sábado, 19 de dezembro de 2020

O INVESTIMENTO COLOSSAL DO CAPITALISTA JOSÉ DE MELLO

 

A doação de 12 milhões de euros à Universidade Católica feita pelo grupo Mello é, sem dúvida, um investimento extraordinário numa Universidade em Portugal.A notícia correu pelas redes sociais e serviu para inúmeros comentários em particular de católicos escandalizados com tal facto.Com razão? Claro que sim!


.A mais simples leitura política conclui que o capitalista Mello fez mais um dos seus investimentos estratégicos tal como os tem feito noutras áreas como a saúde.Fez um investimento numa Universidade privada que se tem caracterizado por ser um alfobre excelente para a germinação e crescimento das teorias neoliberais, para a formação de gestores que privilegiam a governança das empresas numa perspectiva da redução de custos através da exploração, das poupanças nos recursos humanos, na precariedade, nos baixos salários.

Gestores que irão alimentar as empresas de capitalistas que, designando-se  igualmente cristãos como o Sr Mello,ganham 150 vezes mais que os seus trabalhadores, criam bancos de horas a seu gosto e consideram os sindicatos e o diálogo social uma atrapalhação nas suas empresas.

É óbvio que esses futuros gestores formados com o apoio de empresários deste tipo terão professores devidamente escolhidos que consideram os sindicatos obsoletos ou um problema de recursos humanos.Ensinam as melhores maneiras de lidar com as organizações de trabalhadores, ou seja, de as desprezar e combater e ,se possível, expulsar das empresas.

Há quem diga que o autoritarismo dos patrões portugueses era uma questão apenas cultural, de velhos patrões mandões protegidos pelo regime fascista.Então e agora não temos gestores modernaços, saídos de universidades europeias , da Católica e até das públicas portuguesas?

A questão de facto é muito mais complexa.Nas últimas décadas o mundo empresarial capturou as melhores universidades da economia e gestão através das fundações, parcerias e doações com as quais até pagam menos impostos.

A Universidade Católica Portuguesa foi sempre um viveiro de conservadorismo

O curriculo da Universidade Católica Portuguesa mostra que foi sempre um viveiro de conservadorismo e neoliberalismo e até na Faculdade de Teologia isso acontece.Em nome de certas formalidades académicas tiveram o descaramento de impedir o magistério de um dos melhores teólogos portugueses ainda vivo, o Frei Bento Domingues.

O Episcopado Português em 1970 lançou a Universidade Católica com apoios do regime fascista.Após o 25 de Abril não faltaram apoios oficiais e privados a esta universidade.Pouca gente questiona esta realidade.Existe uma reverência exagerada tanto da direita como da esquerda nas questões da Igreja.Nunca vi uma televisão pública ou privada fazer um programa para dar luz sobre esta matéria.Existe pouca transparência em nome da concordata e em nome do facto de ser da Igreja.São intocáveis e vemos muitas famílias burguesas, e até de trabalhadores acríticos, todas vaidosas, porque o filho ou filha foi para a Católica.Não porque ensine uma gestão e economia humanistas, mas porque ganhou fama de grande empregabilidade e rigor!

A política académica e cultural da Universidade Católica é definida por um grupo reduzido de pessoas, das elites conservadoras portuguesas e onde estará a mão da «Opus Dei» e de grupos económicos, religiosos e políticos retrógrados.São os tais que consideram as aulas de cidadania não frequentáveis pelos seus filhos.Pode lá ser, ensinar aos rebentos teorias marxizantes, como a igualdade do género, a democracia e os sindicatos.

A doação do sr. Mello vem nesta linha.Quem  conhece bem a sua cara são os trabalhadores da Lisnave. O curriculo da sua família que acumulou riqueza num regime em que a greve era crime político é conhecido.Assim, o dinheiro que o sr. Melo duou é suor e vida dos trabalhadores que trabalharam e pereceram nos estaleiros e noutros locais das empresas do referido capitalista.

Não me admiro, portanto, com esta doação, não me escandalizo também.Sei há muito quem é e o que faz esta universidade Portuguesa. A luta de classes atravessa todas as instituições sociais.Eu sei que os meninos da Univesidade Católica aprendem que agora já não existe luta de classes.A Universidade Católica, tal como o Santuário de Fátima são duas realidades empresariais e  escandalosas em termos cristãos, bem como  em termos políticos .

4 comentários:

José Ricardo disse...

Meu Deus Brandão! Como tu tens razão...Se a democracia entrasse na Igreja, talvez viesse a transformar as empresas e o capitalismo. Mas a Igreja continua capturada pelas forças herdeiras da Inquisição.
A Igreja está como o Capitalismo neo-liberal, pelo paralelismo entre o Concílio Vaticano e a sua doutrina social e o Estado Social nos países capitalistas. Foram uma resposta à ameaça do comunismo. Retirada a ameaça, pretendem voltar tudo para trás.
Nem tudo é mau, com o Papa Francisco, que tem sido uma luz de Esperança. Mas devem estar a orar ao diabo para a sua morte.

Helena Cordeiro disse...

Completamente de acordo. E o problema é que tal realidade não se resume à Católica. A maioria das escolas ditas privadas incutem uma ideia de excelência, com base no elitismo. Os alunos que as frequentam são "os escolhidos". Logo, qualquer ser pensante questionará, porque carga de água essa gente defende que não existem classes sociais, nem tão pouco luta entre classes? Algumas Escolas públicas procuram assemelhar-se às privadas,com base nas mesmas premissas. Por exemplo, onde resido haviam 2 Agrupamentos de Escolas e quando abriu um terceiro, houve uma "escolha" de alunos a transferir para o novo Agrupamento. Os considerados melhores? Nah! A essência da perversidade tem vários níveis de impacto social, mas está presente no sistema educativo que continua a manifestar dificuldade de integração dos considerados "piores" alunos. E assim se definem as classes, ao mesmo tempo que se inibe, dificulta ou ridiculariza a Luta de Classes, a Luta dos Trabalhadores

Helena Cordeiro disse...

Completamente de acordo. E o problema é que tal realidade não se resume à Católica. A maioria das escolas ditas privadas incutem uma ideia de excelência, com base no elitismo. Os alunos que as frequentam são "os escolhidos". Logo, qualquer ser pensante questionará, porque carga de água essa gente defende que não existem classes sociais, nem tão pouco luta entre classes? Algumas Escolas públicas procuram assemelhar-se às privadas,com base nas mesmas premissas. Por exemplo, onde resido haviam 2 Agrupamentos de Escolas e quando abriu um terceiro, houve uma "escolha" de alunos a transferir para o novo Agrupamento. Os considerados melhores? Nah! A essência da perversidade tem vários níveis de impacto social, mas está presente no sistema educativo que continua a manifestar dificuldade de integração dos considerados "piores" alunos. E assim se definem as classes, ao mesmo tempo que se inibe, dificulta ou ridiculariza a Luta de Classes, a Luta dos Trabalhadores

Mr Outubro29 disse...

Completamente de acordo