domingo, 10 de março de 2024

VIEMOS DE LONGE, DE MUITO LONGE....O DIFÍCIL CAMINHO DA UNIDADE SINDICAL!

 

Gritar e falar em unidade sindical é para algumas pessoas como falar da Santíssima Trindade.A fórmula é repetida milhares de vezes mas quanto mais se repete mais vazia de sentido fica.Todavia, a unidade


sindical tem sido dos temas mais importantes do Movimento Operário e Sindical ao longo da História, nomeadamente nestes cinquenta anos de democracia!

O XVº Congresso da CGTP,ocorrido nos dias 23 e 24 de fevereiro,no Seixal, fica marcado por um agudizar do conflito latente entre os sindicalistas do PCP e os sindicalistas das correntes minoritárias, em particular com os socialistas!Estes, após um duro debate na reunião para eleger os órgãos da Central,decidiram não participar na Comissão Executiva eleita.Esperamos que esta questão se resolva nos próximos meses pois a unidade nunca pode ser um problema mas é antes uma vantagem reforçando a base social do Movimento sindical, agregando e potenciando as diferentes sensibilidades político sindicais.

Para alguns sindicalistas a unidade sindical significa unitarismo, ou seja, todos pensam da mesma maneira e agem segundo uma cadeia hierárquica sindical rígida com as ordens e directrizes emanadas da cúpula e, em última análise, do partido político.A diversidade sindical para estes sindicalistas é sinónimo de descaracterização da organização.O próprio exercício democrátivo de votar propostas alternativas incomoda-os, sentem nesta prática não uma força mas uma fragilidade!

Penso que a unidade sindical é aceitar que os trabalhadores e sindicalistas, não pensando todos da mesma maneira, conseguem convergir no essencial para defenderem os seus interesses e direitos criando uma organização, cultura e discurso próprios.Uma organização que se solidifica no essencial e que tem amplas raízes nos locais de trabalho, está viva e não teme pontos de vista diversos sobre a avaliação político sindical e sobre a tática e estratégia!

Ora ,a CGTP é uma organização sindical de classe,ou seja, considera que os trabalhadores, na sua diversidade, têm interesses próprios e autónomos;é anticapitalista, ou seja, considera que esta economia mata,torna os ricos mais ricos,cria desigualdade e explora o trabalhador submetendo-o ao capital;conduz o planeta para o caos e destruição; há que lançar as bases de um outro modelo económico e social que sirva a emancipação dos trabalhadores e a inclusão de todos os cidadãos.Nestes aspetos essenciais convergem todas as sensibilidades sindicais da CGTP!Esta é a base essencial para uma Central unitária!

O Congresso de Todos os Sindicatos de 1977 criou essa base sólida para que maioria e minorias se pudessem entender! A CGTP histórica ,de Abril, é a casa mãe de comunistas ,sociais democratas,cristãos sociais e progressistas,anarquistas ,ecologistas e outros!Esta foi a herança das lutas contra a ditadura e o fascismo!Fugir deste trajeto é que será uma verdadeira descaracterização da CGTP-Intersindical Nacional,herdeira da CGT, criada em 1919, que coordenou e animou grandes lutas até ser perseguida e extinta com a ditadura.

A unidade sindical deve servir o processo transformador do mundo laboral e da sociedade sem dogmatismos.A Unidade sindical não é uma fórmula mágica que basta invocá-la para que se realize.Ela efectiva-se em primeiro plano nos locais de trabalho.O sindicato de massas pratica a unidade sindical para mobilizar todos os trabalhadores na defesa dos seus interesses e direitos independentemente das concepções religiosas, políticas ou filosóficas dos mesmos.Apenas desta maneira a unidade sindical pode ser um poderoso instrumento de mudança das relações laborais.

Todavia, a unidade sindical exige permanente trabalho de esclarecimento, formação e diálogo com os trabalhadores e entre os sindicalistas para se alcançarem as necessárias convergências, banindo a autosuficiência doutrinária, o sectarismo político e a burocracia paralizante.Exige que as minorias tenham a devida representatividade sem, no entanto, se estabeler o modelo de tendencia organizada.

Assim, a autonomia e unidade sindical, elementos essenciais do sindicalismo que defendemos podem levar as jovens gerações que nasceram depois da Revolução de Abril para uma mais forte adesão ao sindicalismo.

