- Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência!
Até aos meus 22 anos as coisas correram bem no trabalho. Gostava do que fazia apesar de chegar ao fim do dia muito cansada. Os clientes eram sempre diferentes, uns bem - humorados, outros a correrem sempre “stressados” e até com cara de poucos amigos. A todos eu atendia com rapidez merecendo elogios da minha encarregada.
Considerava-me uma empregada exemplar e merecia bem o dinheiro que ganhava.
Foi o ano passado que as coisas pioraram muito. O pessoal era o mesmo e os clientes estavam a aumentar graças a uma boa política de preços da nossa loja. Pouco a pouco comecei a sentir dores no corpo e em especial nas costas. Chegava a casa cada vez mais cansada e com dores por todo o lado. Para além das costas sentia que o ombro direito me doía e estava enfraquecido. Fazer alguns trabalhos domésticos era um sacrifício enorme e com o tempo até o simples acto de me pentear era custoso. Via no espelho o meu rosto, outrora risonho, cheio de sofrimento! As noites? Nem quero falar disso, porque eram uma tortura. Para evitar as dores dormia sempre para o mesmo lado!
Não podia continuar no silêncio, tinha que falar á encarregada sobre o problema que me corroía a vida. Não via mais ninguém queixar-se e pensava que era a minha pouca sorte, eu que era tão boa funcionária! Como é possível acontecer-me esta fraqueza?
Depois de entrar de baixa e do acompanhamento do médico do trabalho percebi que estava claramente a pensar que o problema era meu e por isso sentia uma certa culpa. As causas da minha situação estavam, afinal, no meu trabalho, em particular nas condições em que exercia as minhas tarefas na caixa da loja.
Mais adiante outras colegas revelaram também o seu segredo quando se começaram a queixar de sintomas parecidos com os meus. O sindicato tomou conta do caso e pediu estudos dos postos de trabalho.Para evitar que o número de operadoras de baixa aumentasse a loja contratou os serviços de um doutor com uma profissão que, para mim, era uma novidade -o ergonomista.
A nossa situação não melhorava mas dava para ver que não trabalhando a situação não piorava e as dores diminuíam um pouco. Voltando ao trabalho recomeçava o calvário já conhecido!
Após as entrevistas do ergonomista e do estudo que fez aos nossos postos de trabalho fizeram-se alterações muito importantes que melhoraram claramente não apenas a cadeira mas também o tapete e a posição da máquina registadora. Tivemos orientações para mudarmos de posição frequentemente, obtivemos licença para pequenas pausas e de não fazer sempre a mesma coisa. O truque foi melhorar o conforto do posto de trabalho e mudar, não estar sempre a fazer o mesmo.
No início receava-se que a loja viesse a ter problemas com estas novas maneiras de organizar o nosso trabalho. Pouco a pouco, porém, toda a gente verificou que se trabalhava melhor. Os problemas começaram a desaparecer e o médico acompanhava de perto os nossos progressos. Uma ou outra colega ainda realizava sessões de fisioterapia, mas toda a gente se dava conta dos progressos dos últimos meses. E foi assim que voltei a ter gosto pelo trabalho tanto na loja como em casa. Hoje, embora com cuidado faço tudo sem qualquer dor. Trabalhar em boas condições é fundamental para ter uma vida digna.
Margarida
3 comentários:
Entre a Casa e a Caixa. Retrato de Trabalhadoras na Grande Distribuição
Autores: Sofia Alexandra Cruz
Editora: Afrontamento
Ano publicação: 2003
Ano entrada: 2007-05-03
Número de páginas: 163
Temáticas:
» Sociologia
Amigo, Esta Socióloga, que foi minha professora na FLUP, trabalhou este tema na sua tese. Interessante.
Carolina
sindicatos operadores de caixa um idiota atras do balcao culpado e dilma imposto e iptu sbgusmao horario de brasilia
Idiota é você que não sabe valorizar o trabalho do próximo seu ingênuo sem estudo.
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