sexta-feira, 4 de março de 2011

EMPREGADAS DOMÉSTICAS,PASSOS DECISIVOS!(memórias)

«Os Estatutos da Associação foram aprovados pouco depois-a 20 de Junho (1921)-em Assembleia Geral que teve a presença de 300 Empregadas Domésticas, 102 das quais se inscreveram nesse mesmo dia, aumentado assim o número das já filiadas.Estiveram presentes nesta Assembleia um representante da União dos Sindicatos Operários de Lisboa (USO)-Eduardo Jorge e da Direcção das restantes Associações do sector e outros trabalhadores ligados á estrutura sindical.A Assembleia foi presidida por Efigénia Bugalho que teve como como secretárias Deolinda Ferreira e Violeta Magalhães.

A confirmar o espírito de luta da classe, nomeou-se imediatamente uma comissão de intervenção em casos concretos de injustiça.Um caso que tinham entre mãos era o de uma moça que se encontrava presa no Governo Civil, Emília de Jesus oliveira por ter sido encontrada numa casa de má reputação...
A comissão formada por Felicidade da Conceição Olimpia Amaral,Efigénia Bugalho, Albertina da Conceição, Violeta Magalhães, Maria Ramos e Felismina Ferreira, nada puderam fazer porque no Governo Civil informaram-nas de que o caso já estava entregue ao poder judicial.

Nesta Assembleia Geral foi aprovada por unanimidade e aclamação a seguinte moção:

-Considerando que as criadas domésticas não podem estar á mercê do Sr. Governador Civil;
-Considerando que o dito sr. lhes quer impor um livrete;
-Considerando que esse livrete é vergonhoso e infamante e que algumas criadas já o tiraram;

A Associação de Classe das Criadas Domésticas, reunidas em Assembleia Geral para aprovar os seus Estatutos resolve:

1.Repudiar energicamente a ofensa do governador civil sr Lelo Portela;
2.Protestar energicamente contra o dito livrete;
3.Que toda a criada de servir que seja sócia e o vá tirar seja de imediato expulsa da Associação;
4.Fazer uma propaganda eficaz para que todas as criadas se associem;
5. Saudar a imprensa de Lisboa que tanto as tem apoiado na sua tarefa
......
O sucesso da Organização ultrapassa as previsões.Em pouco dias o número de sócias sobe para 3.500.Decidem-se abrir delegações em Cascais,Sintra,Benfica, Belém e Oeiras.
A 26 de Junho realiza-se a reunião para a eleição dos corpos gerentes que ficaram assim constituídos:

1ª Secretária- Efigénia da Conceição Bugalho
2ª Secretária-Violeta Ribeiro Magalhães
Secretária Administrativa-Maria Nogueira
Arquivista-Maria Assunção Marques
Tesoureira-Maria Julieta Pereira
1ª Vogal- Emília da Conceição Daniel
2ª Vogal- Celestina Sousa

......»Extraído do Livro de Olegário Paz «Empregadas domésticas mulheres em luta»Edições BASE

NOTA:
As Empregadas Domésticas voltaram a reorganizar-se após a Revolução de Abril de 1974.Várias militantes com experiência organizativa e formadas na JOC e na BASE-FUT, criaram o Sindicato do Serviço Doméstico que deu origem a uma cooperativa (Coperserdo) e a uma cantina popular na Rua de S. Bento.O Sindicato veio a realizar um primeiro Congresso no Pavilhão dos Desportos em Lisboa com cerca de 700 delegadas.Mais tarde o Sindicato seria integrado no actual Sindicato dos Trabalhadores de Limpeza e Actividades Domésticas(CGTP).

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