 

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

O TRABALHO AUSENTE DAS ELEIÇÕES?

 


Aproximam-se novas eleiçõs legislativas!Os partidos políticos apelam à participação de todos os cidadãos e alguns partidos de esquerda apelam ao voto dos trabalhadores!

Mas é importante questionar algumas práticas que já vislumbramos nesta pré campanha.A primeira, e mais importante, é que nos debates entretanto efectuados o trabalho não entrou como tema.É o grande ausente!Fala-se de economia, saúde,de fiscalidade, de pensões, de eutanásia, de governação, de juros, corrupção e de habitação!Não são importantes estes temas? Claro que sim!

Os debates televisivos não permitem grandes reflexões e, por vezes, os candidatos perdem-se no arremesso de flechas uns aos outros, de ataques ao carácter, ao passado de cada um.´Mas lamento vivamente se o trabalho continuar a ser o grande ausente.

Grande parte do nosso tempo, e da nossa vida no seu conjunto, é ou foi passada a trabalhar!Todos estão de acordo em que o trabalho enfrenta desafios muito importantes com as mudanças de fundo como a digitalização e as alterações climáticas!Trabalho de plataformas, teletrabalho, aumento da sinistralidade e das doenças profissionais,riscos psicossociais, sofrimento e instisfação no trabalho!Ninguém, mas ninguém mesmo , incluindo os partidos de esquerda têm abordado estes temas nestes primeiros debates!

Podem desculpar-se que os jornalistas não colocam questões relativas ao trabalho!Não pode ser desculpa.Para a esquerda o trabalho tem que continuar a ser um tema central,as condições de vida e trabalho terão que estar no coração das políticas e nos programas dos partidos de esquerda!

Tenho uma sensação estranha ao constatar que de tudo se fala menos do trabalho, sindicalismo e dos trabalhadores!Algo de grave, alguma amnésia, está a acontecer ao nosso país  e ao povo português!

Texto inicialmente publicado no site da BASE-FUT

www.basefut.pt

 

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

CONGRESSO DA CGTP-preocupações que são desafios!

 

A CGTP realiza o seu Congresso nos próximos dias 23 e 24 de fevereiro.Numa grande Assembleia,neste caso de sindicatos,a histórica central sindical portuguesa debate o trabalho realizado e aprovará as linhas de orientação político-sindical para os próximos quatro anos.Normalmente


refrescam-se também os órgãos dirigentes da Organização.

Embora este debate seja fundamentalmente dos sindicalistas da CGTP não podem outras pessoas ligadas ao trabalho deixar de falar neste evento que tem significado e importância para a sociedade portuguesa, nomeadamente partidos políticos e outras organizações de trabalhadores e movimentos sociais.

Lendo o projeto de programa de ação há apenas continuidade estratégica em todos os sentidos,ou seja, são apresentadas as mesmas receitas para os problemas que afectam a classe trabalhadora.Também é verdade que a maioria dos problemas são os mesmos ,alguns dos quais agravados!

Todavia, nos últimos quatro anos, atravessados por uma trágica pandemia , uma guerra na Europa e uma inflação histórica, houve mudanças sociais e culturais assinaláveis na sociedade portuguesa e em toda a Europa.Mudanças no trabalho e na realidade sócio-política com o crescimento das ideias conservadoras e de extrema direita.Este caldo cultural e político que emerge deve necessáriamente  preocupar os sindicalistas e responsáveis de organizações sociais e políticas.

Algumas preocupações e interrogações

Neste sentido avanço com algumas preocupações que não são apenas minhas:

1.Perante um capitalismo cada vez mais predador dos recursos naturais e dos trabalhadores não será necessário aprofundar a unidade sindical a nível nacional e internacional?Não será necessário um reforço das ações conjuntas envolvendo todas as organizações que defendam os direitos dos trabalhadores,independentemente da inspiração política das mesmas?Ações que também mostrem à sociedade portuguesa,aos cidadãos em geral, que os sindicatos se unem à volta de valores essenciais como a defesa dos trabalhadores e o aprofundamento da democracia?

