A recente carta encíclica do Papa Francisco é um assinalável contributo para a reflexão sobre a actual
situação do mundo e os caminhos a seguir para que nos possamos salvar como humanidade e como planeta.
Não faltam felizmente neste momento em todo o
mundo diversas reflexões sobre o texto do actual Papa ,um dos mais odiados pela
direita católica e pelos empedernidos conservadores da própria Igreja.Saliento apenas
alguns aspectos que me parecem pessoalmente mais estimulantes.
Em primeiro lugar saliento a estrutura do
texto e a linguagem.Impera a simplicidade das ideias e das palavras sem lhe
retirar profundidade.Parece que o Papa está a falar connosco numa roda de
amigos.Utiliza expressões, parábolas e
palavras de todos os dias, compreensíveis pelos católicos e não católicos da
aldeia mais remota do mundo.É a linguagem de quem tem uma larga experiência
pastoral nos territórios do sofrimento e da opressão.É uma linguagem próxima
dos movimentos populares, dos que não têm terra nem teto.Uma linguagem
encarnada, realista.Com este texto Francisco reabilita a Teologia da
Libertação.
É clarificado o conceito de perdão cristão ,
tantas vezes redicularizado.Contra a opressão e na luta pela nossa dignidade o
cristão não dará a outra face.Antes pelo contrário,há que lutar contra o opressor
que nos retira a nossa dignidade .Há que retirar ao próprio opressor os meios de opressão.
Em segundo lugar destaco a estratégia do
texto.É uma visão a partir das periferias, dos pobres e dos mais frágeis.Nessa
estratégia a célebre parábola do samaritano tem um lugar central.É uma critica
ás actuais sociedades de consumo , ao comportamento narcisista e da indiferença,
aos que olham apenas para o sucesso, para o seu corpo e bem estar pessoal.
Mas é também uma crítica para dentro da pópria
Igreja, uma autocrítica porque salienta
que os que passaram indiferentes perante o estropiado e assaltado eram
religiosos e nada fizeram, enquanto que o samaritano,um laico excluido e
estrangeiro teve compaixão.Algo que tanto falta nas actuais sociedades
competitivas do ultra capitalismo.
Este texto de Francisco é, de facto, um texto
anticapitalista, de esperança e solidário.Não propõe qualquer modelo de
sociedade;não propõe o socialismo nem qualquer outro sistema.Propõe sim a
fraternidade e a amizade social,uma conversão, tanto a católicos como a
agnósticos e ateus.Há que mudar de vida , de economia, de relacionamento com a
natureza, com a guerra e a paz.Temos que
cooperar e ver o mundo com outros olhos, precisamente a partir dos mais pobres
e dos que estão fora do sistema.O que nos salva é a compaixão e o amor e não a
indiferença.Urge uma outra relação não predadora com a natureza.Tal caminho dará
futuro ás nossa sociedades e futuras gerações.O actual onde temos estado não
tem futuro.
Sem comentários:
Enviar um comentário