Lisboa vai ser palco das Jornadas Mundiais da
Juventude na semana de 1 a 6 de agosto de 2023 com a provável presença do Papa
Francisco.Inicialmente previstas para 2022, o Papa em articulação com os organizadores
portugueses, decidiu o seu adiamento por causa da Covid 19.
Esta iniciativa é considerada a maior
organização de massas da Igreja Católica e teve início nos anos 80 do século
passado, sendo periódicamente realizada em várias cidades e tendo como
principal entusiasta o então papa João Paulo II. Nas Jornadas do Panamá em 2019
tanto a Conferência Episcopal Portuguesa como o nosso Governo mostraram grande
interesse no evento estando disponíveis para grandes e custosas ações,
nomeadamente de preparação da zona lisboeta onde ocorrerá a concentração de um
a dois milhões de jovens.Entretanto, e para além das ações materiais a cargo
dos Municipios de Lisboa e Loures, bem como do Governo, a Igreja Católica tem
vindo a preparar discretamente estas Jornadas ao nível diocesano.
A dimensão política das Jornadas Mundiais
da Juventude
Um fenómeno religioso e político desta
natureza merece algumas considerações a que me atrevo apenas para lançar ideias
para um debate que certamente não se fará porque, por diferentes razões, à
esquerda e à direita ninguém estará interessado.
Uma ação de massas desta amplitude tem
necessariamente uma dimensão política que os actores irão naturalmente negar.O
governo tem todo o interesse nesta iniciativa porque pensa retirar dividendos
ao chamar a atenção mundial para o nosso País e para o facto de, sendo um
governo laico e até com governantes não crentes,mantém excelentes relações com
a igreja Católica.O poder mediático e smbólico que emana desta iniciativa
reforça o seu poder e prestigio.
A Igreja Católica Portuguesa, que tem estado
confrontada com a diminuição da participação dos portugueses nos actos
litúrgicos,onde em algumas regiões é uma Igreja de idosos e idosas,aparece com
uma iniciativa mobilizadora de juventude ao mais alto nível, afirmando-se como
uma instituição que, apesar das grandes deserções, poderá revitalizar-se e
vislumbrar um futuro.As Jornadas serão assim um momento de poderosa afirmação
religiosa e política da Igreja Católica.
Os perigos e os desafios
Como em tudo na vida este tipo de iniciativas
de massas comportam alguns perigos e
desafios.O primeiro perigo é que estas manifestações não passem de cenas de
folclore, e romarias tipo festivais.São iniciativas muito boas e agradáveis para
a juventude e, em geral, nunca mais se esquecem ao longo da vida.Todavia, se
não existir uma pastoral continuada da juventude em cada diocese e cada
paróquia,tudo não passará de um bela experiência para contar aos filhos e
netos.
O quadro pós Jornadas é por isso mesmo muito
importante.Ao lermos as mensagens dos papas aos jovens nestas iniciativas elas
insistem muito na necessidade de nos voltarmos para os outros, no caminharmos
com os outros ,os que precisam de nós,na esperança, na construção de um outro
mundo, mais fraterno.Ora, se a nossa catequese e discurso fôr burguês e
individualista, de grupinho fechado e de «meninos de bem e acomodados», de
movimentozinho de paróquia, de nada valerá esta grande manifestação de massas.Será
showoff e manifestação efémera de poder!
Uma manifestação de massas que coincide com
uma caminhada sinodal
Curiosamente esta manifestação coincide com a
caminhada sinodal da Igreja Católica visando a sua renovação ao nível das
formas de participação na mesma, do exercício do poder,da desclericalização e
de um compromisso mais forte com os mais pobres ,refugiados e imigrantes.
Ora as Jornadas Mundiais da Juventude não são
alheias a esta dinâmica e apelo a uma conversão de todos os cristãos a uma
Igreja mais comprometida com os movimentos populares,com os perseguidos por
causa da justiça,com os que para sobreviverem precisam de abandonar a sua terra
e casa.Se não se inscrever no coração das Jornadas Mundiais da Juventude esta
inspiração apenas assistiremos a um grandioso espectáculo estético e folclórico
juvenil com dimensão política, óbviamente.
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