Neste momento todos os esforços quer emocionais quer financeiros das sociedades vão
para o
combate à doença e para evitar uma ruptura social.Mas, controlada a situação,
há muito que reflectir sobre o que nos caiu em cima, precisamente num momento
difícil da Humanidade.Entre as questões a ponderar e a debater temos, sem
dúvida ,os sistemas de saúde na Europa e nomeadamente o nosso Sistema Nacional
de Saúde que, apesar de tudo, mostra a sua resilência num momento tão dramático
e após intensos conflitos profissionais ainda não totalmente resolvidos, em
especial com os enfermeiros.
É verdade que as vulnerabilidades dos sistemas
de saúde já vinham a ser apontadas e reflectidas em vários foros nacionais e
internacionais.Ainda em setembro passado participei num seminário internacional
em Varsóvia promovido pelo Sindicato Solidarnosc onde eram manifestas as
preocupações com a situação demográfica em alguns países europeus, com o
envelhecimento da população,e as dificuldades orçamentais dos países , bem como
com a privatização de importantes sectores da saúde.
As medidas restritivas da UE, a filosofia neo
liberal de menos Estado,o pesado montante de juros a pagar anualmente aos
credores, como no caso portugês, adiaram os investimentos necessários,
nomeadamente de pessoal,nos sistemas de saúde.O envelhecimento da população,
muita dela com doenças crónicas graves, coloca problemas específicos aos
sistemas de saúde.
Na realidade perante estas constatações, na
maioria dos casos, o que vingou sempre foi o controlo rigoroso do déficite , a
contenção salarial e de progressão das carreiras e do bem estar dos
trabalhadores nomeadamente do sector da Saúde.A academia ia produzindo estudos
avisando para os graus de bounout em médicos e enfermeiros.Todos os dia viamos
pessoal de saúde a emigrar para o reino unido.
Investimento na segurança e saúde dos
trabalhadore é muito pequeno
Acontece ainda que o investimento na segurança
e saúde dos trabalhadores é muito baixo em quase todos os países para não falar
de alguns países do Leste da Europa e Balcãs onde se fazem leis para
formalmente contentar a Comissão Europeia mas pouco se faz no terreno.Em Itália
a sinistralidade laboral aumentou após a crise financeira e social de 2008 e a
saúde dos trabalhadores, em particular dos agrícolas e imigrantes é um
fracasso.As doenças profissionais e os acidentes de trabalho ,mesmo que em
alguns países teham diminuido, é notória a lentidão desta diminuição,
tornando-se num dos problemas crónicos das sociedades pós industriais.Embora
pouco se fale, morrem anualmente cerca de 100 mil pessoas por cancro
profissional.Por outro lado, aumentam as doenças mentais em larga medida relacionadas
com as formas precárias de trabalho, a gestão patológica da competitividade das
empresas e o stresse laboral.
Mas também em Portugal os serviços de
segurança e saúde das empresas são, em larga maioria, externos, por prestação
de serviços.É verdade que a legislação estipula o equipamento a ter e o que devem fazer estes serviços vistoriados
pela Autoridade para as Condições de Trabalho e pela Direção Geral de Saúde.Mas
quando falamos com os trabalhadores vemos que na prática, em muitos casos, não
existe rigor no que respeita a exames médicos , nem se efectua avaliação de
riscos e trabalha-se em condições pouco saudáveis.Existem milhares de pequenas
empresas que, em rigor, deveriam ser fechadas por insalubridade.Tal rigor,
porém, levaria à destruição também de milhares de postos de trabalho!
Ora, a presente pandemia obriga as autoridades
de saúde e das condições de trabalho, bem como as organizações de trabalhadores,
a uma profunda reflexão sobre o que se passa e vai passar para se tirarem conclusões
positivas.Os governos terão que fazer contas porque o investimento na saúde
será no futuro um dos melhores investimentos públicos.Por outro lado, há que
concluir que a questão da segurança e saude dos trabalhadores deve estar no
coração do sistema público de saúde.A promoção da segurança e saúde dos
trabalhadores não é apenas um problema das empresas e dos trabalhadores.É um
problema de toda a sociedade.É um problema de uma economia que não mate!
Empresas terão que se preparar para
situações pandémicas
No futuro as empresas e o Estado terão que
melhorar, não apenas os sistemas de segurança e saúde nos locais de trabalho,
mas preparar estes para enfrentarem situações pandémicas como a que agora
estamos a enfrentar.
Tal como agora são obrigatórios em
determinados trabalhos esquipamentos de proteção individual e colectiva , bem
como os extintores e outros meios de combate aos incendios também no futuro as
empresas terão que estar preparadas para defender de forma muito mais eficaz a
segurança e saúde dos trabalhadores com medidas a integrar na avaliação do
risco e nos planos de segurança e saúde.Terão que ter planos de contingência e
equipamento de proteção individual adequado a um surto como o que estamos a
enfrentar.
Ao nível estrutural os locais de trabalho
também devem , logo na sua concpção,integrar as preocupações pandémicas.Vamos
continuar a trabalhar em «open spaces», locais abertos, sem as distâncias
legais entre os postos de trabalho , todos ao monte e fé em Deus? A construir
call centers e outros locais de trabalho que parecem galinheiros?
A próxima Estratégia Comunitária de Segurança
e Saúde no Trabalho para 2021-27 deveria ter em conta esta nova questão da pandemia.O investimento na saúde e
concretamente na saúde dos trabalhadores é um investimento que vai dar frutos
precisosos no futuro, nomeadamente evitando mortes, sofrimento e perdas
económicas.A saúde das pessoas tem que ter uma abordagem global, integral.A
pessoa é a mesma em casa e no trabalho, no lazer e na vida social.A estratégia
preventiva da saúde, onde deve estar o fundamental do investimento, deve visar,
com a participação dos trabalhadores, o bem estar destes em casa, no trabalho e
no lazer.
1 comentário:
É necessário acima de tudo dar segurança para os profissionais de todas as áreas que irão atuar durante este período pandêmico.
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