.Uma grande parte destes trabalhadores são mulheres imigrantes com baixos salários quase sempre empurrados pelos aumentos do salário mínimo.São dos sectores mais explorados pelo capitalismo!

A luta pelas condições de trabalho, nomeadamente de segurança e saúde ,são objectivo da sua mais importante organização sindical , o STAD.O assédio moral e sexual é frequente, tantas vezes calado para manter o emprego e garantir a sobrevivência da família.Os horários de trabalho ultrapassam muitas vezes as oito horas e há quem ainda tenha outros trabalhos para fazer face às despezas familiares; a fadiga, as dores lombares, as tendinites são frequentes em especial quando se passa os cinquenta anos.

Efectivamente estes trabalhadores enfrentam vários riscos profissionais que podemos destacar indicando algumas medidas de prevenção e proteção:

Riscos ergonómicos: em particular a movimentação de cargas pesadas, movimentos repetitivos, utilização incorrecta de equipamentos de trabalho.Estão aqui muitas das causas das lesões músculo-esqueléticas que invalidam muito cedo muitos trabalhadores e trabalhadoras.Não existindo avaliação de riscos uma trabalhadora pode estar anos seguidos a trabalhar de forma incorrecta e em locais doentios.

Deve ser dada formação para que se movimentem correctamente cargas pesadas;utilizar equipamento de transporte como carrinhos ou outro equipamento auxiliar.Deve ser organizado o trabalho com pausas e em equipa com ajuda mútua.Ter cuidado com os pisos escorregadios para evitar quedas.

Riscos quiímicos:risco de intoxicação com produtos de limpeza e outras substâncias perigosas.Utilizar vestuário, máscara e luvas adequadas para protecção; não fumar nem beber durante o trabalho;não utilizar doses excessivas de produtos de limpeza.Também se deve cuidar da proteção dos olhos e da pele.

Riscos biológicos:Nestes trabalhos é frequente o contacto com determinados agentes biológicos que podem causar doenças aos trabalhadores.Os espaços dos hospitais,empresas ligadas á pecuária ou abate de animais, clinicas,agroindústria são de especial risco.Deve existir avaliação periódica de riscos, muito especialmente na actual situação pandémica.Testes frequentes e vacinação são necessários e são da responsabilidade da entidade empregadora .É muito importante utilizar vestuário de trabalho ,luvas e máscara adequada.Devem existir condições para duche ao fim dos trabalhos e armário individual para guardar a roupa pessoal que deve estar protegida de qualquer contaminação.

Riscos psicossociais:Estes trabalhadores,em particular as trabalhadoras, estão frequentemente sujeitas ao assédio moral e sexual, ao stresse e á violencia.É importante que as empresas proporcionem bom ambiente de trabalho e promovam mecanismos para prevenir o assédio e a violencia, nomeadamente regras muito concretas sobre o relacionamento entre chefias e trabalhadores, código de conduta interno.É igualmente importante prevenir a fadiga e o esgotamento dos trabalhadores causados por longos horários e transportes extenuantes.Organizar devidamente o trabalho com pausas e alternancia de tarefas, tendo em conta as debilidades e idade de cada trabalhador.

Oas empresas devem ainda seguir o que está estipulado na lei 102/2009 quanto a seguro de acidentes, vigilância médica dos trabalhadores, prevenção das doenças cardiovasculares, diabetes e outras.

Muitas destas matérias podem ser, e algumas já estão, negociadas na contratação colectiva em particular  alguns dos riscos emergentes relacionados com a idade e com o género.

As trabalhadoras e trabalhadores podem sempre recorrrer ao seu sindicato e  á Autoridade para as Condições do Trabalho.

 Contactos da ACT :Os contactos da ACT devem ser os da Região onde a empresa tem o seu local de trabalho.VER

Contactos do STAD:

sábado, 24 de julho de 2021

NOVO QUADRO ESTRATÉGICO PARA A SEGURANÇA E SAÚDE DOS TRABALHADORES.POUCA AMBIÇÃO!

