Portugal assumiu agora a Presidencia do Conselho da União Europeia.Num quadro
de pandemia tão complexo mais de metade das tarefas da União estão voltadas para a vacinação e o combate ao corona nas suas diversas variantes.Depois da tremenda crise de 2009 a 2015, em que a União quase naufragou e mostrou a sua pior cara com a Grécia e Portugal,parece que se aprendeu alguma coisa com os erros,embora também tenhamos indícios de que os grandes interesses económicos apenas estejam a dar um passo atrás para dar dois á frente na configuração de uma União moldada a seu gosto.
Por
um lado cresce em alguns Estados da UE a tentação autoritária, por outro o
exiguo orçamento comunitário para os próximos anos, e o debate á volta do mesmo,
demonstra pouca solidariedade e empenhamento comunitário.É verdade, porém, que
a chamada «bazuca financeira», arrancada a ferros, acaba por ser um certo paliativo
para uma crise social inédita que se avizinha.
O
Pilar Europeu dos Direitos Sociais
O
ambiente de crise pandémica e social é assim um contexto favorável aos
objectivos da Presidência Portuguesa.Objectivos sociais e de saúde,
nomeadamente de fazer aprovar um plano de ação para concretizar o chamado«Pilar
Europeu dos Direitos Sociais.É verdade que este governo assume a Presidência
com vários «tiros na asa» ou no pé como se queira.Isto porque é inegávelmente
um governo fraco sob ponto de vista político.Todavia, o seu orçamento para 2021
foi aprovado com a abstençaõ de alguns partidos da esquerda e contra dos
partidos da direita e do BE.
Claro
que o governo Português se deve esforçar para que alguns dos objectivos do
Pilar tenham concretização prática e signifiquem avanços e não recuos na
dimensão social da UE.
Numa
das suas primeiras manifestações em comunicado de 6 de janeiro sobre esta
questão a CGTP afirma que«O governo tem vindo a sublinhar que a
prioridade da Presidência Portuguesa é a área social e em particular a
aprovação do plano de implementação do chamado Pilar Europeu dos Direitos
Sociais, cujos propósitos a CGTP-IN tem denunciado, uma vez que socorrendo-se
de preocupações sociais, de facto aprofundam a afronta a competências nacionais
e a direitos consagrados na Constituição da República Portuguesa,
principalmente na negociação colectiva, nos salários e na legislação laboral,
com o objectivo de obstaculizar o aumento dos salários e nivelar por baixo
direitos laborais e outros direitos sociais.»
Portanto, para a CGTP todo o processo
do Pilar Europeu dos Direitos Sociais, considerado pela generalidade do
sindicalismo europeu uma oportunidade de ganhar direitos,será um engano, uma
fraude.Será um processo no qual a CGTP não irá participar?Irá certamente participar
pois tem sido essa a sua estratégia.Não vemos porém que a concretização do
Pilar obstaculize a negociação colectiva em Portugal e a evolução dos salários bem
como o nivelar por baixo os direitos sociais!
E acrescenta ainda a maior Central
Sindical Portuguesa«as opções de fundo defendidas pela CGTP-IN ganham, assim,
ainda maior actualidade e premência: a revogação do Pacto de Estabilidade, da
Governação Económica e do Tratado Orçamental; um plano efectivo para
salvaguardar e criar emprego com direitos e desenvolver a produção nacional; o
início de um processo de renegociação da dívida pública; a recuperação da
soberania monetária; a recuperação da soberania sobre o estabelecimento de
acordos comerciais internacionais; a eliminação dos paraísos fiscais; a
reversão dos tratados e das políticas da UE que coloquem em causa o direito ao
desenvolvimento soberano do País».
Podemos dizer, talvez sem faltar á
verdade que no fundo a CGTP não quer esta UE mas também não quer nehuma.
A luta por uma «Europa dos
Trabalhadores»
Ora,é verdade que na história da CGTP
a questão da CEE e, mais tarde da UE, nunca foi um assunto bem digerido pela
maioria dos quadros sindicais da corrente comunista.Embora de forma crítica
foram os sindicalistas socialistas e da BASE-FUT que primeiro debateram esta
temática e pediram a colaboração do sindicalismo europeu, nomeadamente da CES e
da CMT, para os ajudarem nesta questão.Estes sindicalistas, minoritários na
Central, foram vendo que o lugar da CGTP seria na CES e nas respectivas instituições
comunitárias de participação.A orientação geral era «lutar por uma Europa dos
trabalhadores».Tal significava a aceitação da integração comunitária de forma
crítica, ou seja,lutar pelos direitos dos trabalhadores, procurando alterar a
relação de forças que a partir da década de setenta foi sempre favorável ao capital.
É verdade que esta estratégia vingou mais pela força dos factos do que por
vontade da maioria comunista.
Todavia ,uma parte minoritária dos
sindicalistas comunistas aceitou na prática esta estratégia, juntando-se ao
sindicalismo europeu onde, aliás, já estavam centrais sindicais históricamente
próximas da CGTP como a CGT francesa e as Comissiones espanholas.O conjunto das
correntes sindicais na CGTP aceitaram em nome da unidade esta dialética, ou
seja, o projecto da UE também será fruto da luta dos trabalhadores europeus.Daí
a luta por uma «Europa Social» para que a UE não fosse um mero mercado
económico mas um espaço de progresso social, de aproximação de realidades
económicas profundamente desiguais.
Temos duas opções ou caminhos
É verdade que a evolução da UE com as
suas diferentes políticas económicas neo liberais, e o Euro, que afinal não
veio beneficiar tanto os trabalhadores como apregoavam,sobrevalorizou o
monetarismo e esqueceu a parte social,em particular na época Barroso.A globalização
do capitalismo com a evolução rápida das tecnologias de informação e
comunicação concentrou riqueza e aprofundou as desigualdades.É um facto em todo
o mundo e em Portugal.O Movimento Sindical tem sofrido com a precarização das
relações de trabalho e com a hostilidade de governos conservadores e sociais
democratas.
No entanto, apenas temos duas opções.Ou
lutar por um «portbréxit» ou lutar no quadro europeu, tendo em conta a actual
relação de forças.Uma saída à britanica parece-me difícil e pouco proveitosa não
apenas porque a maioria dos portugueses não está nessa linha, mas porque não
temos a posição geoestrategica nem económica do Reino Unido.E lutar não
significa dizer que tudo é obra do capital ou uma fraude.Lutar é entrar nos
processos e tentar que os mesmos favoreçam os trabalhadores.É procurar analisar
a realidade concreta e procurar a sua transformação concreta favorável aos
interesses dos trabalhadores.
Ora é obvio que a posição do
sindicalismo europeu, nomeadamente organizações sindicais como a CGT francesa,
não consideram a luta pelo alargamento concreto dos direitos sociais,
nomeadamente uma directiva sobre critérios justos para um salário mínimo seja
uma fraude que é preciso desmascarar!
A CGTP deveria aproveitar os próximos
meses para clarificar a sua estratégia europeia, sendo certo que a actual visão
foi básicamente aprovada no último congresso.É uma visão pouco clara e
ambígua!São bastantes os sindicalistas da Central que gostariam de uma evolução
neste capítulo.Tal evolução só poderá vir de um debate alargado e criativo.
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