quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

JORNADAS MUNDIAIS DA JUVENTUDE-Uma estratégia festivaleira?

 

Faltam seis meses para as Jornadas Mundiais da Juventude que , segundo os organizadores poderão


concentrar em Lisboa um milhão de jovens.

Embora acompanhando o evento de forma lateral, de fora do evento,como aliás muitos portugueses, não me é indiferente esta manifestação politico religiosa que mobiliza a Igreja Católica e a sociedade portuguesa, nomeadamente o governo, as autarquias e dioceses

Permitam-me, no entanto, algumas reflexões críticas.Não sobre o preço do palco altar, ou sobre os milhões que Lisboa vai gastar enquanto tantos imigrantes e desalojados vivem na rua desta cidade!Não deixam de me sensibilizar estas noticias, claro...e até deveriam ser informações a dar aos jovens que caminham para Lisboa.

Na preparação desta mobilização juvenil vejo pouca substância teológica e social e muitos actos simbólicos , alguns deles próprios de uma pastoral tradicionalista e pietista.As páginas do facebook e do site da organização das Jornadas manifestam um pietismo pre -concílio Vaticano II.

Os apelos à oração e os actos piedosos tradicionalistas que circulam pelas dioceses sobrepõem-se a uma reflexão e debate sobre a juventude e a sua situação social, os desafios do presente e do futuro como a guerra que assola a Europa, o custo de vida e as alterações climáticas.Que tipo de espiritualidade alimenta esta mobilização?É toda uma linguagem acomodada, burguesa, numa estratégia que tem um pé no modelo festivaleiro(ver caso do palco) e outro numa espiritualidade ritualista e pouco ou nada comprometida com a vida concreta.Parece que tudo se passa noutro mundo, que este evento paira sobre toda a realidade que vivemos.

As Jornadas correm assim o risco de pouco significarem ou contribuirem para uma pastoral juvenil actualizada e consistente que coloque os jovens como actores da comprensão e transformação da realidade social e eclesial em qiue vivem nos seus países.Estas Jornadas correm o risco de não serem mais do que um grande evento mediático, acrítico e festivaleiro, pleno de balões, cruzes e hossanas.

E viva o papa!A figura carismática de Francisco vai ser o centro, a estrela desses dias, certamente coloridos e bem vividos pelos milhares de jovens de todo o mundo.Será que os organizadores e alimentadores da iniciativa vivem neste mundo?Querem demonstar o quê?

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

O SINDICALISMO CONTINUA COMO GRANDE ESCOLA DE CIDADANIA!

 

A luta dos professores  é mais uma demonstração da utilidade do sindicalismo como instrumento de


defesa dos direitos dos trabalhadores mas também como escola de civismo e de dignidade!

Historicamente o sindicalismo e concretamente o Movimento Operário, veio fazer uma ruptura com a cultura dominante assitencialista na idade média e até no liberalismo até meados do século XIX.As corporações, as mútuas e  associações de socorros tinham uma cultura de solidariedade, de ajuda aos mais fracos, nomeadamente viuvas,sinistrados do trabalho e órfãos.Mas ainda não tinham gerado uma cultura reivindicativa e de autonomia.Eram associações de solidariedade,muito importantes numa época em que ainda não existiam sistemas de proteção e segurança social.

Essa cultura reivindicativa e de autonomia das classes trabalhadoras nasceu com as primeiras associações sindicais de classe animadas num primeiro período pelo Partido Socialista e, mais tarde ,pelos sindicalistas revolucionários e anarco sindicalistas e pelos comunistas a partir de 2019.

O Movimento social católico teve sempre muita dificuldade em aceitar a cultura reivindicativa e de  autonomia das classes trabalhadoras.Alimentou sempre uma cultura caritativa e de solidadriedade e, no trabalho, de colaboração de classes.Em Portugal apenas a partir das décadas de 50/60 do século XX  é que uma significativa parcela dos Movimentos operários católicos fez uma ruptura com a ditadura e com o sistema capitalista.O Centro de Cultura Operária (CCO) e o grupo BASE tiveram aí um papel decisivo.

Portanto, a cultura reivindicativa de direitos sociais e de cidadania, com origens na Comuna de Paris e na Associação Internacional de Trabalhadores, pertence ao Movimento Operário e Sindical.Esta questão é muito importante porque ainda hoje estas duas mentalidades  se confrontam no nosso País.A cultura reivindicativa é mais urbana e das organizações de trabalhadores ;a cultura caritativa e de solidariedade é mais rural e de influência da Igreja Católica e suas organizações.