 A Comissão Europeia fala em ambição ao caracterizar o seu novo quadro estratégico para a Segurança e


  saúde no trabalho abrangendo os anos 2021-2027.Mas, numa primeira leitura não vejo onde esteja a ambição num documento que tem poucas propostas e compromissos concretos, dando a sensação de que nos próximos anos vamos ter alguma revisão de directivas e um ou duas iniciativas novas no campo legislativo.Depois, para além da retórica, existem propostas voluntárias , sugestões e alguns financiamentos.Será que a COVID 19 veio mesmo incentivar um novo caminho?

O novo documento assinala os êxitos limitados dos últimos anos, assume a  importância económica e social da segurança e saúde dos trabalhadores e passa para os Estados -membros uma porção significativa das medidas a implementar nos próximos tempos.Tem sido essa, aliás, a estratégia da Comissão neste milénio!

O principal êxito dos últimos anos situa-se na redução dos acidentes de trabalho mortais em 70% entre 1994 e 2018.No entanto, nesse ano ainda se registaram 3300 acidentes mortais e mais de 3 milhões de acidentes não mortais na UE.Mais de 200 mil trabalhadores morrem anualmente de doenças relacionadas com o trabalho.Estima-se que a  economia da UE perde mais de 400 mil milhões de euros com esta situação.

Sobre medidas concretas legislativas o documento da Comissão prevê modernizar,ou seja melhorar(?) a legislação relativa à digitalização com a revisão da Directiva «Locais de trabalho» e uma outra relativa aos «equipamentos dotados de visor» até 2023;propôr novos valor-limite para o amianto, chumbo e dio-isocianatos na Directiva «Agentes quimicos».

Quanto ao direito a desligar a Comissão assegura o seguimento da Resolução do Parlamento Europeu e remete para o quadro nacional e para o Acordo Europeu existente entre os parceiros sobre digitalização..

O documento tem ainda dezenas de sugestões ,orientações, proposta de estudos sobre as doenças profisionais e acidentes de trabalho, nomeadamente sobre o cancro e a saúde mental, assédio moral, as doenças músculo-esqueléticas e os riscos psicossociais.

Todavia, algumas destas preocupações arrastam-se ao longo dos anos em estudos, reuniões técnicas e sensibilização e pouco mais se adianta .É o caso das doenças musculo-esqueleticas que afecta milhões de trabalhadoras e trabalhadores europeus.Apesar dos esforços dos sindicatos mais uma vez a Comissão não tem prevista qualquer medida legislativa.

O mesmo acontece com as doenças profissionais cujo enquadramento  e melhoria dos sistemas fica para os respectivos Estados membros.Apenas se prevê a actualização da Recomendação da Comissão sobre doenças profissionais de modo a incluir a Covid 19 até 2022.Ora, esta questão, a notificação reconhecimento e tratamento das doenças profissionais é em muitos países um verdadeiro drama.Milhões de trabalhadores, em particular na agricultura e construção, continuam a trabalhar nos mesmos locais que os adoeceram!Portugal é um dos casos em que verdadeiramente o sistema precisa de uma grande reforma.

De assinalar também que a Comissão, embora afirmando que as alterações climáticas estão no centro da sua ação, apenas refere muito superficialmente a questão das consequências das mesmas no trabalho.Ora, a Confederação Europeia de Sindicatos tem reivindicado a necessidade de uma directiva sobre a prevenção e proteção dos trabalhadores que laboram em ambientes de altas/baixas temperaturas.

O mesmo se podia dizer no que respeita ao já velho discurso sobre a proteção dos trabalhadores mais idosos.Para quando medidas concretas ao nível de horários , segurança e saúde, vigilância médica, redução do tempo de trabalho etc..

