sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

EXISTE TOLERÂNCIA ESCANDALOSA FACE AOS RISCOS PROFISSIONAIS!

 

 No último post afirmámos que a desvalorização do trabalho no capitalismo é uma estratégia que visa o aumento dos lucros e a diminuição dos custos.Uma das dimensões desta desvalorização passa pela


reduzida importância que a maioria das empresas dá à promoção da segurança e saúde dos trabalhadores,ao seu bem estar físico e mental.

Nas últimas décadas aumentaram em alguns países os riscos tradicionais refleltindo-se não apenas  no aumento dos acidentes de trabalho e nas lesões músculo-esqueléticas mas também progrediram com maior visibilidade os riscos psicossociais,com doenças como a depressão, a ansidedade e o bournout/esgotamento.

O stresse laboral tornou-se um dos maiores riscos para os trabalhadores de vários setores.Segundo dados recentes afeta dois em cada cinco trabalhadores portugueses podendo provocar várias doenças cardio-vasculares, digestivas e mentais.

Vivemos numa cultura de grande tolerância patronal e das autoridades públicas face aos risco e até mesmo ao acidente de trabalho.Uma tolerância escandalosa com a negligência de gestores de empresas privadas e públicas.Os tribunais quase sempre absolvem os réus dos acidentes de trabalho!

Confortados com a aplicação formal da lei um largo número de empresas cumpre os mínimos obrigatórios ou cumpre apenas no papel!Aí não existe avaliação de riscos competente e participada,fazendo um mero contrato com uma empresa externa prestadora de serviços de segurança ou/e de saúde.

A falta de formação de empresários e trabalhadores permite que se subavalie o risco e se não priorize o investimento em segurança e saúde.Desculpam-se com o facto de que os trabalhadores não querem usar a proteção individual e que não valorizam as medidas de segurança.

Trabalhadores devem participar na promoção da segurança e saúde no trabalho

A  valorização da participação dos trabalhadores na avaliação de riscos é fundamental para se caminhar para uma cultura empresarial de prevenção e de promoção da saúde e bem estar no trabalho.

Os trabalhadores ao participarem no processo de identificação e avaliação de riscos vão tomando consciencia da sua real situação e quais as  ameças que porventura se escondem nos processos, equipamentos e organização do trabalho.É um processo técnico e político por mais que o queiram apenas técnico e neutral.Não é meramente técnico e neutral pois tem muito de político.Os trabalhadores analisam os riscos que existem numa determinada empresa e local de trabalho,tomam consciencia das relações laborais, das opções tecnológias e organizativas dos gestores e administradores!Com esta participção crítica os trabalhadores vão melhorando a sua percepção dos riscos, vão ganhando competências  técnicas e políticas!Este deve ser um dos objetivos da estratégia sindical de avaliação de riscos.O pouco empenhamento da gestão está relacionado com o receio de que os trabalhadores se tornem exigentes e críticos em demasia!

Sem participação dos trabalhadores e sua consciencialização  a segurança e saúde será alheia aos mesmos,sera uma imposição de cima, dos chefes, mais uma imposição,regras a respeitar e a transgredir!Voltaremos mais adiante a esta questão.

 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

QUE VIDA É ESTA,AMIGO ou quem lucra com a desvalorização do trabalho!

 Um dos aspetos mais relevantes da ideologia do capitalismo é, na opinião de muitos,a desvalorização do trabalho,tornando o trabalhador um objeto descartável e uma «não pessoa».Diria mesmo que esta dmensão do capitalismo o torna semelhante ao esclavagismo.

Na busca do máximo lucro capitalismo desenvolveu uma estratégia de precarização que, levada ao extremo,anula os direitos sociais e humanos dos trabalhadores tornando-os em objectos progressivamente substituíveis por máquinas ou por elas controlados.