A nível internacional não seria importante a filiação da CGTP na maior central sindical mundial, a Confederação Sindical Internacional(CSI,) aceitando o desafio de trabalhar com a maioria dos sindicatos sem ter como obstáculo a ideologia dos mesmos,mais ou menos social democrata?Tal não significaria abandonar a colaboração com outras organizações sindicais com as quais a CGTP se sente mais próxima.

2.Perante a erosão dos serviços públicos,nomeadamente da saúde e escola pública,perfilhando-se no seu horizonte o esvaziamento/mercantilização dos mesmos não seria de promover uma forte e ampla aliança sindical na base de um programa reivindicativo e mobilizador envolvendo utentes do sistema de saúde e encarregados de educação e que tivesse como objetivo apoiar o fortalecimento da escola pública e do SNS?Uma estratégia mais política do que corporativa que procurasse compatibilizar o trabalho digno,nomeadamente a defesa dos direitos dos trabalhadores, com o objetivo de fortalecer os serviços públicos?

3.Face às novas formas de trabalho,à individualização do contrato de trabalho,teletrabalho e desvalorização da negociação coletiva,bem como os desafios da inteligência artificial não seria importante  aprofundar o debate sobre como alargar a representatividade sindical,face à diminuição preocupante da sindicalização,como organizar os teletrabalhadores e outros trabalhadores  digitais?

Que experiências estão ocorrendo neste domínio nos vários países da Europa e como aproveitar também o saber e os estudos dos cientistas sociais e centros de investigação colaborantes?

4.A meu ver é também necessário repensar a estratégia sindical no setor dos transportes.As lutas neste setor, nomeadamente as greves,castigam particularmente os trabalhadores no ativo e mais pobres, apofundando cada vez mais a animosidade anti grevista em muitos cidadãos que pagam o seu passe e são muito mais prejudicados que as próprias empresas de transportes.As formas de luta devem ter em conta esta situação e a percepção dos cidadãos sobre as mesmas lutas.Não será necessário criar protestos e formas de luta que melhorem a confiança dos trabalhadores nos sindicatos e que os lesem o menos possível?

5. Finalmente uma última questão.Como mobilizar mais activamente os trabalhadores reformados no quadro do Movimento sindical.Mais do que organizar os reformados em organizações próprias nãos seria melhor organizá-los no quadro de cada sindicato?Hoje ser velho é um estigma e uma organização só de reformados não tem sido frutuosa em Portugal.Hoje os reformados têm mais anos de vida e novas competências que podem ser úteis aos seus sindicatos e não devem ser acantonados em organizações que só pensam nos problemas dos reformados.Hoje o salário e a reforma estão estreitamente ligados,bem como os preços, a inflação,etc.As próprias lutas nas empresas podem ter o apoio dos trabalhadores reformados.

Reforçar a CGTP como «Casa Comum»

6.Chegam ecos de que no interior da própria central também existiu o debate e o confronte entre correntes sindicais nos últimos anos ,debate que criou bloqueios, animosidades , com poucos contributos para a solidez e crescimento da Central e para uma efectiva unidade sindical do topo à base.Seria importante nos próximos tempos encontrar formas eficazes de diálogo e solidariedade reforçando a CGTP como «Casa Comum»!

Mais do que um poder ou um contra poder,utilizável sob ponto de vista político, os sindicatos devem ser organizações autónomas, abertas a todos os trabalhadores como organizações de massas que são, para defenderem os direitos e interesses de todos os trabalhadores.Trabalhadores com as suas diferentes convicções políticas,filiados ou não em partidos ou confissões religiosas!

terça-feira, 28 de novembro de 2023

OS VALORES DE ABRIL E A INFLUÊNCIA DOS INTERESSES ECONÓMICOS!

 

A demissão do governo de António Costa, suportado pelo Partido Socialista, e a dissolução da Assembleia da República colocaram novamente o país a caminho de eleições legislativas.Na base desta crise está a suspeição de corrupção de membros do actual governo.

.Existe todo o tipo de análises e tomadas de posição que vão desde a suspeita de golpe de estado para favorecer a direita,até à defesa de eleições, passando pela afirmação de que se poderia evitar esta crise porque não existem provas de factos por agora!

UGT e CGTP reagiram com cautela a esta situação de algum modo surpreendente e chocante.Pedem que a justiça  seja célere e que haja transparência na investigação.A maioria da população parece inclinar-se para eleições antecipadas e para a aprovação do OE.

