Gritar e falar em unidade sindical é para algumas pessoas como falar da Santíssima Trindade.A fórmula é repetida milhares de vezes mas quanto mais se repete mais vazia de sentido fica.Todavia, a unidade
sindical tem sido dos temas mais importantes do Movimento Operário e Sindical ao longo da História, nomeadamente nestes cinquenta anos de democracia!
O XVº Congresso da CGTP,ocorrido nos dias 23 e
24 de fevereiro,no Seixal, fica marcado por um agudizar do conflito latente
entre os sindicalistas do PCP e os sindicalistas das correntes minoritárias, em
particular com os socialistas!Estes, após um duro debate na reunião para eleger
os órgãos da Central,decidiram não participar na Comissão Executiva
eleita.Esperamos que esta questão se resolva nos próximos meses pois a unidade
nunca pode ser um problema mas é antes uma vantagem reforçando a base social do
Movimento sindical, agregando e potenciando as diferentes sensibilidades
político sindicais.
Para alguns sindicalistas a unidade sindical
significa unitarismo, ou seja, todos pensam da mesma maneira e agem segundo uma
cadeia hierárquica sindical rígida com as ordens e directrizes emanadas da
cúpula e, em última análise, do partido político.A diversidade sindical para
estes sindicalistas é sinónimo de descaracterização da organização.O próprio
exercício democrátivo de votar propostas alternativas incomoda-os, sentem nesta
prática não uma força mas uma fragilidade!
Penso que a unidade sindical é aceitar que os
trabalhadores e sindicalistas, não pensando todos da mesma maneira, conseguem
convergir no essencial para defenderem os seus interesses e direitos criando
uma organização, cultura e discurso próprios.Uma organização que se solidifica
no essencial e que tem amplas raízes nos locais de trabalho, está viva e não
teme pontos de vista diversos sobre a avaliação político sindical e sobre a
tática e estratégia!
Ora ,a CGTP é uma organização sindical de
classe,ou seja, considera que os trabalhadores, na sua diversidade, têm
interesses próprios e autónomos;é anticapitalista, ou seja, considera que esta
economia mata,torna os ricos mais ricos,cria desigualdade e explora o
trabalhador submetendo-o ao capital;conduz o planeta para o caos e destruição;
há que lançar as bases de um outro modelo económico e social que sirva a
emancipação dos trabalhadores e a inclusão de todos os cidadãos.Nestes aspetos
essenciais convergem todas as sensibilidades sindicais da CGTP!Esta é a base
essencial para uma Central unitária!
O Congresso de Todos os Sindicatos de 1977
criou essa base sólida para que maioria e minorias se pudessem entender! A CGTP
histórica ,de Abril, é a casa mãe de comunistas ,sociais democratas,cristãos
sociais e progressistas,anarquistas ,ecologistas e outros!Esta foi a herança das lutas
contra a ditadura e o fascismo!Fugir deste trajeto é que será uma verdadeira
descaracterização da CGTP-Intersindical Nacional,herdeira da CGT, criada em
1919, que coordenou e animou grandes lutas até ser perseguida e extinta com a
ditadura.
A unidade sindical deve servir o processo
transformador do mundo laboral e da sociedade sem dogmatismos.A Unidade
sindical não é uma fórmula mágica que basta invocá-la para que se realize.Ela
efectiva-se em primeiro plano nos locais de trabalho.O sindicato de massas
pratica a unidade sindical para mobilizar todos os trabalhadores na defesa dos
seus interesses e direitos independentemente das concepções religiosas,
políticas ou filosóficas dos mesmos.Apenas desta maneira a unidade sindical
pode ser um poderoso instrumento de mudança das relações laborais.
Todavia, a unidade sindical exige permanente
trabalho de esclarecimento, formação e diálogo com os trabalhadores e entre os
sindicalistas para se alcançarem as necessárias convergências, banindo a
autosuficiência doutrinária, o sectarismo político e a burocracia paralizante.Exige
que as minorias tenham a devida representatividade sem, no entanto, se
estabeler o modelo de tendencia organizada.
Assim, a autonomia e unidade sindical,
elementos essenciais do sindicalismo que defendemos podem levar as jovens
gerações que nasceram depois da Revolução de Abril para uma mais forte adesão ao sindicalismo.
2 comentários:
Obrigado Brandão Guedes pela lucidez do teu contributo!
Eu, que estive no Primeiro Congresso de Todos os Sindicatos, em 1977, subscrevo a tua análise e as tuas / nossas inquietações...
Estou inteiramente de acordo as diferenças políticas não podem ser um obstáculo á acção sindical o encolher do PCP no parlamento deveria fazer pensar os atuais dirigentes comunistas na Central
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