A idelogia gestionária que cresce e se alimenta em inúmeras revistas e universidades divulga manuais, artigos e outros documentos que falam na felicidade dos trabalhadores na gíria deles  os«colaboradores».Falam muito do saudável ambiente de trabalho, da importância do bem estar no trabalho , de que as novas gerações são muito sensíveis às condições de trabalho e à autonomia.

O objetivo é retirar o maior rendimento dos trabalhadores

No entanto a pespetiva destes gestionários ao serviço dos acionistas é quase sempre numa perspetiva economiscista, de retirar o melhor rendimento dos trabalhadores!Melhorar a produtividade e, sendo necessário, mandam os direitos às urtigas.Introduzem as novas tecnologias dizendo que é para facilitar a vida dos colaboradores mas estes confrontam-se com novas máquinas ditas inteligentes que retiram a autonomia e aumentam a intensificação do trabalho! Acontece com a integração da Inteligência artificial,algoritmos e robots nomeadamente, para melhor vigiarem a rentabilidade do trabalho e o próprio trabalhador.

Cresce em alguns setores o stresse crónico, o assédio e o bournout.Ouvimos e lemos várias estatisticas,inquéritos e estudos com destaque para as Agências europeisas e OIT;notícias e reportagens nos media revelando que alguns lugares como a universidade e o desporto afinal são antros de assédio moral e sexual!

Ouvimos trabalhadores de grandes multinacionais queixarem-se dos ritmos de trabalho, da produção por turnos de noite e dia,da rotação do pessoal, da confusão de papéis e funções, de chefias que exigem objetivos pouco realistas!

Ouvimos trabalhadores dos serviços públicos com cinquenta anos a suspirarem pela reforma, dada a confusão e desvalorização das carreiras, dos concursos que não se fazem, de avaliações surreais!

Podemos concluir que nas últimas décadas ocorre uma monumental desvalorização do trabalho e dos trabalhadores como estratégia empresarial para reduzir os custos e aumentar os lucros,para reduzir os custos com pessoal no serviços públicos!A introdução da gestão privada, como ideologia, nos serviços públicos lançou a confusão e criou mais complexidade numa estrutura do estado que tem duzentos anos!

Nessa desvalorização organizada como estratégia e como ideologia encontramos como elemento importante-  a não valorização e o não investimento na promoção da segurança e saúde dos trabalhadores de que falaremos noutra ocasião

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

LIVRO VERDE para debater futuro da segurança e saúde no trabalho que passa por um tempo de marasmo!

 

Finalmente, e após apreciação dos Parceiros Sociais,foi publicado o Livro Verde sobre o futuro da


segurança e saúde no trabalho elaborado por um conjunto de peritos que trabalham ou investigam estas matérias.A sociedade, nomeadamente as organizações e investigadores podem dar contributos até 15 de janeiro de 2025.Não vejo porém grande dinamica de divulgação e estimulo por parte das entidades públicas e privadas

Após anos de inércia neste campo ou de rame rame aparece agora esta publicação de 226 páginas que mais não é do que uma súmula de artigos dos vários peritos onde nem as repetições que fazem se evitam para não maçar o leitor e melhor divulgar a mensagem.

Verdadeiramente o Livro Verde não comporta novidade alguma para quem trabalha nesta área.Poderão dizer que não é esse o objetivo deste tipo de documento, sendo muito mais o de fazer o ponto da situação e promover a reflexão sobre uma matéria!Certo!No entanto, mesmo sob este ponto de vista a reflexão e informação prestada não é de especial qualidade!E as conclusões ou recomendações são demasiadas e pouco arrojadas.

Algumas das importantes lacunas existentes no documento estão relacionadas com o facto de que na Comissão de elaboração do Livro Verde não estarem representantes das centrais sindicais.A ministra socialista Ana Mendes Godinho não achou pertinente incluir sindicalistas ou técnicos sindicais para contribuirem para este Livro Verde!Uma ausência lamentável e que deveria ser contestada na altura.Mais tarde,já nas instâncias de concertação os sindicatos puderam dar a sua opinião.Será que melhorou o documento?