Uma crise provocada pelos « donos disto tudo»?

O que actualmente se passa em Portugal é uma crise provocada pelos «donos disto tudo»!Uma crise que mais não é do que um rearranjo de poder que envolve as elites ou os estratos social e económicamente dominantes da sociedade portuguesa.O povo português viveu meses de  inflação e juros históricos altos e não se revoltou,nenhum facto grave divide os portugueses ou incendeia o seu animo.Apenas o grosso da comunicação social vai massacrando as gentes com suspeições, casos e casinhos...É verdade que o governo,  ia agitando a modorra nacional dando alimento à agenda mediática.

Segmentos importantes dos interesses económicos nacionais e internacionais não estavam a beneficiar da governação Costa/PS, discordavam da sua política relativamente aos dinheiros do PRR, ao salário mínimo, aos impostos , aos serviços públicos e ao investimento.Os sectores mais direitistas consideram este orçamento para 2024 muito distributivo e pouco amigo das empresas.Existem sectores do capital que se estão a inclinar para dar poder ao Chega e já trabalham para este objectivo há anos!Há nesta crise algum do capital revanchista e reacionário!

A situação nos próximos meses vai ser de campanha eleitoral e esperamos nós que se debatam ideias ,nomeadamente sobre os valores de Abril pois vamos celebrar os 50 anos do golpe dos capitães que deu origem a um processo revolucionário e a uma das constituições mais democráticas e progressistas da Europa!

Defender os valores de Abril

Neste quadro é muito importante defender os valores de Abril e a Constituição.Valores que eu considero de esquerda mas não me oponho a que alguma direita também os apadrinhe.Valores que o sindicalismo europeu e a BASE-FUT também defendem para a União Europeia,nomeadamente o direito a um trabalho digno com aumentos salariais justos, acabando com a política de baixos salários.Os patrões mostraram que o podem fazer quando falaram na hipótese de 15º mês;um trabalho seguro e saudável, promovendo, a negociação colectiva e a qualidade do trabalho e não apenas a quantidade do mesmo.

Mas os patrões e os partidos mais liberais apregoam também duas falácias ampliadas pelas televisões: que em Portugal se pagam muitos impostos e que por isso não se produz a riqueza necessária para se pagarem melhores salários!Quais as propostas deles?Que o Estado diminua a carga fiscal para o trabalhador ter mais rendimento,ou seja,o Estado que pague os aumentos!Que o Estado diminua a carga fscal das empresas para que estas possam ter mais riqueza para distribuir.Nunca falam em diminuir ou suspender  o pagamento aos acionistas e administradores. Ou seja, são todos muito liberais mas querem que o Estado faça o que  compete às empresas.

É o que se chama virar o bico ao prego.A verdade é diferente:em Portugal há pouca gente a pagar  impostos e não são as empresas e os empresários que mais pagam !Mais de 40% dos portugueses não tem rendimentos para pagar irs e quem paga são os trabalhadores que auferem salários acima do mínimo.Há semanas uma noticia de um semanário dava conta que o salário médio dos gestores e administradores das empresas declarado às finanças seria de pouco mais de 1600 euros mensais!Alguem acredita?Quanto rendimento se aufere nas empresas que não passa pelas declarações das finanças?

A inaceitável influência das grandes empresas na governação

Outra questão importante para debate eleitoral e político é a questão da influência dos grandes interesses nacionais e estrangeiros nos governos de Portugal e, de facto, nos governos de todo o mundo.Esta crise mostra mais uma vez que existem indicios de pressões de grandes empresas sobre o governo para agilizar procedimentos e fazer vingar investimentos.Estas pressões existem ao nível micro e macro,local e regional até ao continental.Mas nem todas as pressões são legitimas e transparentes.Algumas são inaceitáveis!

As grandes empresas utilizam diversos e poderosos instrumentos para «levarem a água ao seu moinho»!Não há nenhuma grande empresa europeia ou americana que não tenha um poderoso lobi em Bruxelas para influenciar as políticas da UE.Até onde será aceitável esta política?Quem governa afinal,ou quem manda nas nossas economias?

