No dia 14 de Setembro de 1981 o Papa João Paulo II assinava
em Castel Gandolfo a Encíclica «Laborem Exercens» sobre o trabalho humano.
Nesse documento o Papa aborda diversos temas com destaque para o conflito entre
trabalho e capital, os direitos dos homens e mulheres no trabalho e a espiritualidade do
trabalho.
Muito do que se afirma nesta encíclica é da tradição cristã plasmada
na nossa cultura ocidental e muito particularmente no direito do trabalho dos
países democráticos, bem como na carta da 0IT! Nela se diz que o trabalho é um
bem do homem. «E não é só um bem «útil» ou de que se pode usufruir, mas é um
bem «digno», ou seja, que corresponde à dignidade do homem, um bem que exprime
e aumenta esta dignidade. Querendo determinar melhor o sentido ético do
trabalho, é indispensável ter diante dos olhos antes de mais nada esta verdade.
0Trabalho é um bem do homem-é um bem da sua humanidade-porque mediante o
trabalho, o homem não somente transforma a natureza, adaptando-a às suas
próprias necessidades mas realiza-se também a si mesmo como homem e até em
certo sentido, se «torna mais homem».
Um documento radical!
Muito se falou sobre esta encíclica e os contributos que a
mesma dá para a luta pelo trabalho digno em todo o mundo! A evolução no mundo
do trabalho foi de tal ordem que, como dizia um amigo meu, este documento quase
parece um manifesto radical! De facto é efectivamente radical! Há trinta anos
ainda se estava no início dessa mudança que pouco a pouco foi destruindo o
emprego estável e com direitos. Mudança facilitada, é verdade, pelo
extraordinário avanço das tecnologias e pela supremacia do capitalismo
financeiro e bolsista que exige precariedade e flexibilidade máxima, bem como a
rápida acumulação da riqueza. 0 próprio direito do trabalho sofre uma erosão
tremenda prevendo alguns o seu desaparecimento a prazo. O objectivo do mundo
dos negócios é tornar o contrato de trabalho igual a um contrato comercial o
que, na prática, acabariam os direitos do trabalhador, como parte objectivamente
mais fraca!
Trabalho não pode ser uma mercadoria!
Toda a concepção dos modernos gestores, alguns educados nas
universidades católicas, vai no sentido de coisificar o trabalhador, tornando-o
uma mercadoria! Tal filosofia gestionária contraria o sentido mais profundo da
dignidade do trabalhador enquanto pessoa com direitos mesmo antes de nascer!
Ao relermos esta encíclica constatamos que a Europa e o
ocidente em geral, não tem pela frente apenas o terrorismo e as mudanças
climáticas com as tragédias pavorosas inerentes. Temos também os constantes
atentados à dignidade do homem e, em particular, do homem trabalhador.
Hoje, mais do que nunca , são válidos e pertinentes os conselhos da «Laborem Exercens» quando diz:
«Para se realizar a justiça social nas diversas partes do mundo, nos vários
países e nas relações entre eles, é preciso que existam sempre novos movimentos
de solidariedade dos trabalhadores e com os trabalhadores. Tal solidariedade
deverá fazer sentir a sua presença onde a exijam a degradação social do
homem-sujeito do trabalho, a exploração dos trabalhadores e as zonas crescentes
de miséria e de fome….»0u seja, mais do que nunca são necessários os sindicatos
e outras organizações de trabalhadores para se defender a dignidade do trabalhador
que exclui radicalmente a exploração dos trabalhadores.Infelizmente a Igreja portuguesa tem sido muito tíbia nesta matéria!
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