São notórias as lacunas do documento sobre o papel real dos representantes dos trabalhadores,sobre a participação dos trabalhadores na promoção da segurança e saúde,sobre as propostas sindicais nacionais e europeias em matéria de prevenção e proteção.Porém, no documento é referido que foram ouvidas várias organizações e instituições.Mas não se vislumbram as propostas sindicais nem é referida a importância destas nesta matéria.

Esta ausência tem impacto nas recomendações finais dos peritos que nada propõem em termos de normativo europeu e nacional , nomeadamente no campo dos riscos do amianto que tarda a ser removido nos edifícios públicos e nas empresas,no domínio das musculo-esqueléticas e dos riscos psicossociais.Onde está, por exemplo, a proposta de legislação sobre a prevenção do stresse laboral e das músculo-esqueléticas?

Existem estudos sobre o impacto do bournout e assédio em alguns setores e não existem propostas audazes nestas matérias para estimular o debate.Numa altura em que aparecem noticias que uma larga percentagem de professores e pessoal de saúde estão com stresse crónico ou em bournout.O bournout e a depressão e doenças relacionadas devem ser devidamente incluidas na Lista das Doenças Profissionais que está para ser atualizada há anos!

É também de lamentar que neste marasmo que atravessa a promoção da segurança e saúde dos trabalhadores o Movimento Sindical raramente tenha uma palavra sobre esta questão e não atualize as suas reivindicações.

A BASE-FUT entretanto coordena um Grupo de Trabalho Internacional sobre esta matéria, de que faço parte.Um projeto que tem o apoio do Centro Europeu para os Assuntos dos Trabalhadores (EZA) e da Comissão Europeia.

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

A SEGURANÇA E SAÚDE DOS TRABALHADORES COMO DIREITO FUNDAMENTAL!

 

Creio que tem interesse resumir aqui algumas das preocupações dos participantes da primeira reunião


do Grupo de Trabalho internacional sobre segurança e saúde no trabalho como direito fundamental(1),realizada em Sines,no passado dia 8 de novembro e coordenado por mim e outros companheiros do Centro de Formação da BASE-FUT.O tema tem nova atualidade com a recente publicação em Portugal do LIVRO VERDE sobre esta matéria.Livro Verde que infelizmente parece com pouco eco na sociedade.Talvez até por causa das poucas novidades que encerra em termos de futuro!

Foi pedido aos participantes do Grupo de Trabalho para realçarem as suas principais preocupações e pontos críticos  no seu país em matéria de segurança e saúde dos trabalhadores. Das intervenções havidas podemos organizar os seguintes blocos de constatações, preocupações e até já de algumas propostas a desenvolver em próximas reuniões:

Acidentes de trabalho e doenças profissionais / Efectivação e actualização da legislação.

Sente-se a necessidade de harmonizar e melhorar as estatisticas sobre os acidentes de trabalho e doenças profissionais. Estatísticas fiáveis e comparáveis são necessárias como instrumento de trabalho para sabermos a evolução das taxas de sinistralidade e de doenças profissionais e adequar as medidas de prevenção e proteção;

O núcleo normativo fundamental do sistema europeu de prevenção de riscos profissionais (Directiva 89/391/CE), criado há mais de trinta anos, exige atualização em vários aspectos tendo em conta a evolução do trabalho, com destaque para os desafios da digitalização, automação e alterações climáticas.

Por outro lado, a efetivação da legislação, embora variando de país para país, enfrenta muita dificuldade no terreno, com particular acuidade nas pequenas e médias empresas que são o grosso do tecido empresarial europeu, bem como em alguns setores como a agricultura e construção onde predomina o trabalho dos imigrantes. Foi apresentado o caso do amianto que é das causas mais importantes de morte profissional e que em muitos países, nomeadamente em Portugal, ou não se aplica a legislação ou se aplica mal e tarde!