As formas de influenciar os poderes do lado das organizações de trabalhadores são transparentes:são as reivindicações,as greves, as manifestações,as reuniões com as entidades e governos para convencer,para pressionar à vista de todos.A força dos trabalhadores está na unidade,na democracia, na trasparência, na mobilização e solidariedade!

 

 

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

NOVA DIRETIVA EUROPEIA PARA OBRIGAR MULTINACIONAIS A RESPEITAREM DIREITOS HUMANOS?

 

Nos últimos anos tem havido um debate importante, nomeadamente na OIT e no


meio sindical ,sobre a necessidade imperiosa de estabelecer normas que obriguem as empresas, em particular as multinacionais, a respeitarem na sua actividade  os direitos ambientais e os direitos humanos fundamentais, incluindo a ação sindical e o direito a um ambiente de trabalho seguro e saudável.

Sabemos como tem sido difícil organizar um sindicato na Amazon ou na Google e na Raynair apenas para dar alguns exemplos.Basta ler os relatórios da Confederação Sindical internacional para ver os inúmeros atentados ao direito de greve e ação sindical em muitas empresas multinacionais!

Recentes Declarações e Resoluções da OIT falam em trabalho digno e defesa dos direitos fundamentais do trabalho mas é necessário ir mais longe,porque existem empresas que espezinham os direitos das pessoas e funcionam como se tal comportamento indigno fosse o mais natural deste mundo!

Os sindicatos mundiais, com destaque para a Confederação Sindical Internacional (CSI) e para a Confederação Europeia de Sindicatos (CES) têm pressionado as instâncias europeias e internacionais para que se aprovem normas concretas para que as empresas multinacionais respeitem os direitos dos trabalhadores em qualquer parte do mundo, seja na Europa, no Vietname ou Singapura.

Parlamento Europeu pretende que nova Directiva tenha disposições imperativas

Fruto desse debate e dessas pressões  o Parlamento Europeu aprovou em março de 2021 uma Resolução sobre esta matéria recomendando à Comissão Europeia a adopção de uma Directiva sobre dever de diligência das empresas e responsabilidade empresarial.

Dois pontos são significativos na referida Resolução do Parlamento Europeu:

9.  Salienta que, muitas vezes, as vítimas de efeitos negativos relacionados com a atividade empresarial não são suficientemente protegidas pelo direito do país em que os danos foram causados; considera, a este respeito, que as disposições pertinentes da futura diretiva deverão ser consideradas disposições imperativas, nos termos do artigo 16.º do Regulamento (CE) n.º 864/2007 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 11 de julho de 2007, relativo à lei aplicável às obrigações extracontratuais (Roma II)(38);

30.  Insta a Comissão a propor um mandato de negociação para que a União participe de forma construtiva na negociação de um instrumento internacional juridicamente vinculativo das Nações Unidas para regulamentar, no direito internacional em matéria de direitos humanos, as atividades de empresas transnacionais e de outro tipo de empresas;

 

Entretanto, em fevereiro de 2022, o projecto de Directiva da Comissão que veio à luz do dia, não satisfaz de modo algum os sindicatos, nomeadamente a CES, dado que aponta para mínimos com pouca eficácia , não dando garantias suficientes dos direitos e participação dos sindicatos.

Projecto de Directiva não satisfaz sindicatos

«Apesar de alguns elementos interessantes o projecto está longe de responder às necessidades de proteção dos direitos humanos e do ambiente.»-diz a CES no preâmbulo da Petição que lançou online recentemente.Ou seja, se a Directiva ficar como foi apresentada pela Comissão Europeia não teremos garantias de que as grandes empresas não continuem a violar os direitos humanos e o ambiente.

Os sindicatos consideram que os direitos dos trabalhadores e dos sindicatos são direitos humanos e devem ser respeitados pelas empresas.

A futura Directiva deve ainda adoptar mecanismos obrigatórios e eficazes de diligência razoável cobrindo as actividades das empresas e relações de negócio, incluindo as cadeias de aprovisionamento e de subcontratação.

Vamos ver como fica o texto final da Directiva.A pedra de toque será se o direito comunitário estabelece disposições imperativas que obriguem as grandes empresas multinacionais a respeitarem os direitos humanos, nomeadamente o direito fundamental à segurança e saúde dos trabalhadores.

terça-feira, 10 de outubro de 2023

VINDIMAS! A Ermelinda vai deitando contas à vida!