Segurança e saúde dos trabalhadores é um direito fundamental

Mas também os riscos psicossociais relacionados com o trabalho ficam sem enquadramento específico.Nada previsto para além de guias, estudos e campanhas.No entanto, o stresse, o assédio  e o bounout proliferam nos locais de trabalho.É caso para perguntar se a Comissão Europeia anda tolhida por alguém.A saúde de quem trabalha não pode ser apenas um factor económico e de competitividade.Deve ser um direito fundamental dos trabalhadores!Continuam a prevalecer os interesses das empresas e da economia sobre a saúde dos trabalhadores.

Enfim, esperava mais, embora sabendo que a a situação não é propícia a grandes rasgos.É verdade que a melhoria das condições de trabalho depende muito da relação de forças em cada país e dos modelos de relações de trabalho vigentes.A maioria dos paises da UE não tem níveis dignos de segurança e saúde dos trabalhadores.Basta ouvir os sindicalistas da Bulgária, Hungria, Polónia Letónia, etc.Mas, nos países tradicionalmente mais progressistas como nos países nórdicos e Alemanha, para não falar na Espanha e na Itália, a situação degrada-se a olhos vistos.A luta pelo trabalho digno continua agora com a discussão e elaboração das estratégias nacionais.O contributo do movimento sindical será decisivo.Precisam-se medidas concretas!

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segunda-feira, 12 de julho de 2021

TRABALHAR A ALTAS TEMPERATURAS PODE SER FATAL!

 


Trabalhar exposto a altas temperaturas pode afectar gravemente a nossa saúde e levar inclusive ao colapso do nosso organismo.Por outro lado, a exposição por longos períodos aos raios solares pode criar lesões na pele e criar as condições para o cancro.

Por experiência própria muitos de nós sabe também que, para além dos riscos referidos, é muito incómodo e fatigante trabalhar com altas temperaturas.O rendimento nessa situação diminui substancialmente.

A Confederação Europeia de Sindicatos (CES) já exigiu uma directiva europeia para prevenir situações de risco decorrentes de altas e baixas temperaturas.As alterações climáticas elevam as temperaturas a mais de 40 graus positivos em várias regiões da Europa.Ora, as temperaturas adequadas para se trabalhar sem risco cómodamente estão entre os 19 a 22 graus.

Este é um problema de grande actualidade.Quando falamos de alterações climáticas é importante abordar a questão do trabalho a altas e baixas temperaturas em particular no exterior.Os sindicatos terão que incluir esta reivindicação em todo o mundo.Regiões como o Canadá e a Sibéria estão sujeitas a temperaturas de mais de 40 graus.

Os trablhadores do exterior, nomeadamente da agricultura, construção, pedreiras e pescas são os mais expostos a altas temperaturas.Os empregadores devem tomar as medidas adequadas   para prevenir os riscos, nomeadamente:

1.Organizar os horários de maneira a evitar as horas de mais calor, entre as 13 e as 15 horas.Reduzir o tempo de trabalho diário pode ter efeitos muito positivos.

2.Utilizar vestuário que nos proteja do sol em particular a cabeça;

3.Providenciar água em abundancia e evitar bebidas alcoólicas;

4.Fazer pausas periódicas preferencialmente á sombra;

5.Realizar os trabalhos mais pesados nas horas de menos calor.Nos dias maiores de verão é importante aproveitar as horas da madrugada/manhã.

Embora não tenhamos legislação específica nesta matéria  alguns sectores como o caso das minas e pedreiras, nomeadamente no decreto lei 162/90 encontra-se um artigo sobre os traballhos a altas temperaturas no interior das minas.Na construção temos a Portaria 101/96 que também tem um artigo genérico sobre a influência das condições atmosféricas na saúde dos trabalhadores.

Todavia, qualquer local de trabalho que coloque em risco a saúde dos trabalhadores obriga a que a respectiva entidade empregadora tome as medidas de prevenção e proteção da saúde dos mesmos.

