domingo, 10 de março de 2024

VIEMOS DE LONGE, DE MUITO LONGE....O DIFÍCIL CAMINHO DA UNIDADE SINDICAL!

 

Gritar e falar em unidade sindical é para algumas pessoas como falar da Santíssima Trindade.A fórmula é repetida milhares de vezes mas quanto mais se repete mais vazia de sentido fica.Todavia, a unidade


sindical tem sido dos temas mais importantes do Movimento Operário e Sindical ao longo da História, nomeadamente nestes cinquenta anos de democracia!

O XVº Congresso da CGTP,ocorrido nos dias 23 e 24 de fevereiro,no Seixal, fica marcado por um agudizar do conflito latente entre os sindicalistas do PCP e os sindicalistas das correntes minoritárias, em particular com os socialistas!Estes, após um duro debate na reunião para eleger os órgãos da Central,decidiram não participar na Comissão Executiva eleita.Esperamos que esta questão se resolva nos próximos meses pois a unidade nunca pode ser um problema mas é antes uma vantagem reforçando a base social do Movimento sindical, agregando e potenciando as diferentes sensibilidades político sindicais.

Para alguns sindicalistas a unidade sindical significa unitarismo, ou seja, todos pensam da mesma maneira e agem segundo uma cadeia hierárquica sindical rígida com as ordens e directrizes emanadas da cúpula e, em última análise, do partido político.A diversidade sindical para estes sindicalistas é sinónimo de descaracterização da organização.O próprio exercício democrátivo de votar propostas alternativas incomoda-os, sentem nesta prática não uma força mas uma fragilidade!

Penso que a unidade sindical é aceitar que os trabalhadores e sindicalistas, não pensando todos da mesma maneira, conseguem convergir no essencial para defenderem os seus interesses e direitos criando uma organização, cultura e discurso próprios.Uma organização que se solidifica no essencial e que tem amplas raízes nos locais de trabalho, está viva e não teme pontos de vista diversos sobre a avaliação político sindical e sobre a tática e estratégia!

Ora ,a CGTP é uma organização sindical de classe,ou seja, considera que os trabalhadores, na sua diversidade, têm interesses próprios e autónomos;é anticapitalista, ou seja, considera que esta economia mata,torna os ricos mais ricos,cria desigualdade e explora o trabalhador submetendo-o ao capital;conduz o planeta para o caos e destruição; há que lançar as bases de um outro modelo económico e social que sirva a emancipação dos trabalhadores e a inclusão de todos os cidadãos.Nestes aspetos essenciais convergem todas as sensibilidades sindicais da CGTP!Esta é a base essencial para uma Central unitária!

O Congresso de Todos os Sindicatos de 1977 criou essa base sólida para que maioria e minorias se pudessem entender! A CGTP histórica ,de Abril, é a casa mãe de comunistas ,sociais democratas,cristãos sociais e progressistas,anarquistas ,ecologistas e outros!Esta foi a herança das lutas contra a ditadura e o fascismo!Fugir deste trajeto é que será uma verdadeira descaracterização da CGTP-Intersindical Nacional,herdeira da CGT, criada em 1919, que coordenou e animou grandes lutas até ser perseguida e extinta com a ditadura.

A unidade sindical deve servir o processo transformador do mundo laboral e da sociedade sem dogmatismos.A Unidade sindical não é uma fórmula mágica que basta invocá-la para que se realize.Ela efectiva-se em primeiro plano nos locais de trabalho.O sindicato de massas pratica a unidade sindical para mobilizar todos os trabalhadores na defesa dos seus interesses e direitos independentemente das concepções religiosas, políticas ou filosóficas dos mesmos.Apenas desta maneira a unidade sindical pode ser um poderoso instrumento de mudança das relações laborais.

Todavia, a unidade sindical exige permanente trabalho de esclarecimento, formação e diálogo com os trabalhadores e entre os sindicalistas para se alcançarem as necessárias convergências, banindo a autosuficiência doutrinária, o sectarismo político e a burocracia paralizante.Exige que as minorias tenham a devida representatividade sem, no entanto, se estabeler o modelo de tendencia organizada.

Assim, a autonomia e unidade sindical, elementos essenciais do sindicalismo que defendemos podem levar as jovens gerações que nasceram depois da Revolução de Abril para uma mais forte adesão ao sindicalismo.

 

2 comentários:

Jose disse...

Obrigado Brandão Guedes pela lucidez do teu contributo!
Eu, que estive no Primeiro Congresso de Todos os Sindicatos, em 1977, subscrevo a tua análise e as tuas / nossas inquietações...

Mr Outubro29 disse...

Estou inteiramente de acordo as diferenças políticas não podem ser um obstáculo á acção sindical o encolher do PCP no parlamento deveria fazer pensar os atuais dirigentes comunistas na Central