Os sistemas de prevenção e reparação das doenças profissionais também são diferentes de país para país: Existem sistemas públicos, privados e mutualistas com diferenças substanciais. Porém, na maioria dos países da UE existem dificuldades de reconhecimento e certificação da doença profissional, sendo a maioria das mesmas incluídas nas doenças gerais. As doenças profissionais estão muito escondidas e as doenças do foro psíquico ainda enfrentam maiores dificuldades de reconhecimento;

A prevenção dos riscos psicossociais/ a penosidade psiquica do trabalho

Aspeto relevante para todos os participantes foi a necessidade de se enfrentar e reconhecer mais eficazmente a penosidade psíquica / sofrimento no trabalho, constatando-se que é uma realidade em crescimento nos locais de trabalho da UE, numa relação direta com a evolução da carga mental do trabalho. A saúde e educação, por exemplo, são dos setores onde aos riscos físicos e biológicos se acrescenta cada vez mais a penosidade psíquica, a violência no trabalho.

Embora a avaliação de riscos psicossociais apresente algum grau de complexidade e de reconhecimento, nomeadamente da parte dos empregadores e gestores, é necessário implementar cada vez mais essa avaliação participada pelos trabalhadores e suas organizações. Avaliar nomeadamente os factores de risco que conduzem ao stress crónico, bournout e assédio moral e sexual. É importante aplicar e desenvolver a Convenção nº 190 da OIT sobre assédio moral  e os acordos europeus sobre estas matérias, encarando situações complexas como o suicídio no trabalho, integrando este no conceito de acidente de trabalho; integrar o assédio , o bournout e o stress nas listas nacionais de doenças profissionais em todos os países, harmonizando assim a protecção dos trabalhadores europeus;

A formação e sensibilização em Segurança e Saúde no Trabalho (SST)

Há que dar também um novo impulso na formação em Segurança e Saúde no Trabalho (SST), nomeadamente dos próprios empregadores, chefias intermédias e gestores.

Neste capítulo é importante fomentar mais e melhores campanhas com o apoio da Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho nos locais de trabalho e para os cidadãos em geral utilizando nomeadamente os «midia». Seria importante incluir nos currículos escolares as matérias de Segurança e Saúde no Trabalho e defesa do ambiente. A criação de uma cultura de segurança na linha da Convenção da OIT nº 187 de 2006, é uma tarefa do Estado, dos empregadores e dos sindicatos.

Nas campanhas de Segurança e Saúde no Trabalho devem ser incluídas preocupações com o «trabalho tóxico», realizado por crianças e trabalhadores de países sem condições mínimas de trabalho, inclusive trabalho escravo, e na importação de produtos perigosos. A mobilização dos consumidores neste domínio pode ser importante;

Há melhorias em algumas empresas com a contratação de técnicos de segurança e outros especialistas; aquisição e adequação do equipamento de proteção individual e implementação de medidas colectivas que devem ser prioritárias.

É importante apoiar e estimular a promoção de boas práticas em Segurança e Saúde no Trabalho (acções que vão para além da simples aplicação da lei) que efectivamente existem em algumas empresas;

É particularmente relavante a formação em SST dos trabalhadores imigrantes que estão particularmente vulneráveis, bem como os trabalhadores mais idosos que enfretam a digitalização e automação;

A formação e certificação dos técnicos de segurança também foram objeto de várias observações dos participantes tendo como objetivo a necessidade de dar qualidade e credibilidade à sua ação e ao seu importante papel no sistema de prevenção.

Papel dos sistemas inspectivos

Os participantes abordaram a questão da eficácia da inspeção do trabalho no combate ao acidente e doença profissional. Também aqui os sistemas de cada país possuem diferenças e semelhanças. A inspecção do trabalho não responde totalmente aos desafios que atravessam o mundo do trabalho em matéria de segurança e saúde no trabalho e, em vários casos, há uma gritante falta de meios técnicos e financeiros. Porém, a inspecção do trabalho nunca poderá preencher a lacuna de organização sindical nos locais de trabalho.