 

Da minha janela vejo a Ermelinda ainda de madrugada a correr pelo caminho do


tanque.Leva nos braços cansados o seu bebé que vai deixar na casa da vizinha e abalar para mais um dia de trabalho.Que bebé tão caladinho, não chora, agora arrancado do berço,ainda vai dormindo.

Há mais de um mês que a Ermelinda vai para as vindimas em S.João da Pesqueira.Ela pensa mais uma vez em fazer mil euros nesta época, uma ajuda preciosa para, com o abono do seu menino, enfrentar da melhor maneira o inverno que não está longe.Um mês interminável de calor e chuva, com o rosto curtido pelo sol abrasador, os pulsos a doerem da tesoura e as costas num calvário que nem a cama acalma.Milhares de videiras estão prontas para que lhe cortem os cachos pelas encostas ingremes e cascalhentas, os dias seguindo-se uns a seguir aos outros, intercalados por noites agora mais frescas e longas.

Corre Ermelinda que a carrinha do empreiteiro já estacionou no largo da Igreja e espera pelo grupo de trabalhadores para seguir viagem.Tens tempo de fazer contas à vida quando acabarem as vindimas e receberes os euros tão desejados das mãos do empreiteiro.Este pelo menos não te vigariza ,paga a segurança social e o seguro.Uma mulher sozinha e com um filho nos braços é fácil de enganar, quanto mais fracos sómos mais enganados e humilhados.Foste enganada para toda a vida quando o pai do teu menino abalou para o estrangeiro sem dizer água vai nem água vem.

Corre Ermelinda, corre! A carrinha do empreiteiro corre agora veloz pelas estradas serpenteadas do Douro enquanto a madrugada difusa dá lugar ao sol radioso que nasce de Espanha.São dez ao todo os que se amontoam na carrinha com os sacos e marmitas com as buchas do dia, esperando que o vinho não falte para empurrar a comida feita na véspera.O silencio impera, apenas se ouve o ruído do motor e do chassis protestando pela curvas de carrocel.Alguns ainda saboreiam os últimos bocados de sono,deixando embalar os corpos castigados.As quintas vinhateiras de patrões sem rosto e os barcos turisticos emergem serenos da neblina matinal.A Ermelinda vai deitando contas á vida e pensa no seu menino que ficou lá longe e só o verá á noite.Ai vida, vida!Ai Douro, Douro!

 

Dedicado a todas as mulheres trabalhadoras do Douro

 

 

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

DIA INTERNACIONAL DO TRABALHO DIGNO! o burnout que nos mata.....

 A data de sete de outubro é o Dia Internacional do Trabalho Digno comemorado pelas Organizações de Trabalhadores! A BASE-FUT e as centrais sindicais têm como objectivo central a promoção do Trabalho Digno,ou seja com direitos sociais, tendo em conta o a dignidade da pessoa !

Embora na Europa, e em alguns outros países do mundo, exista uma preocupação pela promoção do


trabalho digno a realidade mostra-nos que a economia capitalista actual continua não apenas a gerar condições de trabalho com riscos tradicionais como os acidentes de trabalho e doenças profissionais, como a surdez ou o cancro profissional, como ainda agravou  patologias como o burnout com origem nas formas de organização e gestão do trabalho próprias da intensificação do trabalho e da utilização das novas tecnologias em benefício dos acionistas.

Carga excessiva de trabalho como causa fundametal

Os dados estatisticos não enganam.Basta consultar informações da OIT ou da Agência Europeia para a Segurança e Sáude no Trabalho.Basta consultar estudos sobre professores, trabalhadores bancários,pilotos e até gestores!Estes bebem frequentemente do seu veneno!Mas também existe burnout em operários e trabalhadores independentes!

Numa pesquisa internacional recente, da consultoraTalkspace Employee Stress Chek o Burnout aparece como o segundo motivo de insatifação no trabalho (51%) depois do salário(57%).Um trabalho do ETUI,Instituto Sindical Europeu, revela que 4 em 5 quadros enfrentam problemas de stresse ligado ao trabalho.Outro estudo da Universidade  Católica  de Luvaina (Bélgica) junto de 5000 trabalhadores revela que 18% deles estavam em risco de esgotamento.Em causa estavam as directrizes contraditórias e uma carga de trabalho muito elevada!