    

quarta-feira, 7 de julho de 2021

OS BERARDOS,A JUSTIÇA E O SISTEMA

 

Nos últimos dias o País confrontou-se com a prisão do capitalista Joe Berardo, bem conhecido de


todos, em particular desde que  se comportou de forma incorrecta e provocatória na audição parlamentar.

Berardo não pretence aos ricos tradicionais, de grandes famílias da burguesia nacional reconfigurada com o 25 de Abril.Nasceu pobre e tornou-se rico, sendo fundamentalmente um capitalista que faz dinheiro com dinheiro, aproveitando as regras e buracos do sistema financeiro mundial e da legislação nacional.

Berardo tem a admiração de alguns e a aversão de muitos.A sua cara do bobo manhoso e as suas tiradas cómicas provocam o riso e a curiosidade.Ele pode ser o tipo ideal para a justiça se reabilitar dos sucessivos fracassos quanto aos processos de corrupção, compadrio e abuso do poder.

Mas, mesmo não acompanhando ponto por ponto este tipo de processos verificamos que os presumíveis grandes prevaricadores, coadjuvados por grandes advogados, se vão safando e a investigação do Ministério Público vê fugir-lhe entre as mãos os factos por serem refutados ou por prescrição.

Os ricos e poderosos minaram o regime nascido do 25 de Abril

Estes processos, que têm em geral grande mediatismo,não melhoram a imagem da justiça nem do sistema democrático.As pessoas ficam cada vez mais defraudadas e frustradas com o sistema juridico e naturalmente com o sistema democrático.

Em geral estes processos envolvem personalidades da banca, da política e dos negócios.São notórias as cumplicidades entre estas pessoas, as redes de compadrio e de mútuo benefício.Claramente centenas de pessoas tornaram-se ricas porque beneficiaram de vantagens nos negócios e na política.Os ricos e poderosos minaram o nosso sistema democrático e compraram muita gente que teve poder mas não tinha dinheiro.Mas este magno problema que corrói a democracia e nos conduz para a tirania fica resolvido com a prisão dos Berardos ou dos Salgados?Claro que não.

O nosso sistema jurídico, político e económico está organizado para dar poder aos grandes.As leis são elaboradas por juristas e advogados com influência nos partidos do poder .As grandes empresas têm a sua influência nos governantes ou em alguns membros dos governos.Uma parte significativa dos deputados estão no Parlamento para defender interesses privados e não para defender os eleitores.A legislação que enquadra os negócios, nomeadamente a legislação fiscal, serve para facilitar a ocultação e a não responsabilização do capitalista.Permite que os Berardos digam que são pobres e ao mesmo tempo teham milhões.A maioria da população nem imgina como muita da legislação neste sistema é pornográfica.

A impunidade tornou-se avassaladora

Mas esta situação não existe noutros países capitalistas?Todos os paises capitalistas têm regras e legislação favorável aos negócios como é evidente.Todavia,  em alguns países quem quebra as regras vai para a cadeia dando uma imagem á maioria da população de que existe justiça.O sistema é favorável aos negócios e poderosos mas tem maior transparencia, existe um maior cumprimento das regras.

No nosso pequeno País a impunidade tornou-se avassaladora.Existe a percepção  com fundamento de que os grandes podem fazer o que  muito bem entenderem.O nosso capitalismo, os ricos e homens de negócios acreditam que estão protegidos pelo compadrio e pela inoperancia do sistema judicial.

A esquerda tem a obrigação de alterar esta situação ou ,pelo menos, demarcar-se da mesma de forma mais clara.As organizações de trabalhadores devem urgentemente de se demarcarem claramente deste sistema exigindo alterações e reformas políticas .O capitalismo português está num pântano onde nos pode meter a todos.Para muitos portugueses os politicos são todos iguais, ou seja, corruptos.Este capitalismo vai conduzir-nos a uma ditadura.