Papel dos sindicatos e outras organizações de trabalhadores

É reconhecida a importância da organização, acção e negociação sindical em matéria de segurança e saúde no trabalho. Será importante avaliar o papel dos representantes dos trabalhadores para a segurança e saúde no trabalho, das Comissões de Higiene e Segurança e quais os resultados presentes e futuros para melhorar a eficácia destas estruturas representativas.

Constatou-se que a ação sindical pode efectivamente dar um poderoso contributo para a prevenção dos riscos profissionais.

Reconhece-se o importante papel da negociação coletiva na melhoria das condições de segurança e saúde dos trabalhadores. Mas que fazer para que esta matéria seja prioritária nas organizações de trabalhadores, em particular dos sindicatos?


(1) O Grupo de Trabalho é constituido pela Unión Sindical Obrera (USO) e Centro Espanhol para os Assuntos dos Trabalhadores(CEAT) de Espanha,pela Confederação Francesa de Trabalhadores Cristãos (CFTC) de França,pelo IFES (Centro de Formação de Trabalhadores) da Roménia,pela Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos (LOC/MTC) e FIDESTRA Associação de Formação de Trabalhadores Democratas Cristãos, de Portugal.

No final o Grupo terá que enviar Relatório ao Centro Europeu para os Assuntos dos Trabalhadores (EZA) e Comissão Europeia que apoiam o projeto.

 

 


sexta-feira, 15 de novembro de 2024

BASE-FUT COMEMORA 50 ANOS DE LUTA PELOS DIREITOS E INTERESSES DOS TRABALHADORES!

 A Base-Frente Unitária de Trabalhadores (BASE-FUT) promove no próximo dia 16 de novembro,no Auditório Municipal de Pombal uma Conferência para comemorar os 50 anos da sua fundação.

Perfaz agora 50 anos que uma centena de aguerridos  militantes, a maioria oriunda dos Movimentos Operários Católicos, se reuniu nas instalações da então FNAT,hoje INATEL,da Costa de Caparica, para criar uma Organização que, através da formação e ação sindical e cultural ,promovessem a defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores portugueses no novo quadro de esperança

 nascido com a Revolução do 25 de abril de 1974.Foi escolhido um logo forte,uma imagem quebrando as cadeias da opressão, e uma frase célebre no Movimento Operário e sindical mundial já bem conhecida por muitos militantes sociais -«Só os trabalhadores libertarão os trabalhadores»!

Naquela magna reunião de novembro de 1974 uma centena de militantes aprovaram os estatutos da BASE-FUT e uma aspiração que já percorria as ruas das cidades e vilas de Portugal:chegar a uma sociedade livre,democrática e socialista autogestionária!

A maioria das pessoas tinha feito um caminho na Ação Católica Operária

A maioria daquelas pessoas já tinha percorrido  um caminho militante no quadro da Ação Católica Operária portuguesa de luta contra a ditadura e a guerra colonial, ligados a outras componentes cristãs e oposicionistas nacionais e internacionais,com particular destaque aos sindicatos internacionais de inspiração cristã.

Foi um segmento significativo dos Movimentos Operários Católicos ,o Centro de Cultura Operária (CCO) e o clandestino Grupo Base os motores desta nova Organização autónoma que, para além de ter como objetivo a liberdade, também tinha animado em conjunto com militantes comunistas e socialistas a conquista dos sindicatos livres que desembocou na Intersindical Nacional a 1 de outubro de 1970, fazendo uma ruptura com o capitalismo português, onde meia dúzia de famílias detinha a grande fatia da riqueza nacional.Foram estes dois grupos que emergiram como uma das componentes  mais conscientes social e politicamente do chamado «catolicismo progressista».

