quarta-feira, 1 de julho de 2009

A CRISE E OS SINDICATOS


Nos últimos meses tenho ouvido frequentemente esta questão:como é possível uma tão grande passividade dos trabalhadores e das suas organizações sindicais perante as falências, algumas fraudulentas, de empresas, aplicação , em alguns casos abusiva, do lay-off e despedimentos por vezes pouco justificados no quadro da crise presente, uma das mais gaves dos últimos séculos?

Por vezes o conflito gerado quase não chega a conflito, com os trabalhadores a pedirem o subsído de desemprego com a maior celeridade possível, para irem para casa tratarem da sua vida!Uma ou outra vez organiza-se uma vigília ou procura-se impedir a saída dos bens das empresas e pouco mais!

Mesmo na França, com grandes tradicções de lutas sindicais radicais, foram poucas as ocupações ou os sequestros das administrações!
Não faltarão oportunidades certamente para os estudiosos trabalharem esta questão através de investigações oportunas.
Numa primeira reflexão, porém,será interessante salientar alguns aspectos que me parecem pertinentes:

1ºA crise-uma crise do capitalismo liberal na sua dimensão de casino financeiro ocorre num contexto em que a relação de forças é desfavorál aos trabalhadores por motivos objectivos e subjectivos.Dominação das multinacionais, feroz competitividade mundial, desregulação do trabalho,desindustrialização,aumento dos serviços,enfraquecimento da contratação colectiva e da sindicalização.O desemprego em alguns países já era significativo quando a crise chegou.


2.Neste contexto o sindicalismo está em crise, reorganizando-se com dificuldade a nívei internacional-constituição da Confederação Internacional (CSI),alargamento da Confederação Europeia de Sindicatos(CES) com países do Leste que lhe retiram dinâmica reivindicativa.Ao nível de cada país os sindicatos perdem filiados, principalmente nos sindicatos operários, têm dificuldade em atrair os jovens trabalhadores e as mulheres que entraram em força nas empresas e serviços públicos.

Por outro lado, a precariedade do trabalho, incluindo a modalidade do trabalho temporário, tem sido avassaladora em quase todos os países afectando a sindicalização e a moblização para as lutas e reivindicações!
Porque será que nem a CES nem a CSI nem qualquer outra platafora sindical organizou até hoje qualquer manifestação extraordinária perante a crise? (greve geral, cimeira, manif,outra) .Sim a CES organizou em Maio um lote de manifs.... fez declarações e cartas. A CSI também enviou cartas e declarações aos G20, etc, etc.Mas são actividades normais já realizadas em situações de não crise.
Porque será que os sindicatos nacionais e internacionais estiveram tão quietos e porque será que os trabalhadores estão pouco disponíveis para lutar pelo emprego e por um papel mais activo nos destinos das empresas e da economia? ?Porquê o silencio ensurdecedor dos sindicatos dos bancários quando tantos aconteciments gravosos tiveram lugar?


3.Existe hoje pouca convicção na eficácia das lutas sociais colectivas.Aumentou a convição de que neste contexto é preferível «o cada um por si» ou salve-se quem puder.Porque será?

4. A existencia de um Estado social mínimo que garante um subsídio a uma parte dos desempregados será desmobilizador? E então os que não têm subsídio?

5. O papel dos mecanismos e entidades de controlo/jornais ,televisão, igrejas, autoridades .Será que desempenharam um papel importante em evitar fracturas sociais produzindo e reproduzindo o discurso da crise e gerando uma certa impotencia?

Será importante aprofundar estas e outras questões para que se aprenda alguma coisa com a crise!

4 comentários:

joão Lourenço disse...

De facto o Mov. sindical tem dificuldades mas a sociedade em geral também e há uma certa apatia pela situação da vida laboral é a causa efeito. Mas o desemprego a isso leva porque para haver o contrário seria preciso uma consciencia de quem é o culpado da situação e essa verdadeiramente ainda não existe. Há quem espere por mudanças sem nada fazer.
De qualquer forma as lutas tem sido fortes no combate ao desemprego e ás flexibilidades procura-se o trab. digno, sobretudo na UE onde recentemente mais de 300 mil trabalhadores se manifestaram. Mas a comunicação social dos grupos económicos não lhe dá o devido destaque. porque teme inflamar a situação.
Se não aparecer uma saída a situação tornar-se-á insustentável e romper mas os sindicatos faram sempre parte de qualquer possivel solução.

L.Carlos disse...

Li com atenção teu post,é uma análise interessante a respeito da atual situação.
A crise veio com tudo,e é inevitável que os sindicatos também sejam atingidos por ela.

Americo Monteiro disse...

OPINIÃO SINDICALISMO

Um dos grandes problemas do sindicalismo, é que, logo à partida, existe o receio de debater/discutir as suas insuficiências e os seus pecados (erros).

Em grande número dos seus líderes o maior esforço é pelo protagonismo pessoal e não pelo próprio sindicato e os interesses dos seus associados trabalhadores. E alimentam estas situações, muitas vezes por interesse e por gosto no sentido político partidário e às vezes por ignorância.

Nos dias de hoje, quantas vezes não nos deparamos com grupos, sectores, em lutas completamente egoísta, sem qualquer atenção aos outros, desde que este grupo ou sector consiga manter ou conquistar os seus “direitos”. Onde se enquadram os valores como a solidariedade?

Em tempos de excesso de informação e propaganda, continua-se a insistir nos mesmos métodos e formulas cada vez mais vazias e inúteis.

Ouvimos por vezes de sindicalistas, que estamos hoje pior que antes do 25 de Abril. Mas esta gente está maluca? Sabe o que acontecia antes da revolução de 1974? Que pôr a gente mais nova a pensar que antes do 25 de Abril as coisas eram assim? Então aquilo era “porreiro pá”.

Penso que muita gente, sindicalistas e outros, recusam assumir que muita coisa mudou. Podemos viver num regime recheado de defeitos, ainda a viver com muita crispação, ás vezes por culpa até de sindicatos, mas é um regime democrático, com regras de vida em liberdade.

Este país que é o nosso, igual aos outros, temos de nos ocupar dele e ou o fazemos todos apesar das nossas diferenças e ganhamos todos, ou outros o farão por nós e quase sempre em prejuízo dos mais desprotegidos.

Américo Monteiro
Braga

Americo Monteiro disse...

No 5 paragrafo ode se lê, que pôr a gente mais nova...
deve ler-se: quer pôr a gente nova...