Todos concordam em que a abstenção, mais de 50%, nas
últimas eleições foi mais alta do que em 2015.Mas o mais grave nem é o número
impressionante de abstencionistas, quase metade dos eleitores.O mais grave é
que a percentagem vai subindo de eleição em eleição.
Perante este quadro temos
que aceitar que o abstencionismo eleitoral e político é um fenómeno subterrâneo
profundo, ainda em evolução, e que nem o vasto leque de opções partidárias pôs
termo até agora.Podemos assim trabalhar uma hipótese:o abstencionismo em
Portugal não tem origem na falta de opções político partidárias mas por algo
mais profundo.Tudo leva a crer, e haverá certamente novos estudos sobre esta
questão, que os eleitores terão várias razões para não votarem.As gerações mais
novas terão razões próprias ou serão
muito semelhantes às razões das gerações mais idosas?
Nos debates em que tenho participado, a maioria
entre militantes empenhados e quase todos eleitores votantes aparecem duas
razões fundamentais que poderão levar à abstenção.
A primeira é a falta de
esperança manifestada hoje em muitas pessoas; esperança em mudar a vida para
melhor, ou seja não acreditam que o sistema político actual lhes melhore a
vida.A segunda razão tem a ver com a falta de credibilidade dos partidos
políticos e até com outras instituições do sistema como por exemplo a justiça e
os bancos.
A corrupção e o compadrio
Claro que os casos de corrupção e compadrio
que emergem constantemente nos órgãos de comunicação social e a sua utilização
manipuladora têm aí um papel importante.As classes dirigentes nomeadamente políticos, banqueiros, membros do
aparelho do Estado, em particular da justiça, empresários e gestores aparecem
como virados apenas para os seus interesses e para o roubo do erário público.As notícias de favorecimento de amigos e familiares dos governos e o envio de
milhares de milhões para os paraísos fiscais são efectivamente arrasadoras do
sistema.
E os sindicalistas?
Uma outra hipótese de trabalho é se também os
sindicalistas sofrem ou são abrangidos pela falta de credibilidade no sistema
político.Ao contrário do que ocorreu noutros países, nomeadamente em Espanha,não
temos assistido a casos graves e mediáticos de corrupção no meio
sindical.Felizmente!Podemos, no entanto, verificar que são muitos os trabalhadores
que praticam o abstencionismo sindical.Não se sindicalizam e, em alguns sectores, assiste-se ao abandono do sindicato.Este abstencionismo sindical, que também
está em evolução,dever-se-à mais à falta de eficácia sindical e à precariedade, bem como a razões de ordem cultural e de mudanças na estrutura do emprego.
Sem menosprezar a importância da precariedade
não podemos todavia sobrevalorizá-la.Na História do Movimento Operários foram
mais os tempos de precariedade do que o contrário.Inclino-me muito mais para a
falta objectiva de eficácia da ação sindical que não tem explorado
suficientemente a negociação colectiva, a arma da greve,a concertação social e
a a organização sindical de base , nos
locais de trabalho.Tudo questões para mais tarde abordar!
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