Comemoramos


também a esperança de Abril

Passados 50 anos estamos a comemorar também a esperança renovada de Abril com as preocupações e desafios de hoje.Neste sentido no programa da Conferência de 16 de novembro está prevista uma intervenção de José Afonso Oliveira, um militar de Abril,que acompanhou a coluna de Salgueiro Maia naquele luminoso dia!Está Abril ainda por cumprir? É sempre válida a luta pela democracia  e contra a guerra?-eis as questões que irá desenvolver.

E que futuro tem o Estado Social?A esta questão vão responder já na parte  da tarde Diogo Cunha,investigador do COLABOR, e Luis Simões,Presidente do Sindicato dos Jornalistas.

Nessa mesma tarde será ainda apresentado o livro «Do sonho à realidade-o livro como semente de liberdade» de Fernando Abreu,um dos militantes que dirigiu o CCO e o Grupo BASE na clandestinidade, fundador e primeiro Coordenador Nacional da BASE-FUT e que estará presente agora em Pombal!

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

ACORDO DE RENDIMENTOS É TRAVÃO SALARIAL?

 Mais uma vez o «Diálogo Social» foi politicamente utilizado por um governo!Os mesmos de sempre,ou seja patrões e UGT assinaram um Acordo para a Melhoria dos rendimentos, salários e


fiscaliade, deixando para debate futuro temas muito importantes como a segurança e saúde dos trabalhadores, segurança social e formação profissional,ou, ainda sem referir sequer outros temas, como a negociação coletiva e a participação dos trabalhadores.

Este Acordo não passa de uma atualização do anterior realizado no governo de António Costa, procurando agora acomodar alguns aspetos do programa da Aliança Democrática.Mais uma vez o «bloco central »,que inclui a UGT,funcionou e também vai funcionar para a aprovação do OE .

Poderemos dizer que as propostas salariais não acomodam as perdas enormes da recente inflação e do aumento do custo de vida nos bens essenciais.Com um aumento de 50 euros nos próximos anos o salário mínimo só chegará aos 1020 euros em 2028.Se o compararmos com o da vizinha Espanha veremos logo o que espera a uma importante percentagem de trabalhadores portugueses,em especial trabalhadores imigrantes e outros trabalhadores essenciais,sempre invisíveis.Mas o salário médio também se perspetiva no mesmo ano para 1890 euros que será o mínimo na vizinha Espanha.Como vamos cativar os jovens quadros?

Referenciais salariais são travão às reivindicações sindicais

Os referenciais salariais previstos neste Acordo são um espartilho, um travão, para os sindicatos reivindicativos numa época de falta de trabalhadores e do alto nível do custo de vida que se vai manter com a guerra, secas e o turismo.Estes referenciais vão ser ainda bitola para as empresas,condicionam a negociação coletiva,sendo fonte de conflito e concorrência entre sindicatos.

Nos aspetos fiscais as críticas vindas da CGTP são esclaceradoras ao lembrar que quem mais ganha com as propostas sobre o IRC,seguros de saúde,pagamento do trabalho extraordinário,etc,são as grandes empresas e os seus acionistas!

É igualmente de lamentar que os rendimentos dos pensionistas não estejam aqui mais aprofundados  com metas a atingir para as pensões em geral e, em particular ,as que estão abaixo de mil euros.Os governos gerem a Segurança Social como esta não fosse dinheiro descontado dos salários dos trabalhadores!

Mas para mim o mais chocante é, sem dúvida, a triste figura em que se tornou o Conselho Económico e Social que parece uma «caixinha dos segredos» quando deveria ser um Forum de diálogo , de debate social com ampla divulgação das matérias em discussão,incluindo o máximo de organizações nesse debate.

Conselho Economico e Social governamentalizado

O Conselho com estas práticas de negociações secretas tornou-se um órgão governamentalizado,de negociações seletivas e de truques onde pontificam as organizações patronais e os sindicatos da UGT que precisam especialmente desta plataforma.