Origem do burnout

Sendo hoje muito utilizada,a palavra inglesa burnout significa uma perturbação psíquica que se caracteriza pelo esgotamento físico e mental da pessoa.Essa perturbação desenvolve-se em geral pela acumulação de stresse no trabalho e por um ambiente agressivo e pouco amigo.Ou seja, uma dedicação excessiva à vida profissional, sem descanso, sem férias ,sem alternar o seu trabalho com outras actividades.Esta dedicação excessiva pode ser por vontade própria ou pelas solicitações e obrigações impostas pela entidade patronal.

Esta perturbação foi descrita pela primeira vez pelo psicólogo alemão Herbert Freudemberger.É considerada uma doença profissional pela Organização Mundial de Saúde.Segundo a legislação portuguesa os empregadores devem avaliar os riscos e tomar medidas adequadas de prevenção.

Determinados sectores da economia mundial, altamente competitiva, e uma gestão desumana de muitas empresas, conduzem milhares de trabalhadores a situações de esgotamento com graves consequências para a saúde e para a vida familiar.

Qualquer pessoa que tenha muita actividade e pressão deve estar alertada para alguns sinais como a exaustão e esvaziamento emocional, desgaste da empatia;desvalorizção de tudo o que se relaciona com o seu trabalho; aumento da desmotivação; fadiga, dores musculares, dores de cabeça, alterações do sono e níveis de tensão arterial;Sentir uma insatisafação geral com a vida;perda do sentido do trabalho;sentir que as relações com os familiares e amigos estão a piorar.

Factores que podem agravar a situação

Lembramos que existem factores que podem agravar a situação com destaque para a carga de trabalho superior á sua capacidade de resposta;pouca ou nenhuma autonomia e controlo sobre as suas tarefas e a organização do trabalho;estar responsável por tarefas perigosas ou de grande exigência emocional; dificuldades em conciliar a vida familiar e profissional.

Sabemos que o burnout afecta em especial profissões com grande carga física e pressão emocional como é o caso dos profissionais de sáude, professores, alguns profissionais da aviação, gestores e alguns sectores operários.

Os sistemas de avaliação competitivos e discriminatórios são também um poderoso factor de burnout.A destruição dos colectivos e da solidariedade entre trabalhadores agravou as condições propícias para o burnout.

O burnout não se vence sozinho

Por medo ou por pudor alguns trabalhadores não falam da sua situção de burnout como não falam de outras doenças!Medo de perder o emprego,medo de mostrar vulnerabilidades aos chefes e colegas com quem estão em competição por prémios de mérito ou de progressão na carreira.

As dicas e propostas individuais para vencer o burnout não são suficientes.Não basta fazer desporto ou  yoga e comer de forma vegetariana!Não basta mudar a vida pessoal!Há que mudar as condições de organização do trabalho,ou seja, há que mudar o que está mal no local de trabalho!A raiz do burnout existente numa empresa está frequentemente relacionado com as formas de gestão tóxicas existentes,no ambiente de trabalho doentio!

Realisticamente os serviços de recursos humanos e de segurança e saúde no trabalho não são suficientes e competentes para prevenir e acompanhar estas situações.Os primeiros porque estão a defender os interesses do patrão e os segundos porque, na sua generalidade ,são externos  e com a missão de apenas cumprir as normas legais.

A existência da estrutura sindical torna-se imperiosa

Neste  quadro é muito importante  a existência de uma estrutura sindical competente e reivindicativa capaz de colocar a prevenção dos riscos físicos e psicológicos no centro da sua ação sindical e confronte a gestão e os serviços da empresa não apenas com as carências neste capítulo , mas também com as práticas geradoras de doença no trabalho!

Digamos assim que a organização sindical é uma das condições de saúde nos locais de trabalho.O sindicato por um lado confronta e chama a atenção da gestão para a perversão de algumas práticas de discriminação ,competição e intensificação do trabalho  que geram doença e, por outro, mobiliza os trabalhadores para a criação de um ambiente preventivo  solidário.

Fontes:ETUI,OSHA,Seminários e grupos de trabalho EZA