 

 

terça-feira, 22 de junho de 2021

O REGIME DE ABRIL ESTÁ DOENTE? POIS ESTÁ....

 


A IIª  República Portuguesa corre riscos de se afundar?Todos os portugueses conscientes e politizados transportam consigo há muito esta interrogação.Existem sinais evidentes de erosão do regime nascido da Revolução de Abril.Que a nossa Constituição tem uma grande dimensão utópica?Claro que sim.Mas a maioria dos constituintes queria um regime durável e justo.Queriam liberdade e socialismo, participação popular, justiça social com mais igualdade e distribuição da riqueza.

O regime tinha e tem como coluna vertebrável o sistema partidário que envolveu muitos portugueses com ideais, com a febre da participação, de ter voz, de intervir na mudança das coisas.Aos poucos a maioria dos portugueses deixou de acreditar depois de ter votado nos grandes partidos moderados, chamados do centro, mais á direita, mais á esquerda (PS e PSD).Até hoje a maioria dessa grande maioria também não se deslocou nem mais para a esquerda , nem mais para a direita, absteve-se.Ao longo de décadas  de democracia viram de tudo, desde banqueiros e políticos corruptos até à absolvição dos poderosos,jovens das jotas ocuparem lugares na administração e empresas públicas sem credenciais e experiência,golpes baixos entre correlegionários dos partidos a golpes contra outros partidos, muita demagogia e tudo muito bem aproveitado pelos canais privados de televisão para animarem a revolta e a indignação dos portugueses.

Os portugueses viraram as costas à política

Os resultados desta situação é a abstenção com os portugueses a virarem as costas à política e o crescimento da extrema direita e a sua autonomização em partido para chegar de forma mais eficaz ao poder político.Isto significa que uma parte dos portugueses dos partidos do centro, e não só, se radicalizaram e querem mudar de regime, querem outra república, querem claramente uma ditadura mais ou menos musculada.

Mas perante esta situação tão óbvia os partidos políticos, em particular os de esquerda, estão a tomar medidas sólidas para dar a volta à situação?.Parece que não.Fecham-se em vez de se abrirem, tanto orgânica como ideológicamente,depois de erros políticos graves não se demitem, agudizam as lutas intestinas, não mudam de discurso para o actualizarem, apostam nos jovens quadros universitários das juventudes sem darem lugar a jovens trabalhadores com experiência sindical e associativa.Quantos sindicalistas têm o PS e o PSD na Direção?O diálogo social e a participação não passam de uma treta quando chegam ao governo.Ficam preocupados se fazem alguma  crítica a um grande  empresário mas podem estar meses sem falar com os dirigentes sindicais.

Banir o oportunismo,a corrupção e o carreirismo

Uma democracia não pode apenas contar com o voto periódico dos cidadãos.Um partido tem que cuidar de dinamizar a sua base social e de cuidar da formação dos seus quadros.Tem que banir com fimeza o oportunismo, a corupção e o carreirismo.

Ao tornar-se quase exclusivamente partidário o regime colocou uma grande carga nos partidos.Mas a responsabilidade é quase totalmente dos partidos políticos.Tudo fizeram para que uma minoria dentro dos partidos tivessem imenso poder.Poder de escolher deputados, dirigentes e governantes.Fora dos partidos os outros cidadãos foram-se desinteressando da vida política.Até na vida sindical quase não temos sindicalistas que não sejam militantes dos partidos.Cada vez mais os sindicatos em vez de organizações de massas ficarão departamentos partidários .Os partidos, em vez de organizações abertas e dinamizadoras da democracia ficarão pequenas e estioladas células em luta pelos poderes.

O futuro do regime de Abril pertence a todos os portugueses, a democracia e a liberdade é uma luta de todos.Mas, corremos o risco do regime se tornar odiado por uma larga maioria de portugueses!