Temos a sensação de que falta uma estratégia negocial a curto e médio prazo que inclua a valorização do trabalho e de todos os trabalhadores,as medidas fiscais,as medidas de caráter ambiental,os objetivos económicos a alcançar.

Quanto à CGTP as opiniões dividem-se mesmo dentro da Central.Uns consideram que o Conselho não é mais do que um órgão de ressonância do capital,enquanto outros consideram que a Central deveria ir até ao fim, negociando até ao limite.

Embora seja, de facto, um assunto que os dirigentes da CGTP terão que decidir internamente apenas lembro que  também é muito cómodo para as organizações patronais e até para a UGT a não assinatura de nenhum acordo de rendimentos por parte da CGTP.Com esta Central na negociação final os referenciais salariais seriam outros,mais favoráveis aos trabalhadores e as benesses fiscais às empresas não seriam tantas.

Espera-se que no âmbito de eventuais acordos sobre segurança e saúde dos trabalhadores, formação profissional e legislação laboral a CGTP lute na rua e no Conselho até ao fim.Também aqui se podem conseguir ganhos para os trabalhadores!

terça-feira, 1 de outubro de 2024

NOVAS FORMAS DE GESTÃO E LIDERANÇA? (I)

 

Nos últimos tempos desenvolveu-se uma nova narrativa nas escolas de gestão no que respeita à gestão


dos trabalhadores, ou, como eles dizem agora, dos «colaboradores».Definem-se novas estratégias para o sucesso de um bom ambiente de trabalho e abunda a literatura psicologisante e «humanista» das relações laborais e da satisfação dos ditos colaboradores.Perante a falta de trabalhadores qualificados existem numerosas declarações de amor aos colaboradores nas revistas e jornais económicos!

Diga-se já em abono da verdade que quando se usa o conceito de «colaborador» eu fico logo de pé atrás!Ele não existe na literatura da Organização Internacional do Trabalho , da UE, nem na legislação portuguesa.Um colaborador não é um subordinado nem tem o estatuto de trabalhador assalariado!

Define-se e caracteriza-se essa nova gestão e liderança empresarial como em ruptura com a tradicional de tipo fordista e hieráquica,valoriza-se um tipo de participação e flexibilidade com alguma autonomia;valoriza-se o ambiente de trabalho, as relações mais horizontais,enfim,estratégias mais adequadas às novas gerações mais qualificadas e com uma diferente relação com o trabalho.

Gestão produtivista e, por vezes, doentia

Todavia,a perspetiva destas novas abordagens de gestão continuam a inserir-se numa visão produtivista de redução de custos e maximização dos lucros.Pretende-se efectivamente que o trabalhador/quadro «vista a camisola»,ou seja,se comprometa a cem por cento com a empresa e com os seus objetivos.Objetivos definidos pelos CEO /acionistas e depois pelos gestores de departamento ou de equipa.Objetivos quase nunca negociados e, por vezes, irrealistas.

Toda a narrativa destes gestores tem como único objetivo a intensificação do trabalho,a que o pessoal possa «dar o litro»,muitas vezes sem fronteiras entre a vida pessoal e profissional,submetidos à agenda do cliente, com picos frequentes de horários extenuantes.

Não podemos admirar-nos que advenham o stresse e o bounout, a depressao, a falta de sono,os problemas gástricos e, em casos extremos, o suicídio!

Para mal dos nossos pecados é frequente a culpabilização dos trabalhadores que ficam doentes.São pouco resilientes, essa outra moda agora reinante em algum vocabulário!Não sabem trabalhar sob pressão, um elemento essencial nos dias de hoje,dizem esses sabichões dos «recursos humanos»!Estamos num mundo competitivo e há que ter estofo de combatente,trucidando,competindo com os colegas,intrigando,assediando se necessário!

Nota: na segunda parte deste artgo abordarei os eixos de uma gestão participativa que não seja enganosa nem doentia.