sexta-feira, 25 de abril de 2025

TRABALHO E SAÚDE MENTAL- Continuamos a negligenciar a prevenção dos riscos psicossociais!

 

Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) entre um terço e


metade de prestações por invalidez são devidas a problemas de saúde mental. Entretanto a maioria das empresas e o próprio Estado negligenciam a promoção da segurança e saúde dos trabalhadores!Portugal mandou às urtigas, até agora a Estratégia Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho 2021-2027 decorrente da respetiva Estratégia Europeia!

 O desemprego tem taxas relativamente baixas ,mas a qualidade do mesmo não tem melhorado! Os acidentes de trabalho e as doenças profissionais estão a aumentar sem qualquer escândalo nacional! A Lista Nacional das Doenças Profissionais que há anos deveria ter sido atualizada continua em «banho de maria»! O que debatem os «parceiros sociais» no conselho consultivo da ACT ninguém sabe!

Entretanto, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) 970 milhões de pessoas sofrem transtornos mentais, ou seja, cerca de 11% da população mundial, afetando mais os pobres. Em Portugal, e segundo o Livro verde, 3 entre 5 trabalhadores sofrem stresse no trabalho!

Infelizmente, apenas 35% dos países dispõem de programas nacionais de prevenção e promoção para os trabalhadores, Governos gastam apenas 2,1% em saúde mental. A Organização Internacional do trabalho (OIT), entretanto, estimou que em cada ano se perdem 12 milhões de dias de trabalho devido à ansiedade e depressão.

Segundo os dados do Relatório Único em Portugal temos mais de 11 mil unidades empresariais onde os trabalhadores estão expostos a agressões. Em mais de 26 mil unidades os trabalhadores estão expostos a ritmos intensos de trabalho e a trabalho monótono e repetitivo. No entanto, em pouco mais de 54 mil unidades se faz a identificação dos riscos psicossociais num universo de quase 300 mil empresas existentes em Portugal!

Segundo aquele Relatório, que apresenta os dados fornecidos pelas empresas e de entrega obrigatória, teríamos mais de um milhão e oitocentos mil trabalhadores expostos aos riscos psicossociais sendo que apenas 113 mil teriam avaliação de riscos. Com mais de 800 mil ações de informação em segurança e saúde no trabalho realizadas em 2023 apenas 23 mil abordaram os riscos psicossociais!.

Urge investir muito mais na prevenção e promoção da saúde dos trabalhadores. É um investimento que tem forte retorno segundo cálculos de vários estudiosos. O Movimento Sindical tem que se preparar para ser um grande motor desta reivindicação fundamental!

Lembremos os milhões de trabalhadores que morreram no trabalho e por causa do trabalho!

terça-feira, 1 de abril de 2025

OS JOVENS E O SINDICALISMO ,ou para que quero eu um sindicato!!

 Imbuídos de uma enorme ingenuidade alguns jovens portugueses consideram o sindicalismo uma


«coisa» do passado, das gerações mais velhas dos pais e avós, sem qualquer utilidade para a vida. Um dia vão dar-se conta de que o sindicalismo foi uma das chaves para a melhoria de vida dos seus pais, melhoria que lhes permitiu inclusive dar um curso aos seus filhos. Razões históricas e sociológicas  estão na base deste pensamento, nomeadamente os conflitos sociais vividos pelos portugueses no último meio século em que o Movimento Sindical teve um papel central nas reivindicações sociais e económicas e também as impressionantes mudanças tecnológicas e políticas. Mas, nas primeiras décadas do século XX, na primeira República, os sindicatos tiveram um papel na melhoria das condições de vida do povo português. Foram os tempos do sindicalismo revolucionário, tempos em que a maioria dos trabalhadores era analfabeta e os sindicalistas autodidatas, aprendiam uns com os outros nos sindicatos e nas associações culturais e sociais. Com a ditadura de Salazar os sindicatos deixaram de ser livres, eram comandados e vigiados pelo Estado, deixando os trabalhadores nas mãos de patrões exploradores e sem escrúpulos.

A pouca formação e informação sindical da população portuguesa em geral, inclusive sobre a história do movimento social e operário, e o papel negativo que a escola e os media tiveram e contiuam a ter na imagem do sindicalismo e sindicalistas é um entrave e explica a fraca adesão aos sindicatos. Efetivamente muitos jovens não sabem como funciona e para que serve um sindicato e o papel que teve e ainda tem o Movimento Sindical na construção do nosso regime democrático e constitucional.

Todos precisamos de um sindicato

Temos assim um imenso campo de trabalho para demonstrar aos jovens portugueses a validade dos sindicatos no século XXI. Alguns pensam que apenas os trabalhadores pouco qualificados precisam do sindicato. Com poucas habilitações estes jovens não podem negociar individualmente as suas condições de trabalho. Mas os mais qualificados, engenheiros e doutores não precisam do sindicato. Não é verdade! Todos precisam do sindicato para melhorar o salário, as condições de trabalho e ter uma carreira digna! Mas pertencer a um sindicato é muito mais do que negociar e lutar por uma profissão e salário dignos. É ter a solidariedade do sindicato nas situações complicadas, o apoio jurídico quando necessário, a informação especializada sobre a empresa ou sobre o setor, oferta de formação e de serviços sociais. Organizados no sindicato temos a consciência de ter uma família, um coletivo do qual fazemos parte, um espaço de cidadania!

O sindicato não é apenas a direção que visita o local de trabalho ou o delegado sindical. O sindicato são os associados que se organizam sindicalmente-secção sindical-  e mobilizam todos os trabalhadores para lutarem por melhores salários e melhores condições de trabalho! Nós, o coletivo de sindicalizados, somos o sindicato que elegemos ou destituímos os nossos diretores e órgãos do sindicato. As grandes decisões e orientações devem ser tomadas nas assembleias de trabalhadores e de sindicalizados, verdadeiramente livres e não meros pro- formas, com todas as decisões já feitas pela direção. A falta de democracia e a burocracia matam a vida sindical. Alguns sindicatos já deixaram de ser sindicatos vivos, não passam de gabinetes jurídicos, com dirigentes que se perpetuam eternamente e que estão longe do trabalho profissional.

Para criticar há que entrar para os sindicatos...

Mas se não participarmos na vida sindical não temos capacidade para criticar aquilo que não conhecemos. Assim é fundamental entrarmos para os sindicatos e ali participarmos ativamente. Dizer simplesmente que o sindicato está partidarizado não basta! Há que libertar o sindicato da submissão a qualquer partido, grupo económico ou confissão religiosa! Tal não significa que para estarmos num sindicato tenhamos que abdicar de pertencer a um partido ou Igreja. Um sindicato é de todos e para todos os trabalhadores, quer sejam  deste ou daquele partido, ou sejam religiosos, agnósticos ou ateus. O sindicato, no entanto, deve ser autónomo e independente , guiar-se sob orientação exclusivamente dos seus associados e dirigentes, sem obedecer a estratégias exteriores