 

segunda-feira, 7 de junho de 2021

A GESTÃO QUE MATA E A NOSSA SAÚDE!

 

Na mesma semana ocorreu a morte de um jovem sindicalista dos Call Centers, o Cerqueira, que


perdeu a vida com um enfarte aos 34 anos e a Fátima, uma funcionária do Agrupamento de Escolas do Monte da Caparica com pouco mais de 60 anos,morreu igualmente da mesma maneira.Estes e outros factos semelhantes ocorrem de vez em qundo com trabalhadores sem notícia nos jornais e televisões.Acontecem como factos banais a que a maioria dos portugueses não presta atenção.Em geral são raras as pessoas que associam este tipo de mortes ao trabalho.No entanto hoje, como ontem, as condições de trabalho influenciam a nossa saúde.

Estes óbitos são, todavia, a ponta do icebergue de um mundo laboral cada vez mais degradado, onde aumenta a precariedade, a ansiedade e o esgotamento devidos a políticas de gestão que visam a sistemática redução dos custos com pessoal para benefício dos investidores, dos acionistas enfim, do capital.É toda uma política laboral estruturada num único sentido que são os bolsos  de uma minoria cada vez mais rica.Montam esquemas terríveis de não transparência, impedindo os protestos do público consumidor e dos trabalhadores

.Nenhum consumidor ou trabalhador pode falar directamente com o «boss» destas grandes empresas;ninguém lhes pode ver a cara.Sómos atendidos por algoritmos e call centers onde os trabalhadores se assemelham  a operários do século XIX.Estes e outros trabalhadores de outros sectores como das grandes superficies ou de serviços de entrega ao domicílio, na agricultura intensiva, em serviços,em fábricas com moderno equipamento que não deixa respirar, com  ritmos e carga de trabalho intensa e a vigilancia e  horários extremos, sofrem na pele as chamadas novas formas de gestão que têm por base produzir muito com pouco, ou seja, com pouco dinheiro e poucos trabalhadores.

Esta filosofia é dominante nas empresas e até nos serviços públicos.Reduzem-se as equipas, descartam-se os menos resistentes e velozes e os que ganham mais;fazem-se turnos, horas suplementares não pagas, trabalha-se ao domingo a custo reduzido, precarizam-se os vínculos, deitam-se fora os mais velhos e empregam-se os mais novos definitivamente provisórios.O assédio moral,o cinismo e a não transparência são escolhidas como virtudes de um bom gestor.

Com a nova situação da pandemia algumas empresas já estão a fazer acordos de teletrabalho com cada um dos seus trabalhadores sem esperarem por mais legislação e sem enquadramente da negociação colectiva.O cinismo é tão grande que ainda dizem que os trabalhadores vão ter vantagens com o teletrabalho pois não terão custos de transporte.Esquecem os custos de internet, energia, água e outros consumíveis.´

E são muitos os trabalhadores que apenas olham para o curto prazo e para algumas vantagens sem atenderem às desvantagens.Não apenas as económicas mas também as psicológicas, familiares e de saúde.Mas não apenas estas, também as de que ficam isolados face à empresa, com contactos reduzidos com os companheiros de trabalho, sem defesa  e ação colectiva.Deixam o monstro entrar nas suas  casas e depois vai ser muito difícil expulsá-lo.

Esta é uma gestão que mata para fazer mais célere a concentração do capital, para fazer fluir o capital para as mãos dos hiper ricos e empobrecer cada vez mais quem trabalha.É a nossa saúde que está em causa, a nossa paz familiar, o nosso descanso.As universidades de gestão,algumas com a chancela de «católicas», são cada vez mais as escolas de ensinar a não humanidade no trabalho, o tornar o trabalhador num colaborador escravizado, um mero factor de produção.

Há que resistir a este tipo de filosofia da submissão e escravidão.Hoje, mais do que nunca, é necessário ter um sindicato, agir de forma organizada e colectiva.