Para a cultura cívica de reivindicação e de promoção e alargamento dos direitos políticos e sociais muito tem contribuído o sindicalismo.Os sindicatos, em particular quando dinamizam movimentos sociais de contestação e de defesa de direitos, são escolas de cidadania.«Também se ensina enquanto se luta»!Diria mais, é na ação concreta que melhor se aprende.Aprende-se  a ganhar autonomia e espirito crítico, a tomar a palavra, a ganhar confiança nas suas capacidades e do grupo, a liderar, a ouvir os outros e exprimir os seus anseios e pontos de vista.Treina-se a coragem psiquica e física,enfrenta-se o conflito e gere-se o diálogo e a relação de forças.

O sindicalismo não burocrático, de base, participado e autónomo é uma grande escola de civismo , de democracia de participação.Será que a sociedade democrática o reconhece?

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

COM ESTA BARAFUNDA AS DIREITAS QUEREM DERRUBAR O GOVERNO ANTES DO TEMPO...PORQUÊ?

 

Os últimos acontecimentos ocorridos no governo de maioria socialista deixaram-nos verdadeiramente


estupefactos e preocupados.Os casos sucessivos de demissão devidos a compadrios políticos, eventual corrupção e problemas com a justiça serão, porventura, a ponta do icebergue do que se passa nos últimos tempos, não apenas no governo, mas também no Estado, nas empresas públicas e nas autarquias.O governo parece efectivamente sem norte, acomodado e sem dinâmica.

As direitas políticas PSD,IL,Chega, agarraram com todas as mãos estes casos para desgastarem o governo socialista que elas julgavam durar por quatro anos, gerindo a pandemia , as causas da guerra e a famosa «bazuca».

As esquerdas ,BE e PCP, sentem-se por sua vez numa situação incómoda porque, embora acusando o governo de se empenhar em políticas de direita,não querem facilitar a onda direitista que claramente cavalga o momento mau do governo.

A direita está em recomposição?

Mas todos estes fenómenos que são o gaudio da comunicação social,que nestes dias teve mais do que Boas Festas,não são mais do que espuma de um rio subterrâneo que atravessa a nossa sociedade.

E que rio é esse?Trata-se do que ocorre nos grupos económicos portugueses com ligações às multinacionais e com expressão nos grandes partidos do governo ,PSD e PS, e alguns mais á direita, como o a Iniciativa Liberal,e Chega.Efectivamente a maioria dos interesses económicos portugueses apostam no Partido Socialista e no Partido Social Democrata.Todavia, hoje, existem sectores da burguesia nacional que estão a mudar  a sua aposta política.Daí que alguns polítólogos digam a que a direita está em recomposição.Alguns sectores dos interesses económicos apostam hoje menos no PSD e PS e querem um governo mais á direita com a integração numa aliança da direita incluindo a Iniciativa Liberal e o Chega.

Serão sectores importantes económicos que não foram abrangidos pelos dinheiros da «bazuca», sectores descontentes com as lideranças e linha política do PSD, descontentes com os sucessivos aumentos do salário mínimo promovidos pelo PS nos últimos anos.

Objectivo é derrubar o governo socialista

Estas direitas embora pretendam o mesmo, ou seja, o derrube da maioria socialista e eleições antecipadas, não estão de acordo quanto ao ritmo da luta e ao tempo desse derrube.Existem sectores que estão apressados,porque acreditam que quanto mais barafunda existir melhor para uma estratégia de destruição do regime.Acreditam que a situação lhes é favorável em todos os cenários.Acreditam que a maioria eleitoral do PS se pulverizaria em novas eleições.Cheiram o poder para breve e sonham já com o ouro!Existem outros sectores que consideram não ser ainda o momento de derrubar o governo,talvez em 2024,quando estiver claro por sondagens que o PSD ganharia esses eleições.

Embora senhores da maioria dos órgãos de comunicação e com um representante ministerial no governo e com a cumplicidade de António Costa na área laboral os interesses económicos querem mais do Estado, mais apoios financeiros, mais liberalização das leis laborais.Julgam que uma coligação de direita seria neste momento oportuna porque é bom desembaraçar-se do Partido Socialista.

Alguns aspectos da chamada «Agenda do Trabalho Digno»,apesar de já terem sido limados pelo governo ainda não são do agrado da maioria do patronato económico e de algumas multinacionais.

O Partido Socialista continua a dar uma no cravo e outra na ferradura na área laboral.A sua benevolência para com os interesses económicos não lhes vai trazer mais votos.É um partido que deve fazer uma limpeza política do oportunismo que abunda no seu seio.A raiva surda que existe em muitos dos seus militantes pode acabar pela desistência, pelo abandono do trabalho cívico e político.O actual governo está a danificar  muito profundamente a história do Partido Socialista.

Ao ver a actuação da oposição da direita e dos órgãos de comunicação nesta crise política, interrogo-me se efectivamente já não existem sectores da direita que querem enterrar o actual regime constitucional.Por outro lado, os casos de corrupção que aparecem na classe política ligada ao poder são um sinal claro de degenerescência do regime.