quarta-feira, 14 de outubro de 2020

FRATELLI TUTTI : um texto anticapitalista e solidário

 

A recente carta encíclica do Papa Francisco é um assinalável contributo para a reflexão sobre a actual


situação do mundo e os caminhos a seguir para que nos possamos salvar como humanidade e como planeta.

Não faltam felizmente neste momento em todo o mundo diversas reflexões sobre o texto do actual Papa ,um dos mais odiados pela direita católica e pelos empedernidos conservadores da própria Igreja.Saliento apenas alguns aspectos que me parecem pessoalmente mais estimulantes.

Em primeiro lugar saliento a estrutura do texto e a linguagem.Impera a simplicidade das ideias e das palavras sem lhe retirar profundidade.Parece que o Papa está a falar connosco numa roda de amigos.Utiliza  expressões, parábolas e palavras de todos os dias, compreensíveis pelos católicos e não católicos da aldeia mais remota do mundo.É a linguagem de quem tem uma larga experiência pastoral nos territórios do sofrimento e da opressão.É uma linguagem próxima dos movimentos populares, dos que não têm terra nem teto.Uma linguagem encarnada, realista.Com este texto Francisco reabilita a Teologia da Libertação.

 É  clarificado o conceito de perdão cristão , tantas vezes redicularizado.Contra a opressão e na luta pela nossa dignidade o cristão não dará a outra face.Antes pelo contrário,há que lutar contra o opressor que nos retira a nossa dignidade .Há que retirar  ao próprio opressor os meios de opressão.

Em segundo lugar destaco a estratégia do texto.É uma visão a partir das periferias, dos pobres e dos mais frágeis.Nessa estratégia a célebre parábola do samaritano tem um lugar central.É uma critica ás actuais sociedades de consumo , ao comportamento narcisista e da indiferença, aos que olham apenas para o sucesso, para o seu corpo e bem estar pessoal.

Mas é também uma crítica para dentro da pópria Igreja, uma autocrítica  porque salienta que os que passaram indiferentes perante o estropiado e assaltado eram religiosos e nada fizeram, enquanto que o samaritano,um laico excluido e estrangeiro teve compaixão.Algo que tanto falta nas actuais sociedades competitivas do ultra capitalismo.

Este texto de Francisco é, de facto, um texto anticapitalista, de esperança e solidário.Não propõe qualquer modelo de sociedade;não propõe o socialismo nem qualquer outro sistema.Propõe sim a fraternidade e a amizade social,uma conversão, tanto a católicos como a agnósticos e ateus.Há que mudar de vida , de economia, de relacionamento com a natureza, com a guerra e  a paz.Temos que cooperar e ver o mundo com outros olhos, precisamente a partir dos mais pobres e dos que estão fora do sistema.O que nos salva é a compaixão e o amor e não a indiferença.Urge uma outra relação não predadora com a natureza.Tal caminho dará futuro ás nossa sociedades e futuras gerações.O actual onde temos estado não tem futuro.

 

Sem comentários: