Numa rápida espreitadela aos programas
eleitorais e alguma atenção aos debates da pré -campanha eleitoral e percebemos
que o trabalho e as mudanças tão ameaçadoras que se operam no mesmo estão
completamente secundarizadas e até subvalorizadas, como,aliás tem acontecido
nas anteriores eleições legislativas.Embora sem destaque especial a CDU e o BE
ainda destacam algumas propostas laborais tradicionais como a redução do horário de trabalho para as 35
horas, o combate à precariedade e a valorização salarial.O PS embrulha algumas das medidas da Agenda
para o Trabalho Digno no capítulo da demografia, mostrando especial preocupação
com a situação dos jovens trabalhadores.
Dos partidos da direita nem valerá a pena
falar pois para eles o trabalho insere-se no capítulo da economia, na linha do
que fazem hoje a maioria dos jornais e revistas económicas.O próprio PS há
muito que nos seus programs eleitorais o trabalho não tem autonomia.Aparece nos
capítulos da economia ou do social.
Semana de quatro dias?
No entanto, seria o PS a lançar, embora de
forma pouco convicta, a principal novidade destas eleições no campo das
relações de trabalho: a semana de quatro dias.Nota-se infelizmente que a medida não foi
suficientemente trabalhada pois não apresenta uma estratégia para a
implementar,se apenas no sector público ,se também no privado e em que ano.
Pelo contrário a questão climática e digital é
objecto de grandes capítulos nos programas eleitorais de quase todos os
partidos e dos discursos de alguns líderes.São questões na moda tanto a nível
de Portugal como em todo o mundo e pelas quais se interessam em especial as camadas
mais jovens da população.
Alguns políticos desculpam-se que as questões
do trabalho devem ser debatidas e negociadas com os parceiros sociais no forum
da Comissão de Concertação Social.Não passa de uma desculpa de mau pagador.Verdadeiramente
para a maioria dos políticos o trabalho é uma componente económica e está
submetido á competitividade, ao mundo empresarial .É assim que pensam as
grandes organizações internacionais como a OCDE,FMI, Banco Mundial e Comissão
Europeia.A própria social democracia europeia alinhou e alinha por este
diapasão, apesar dos dissabores que já teve e tem em termos eleitorais.
No trabalho foram e são aplicadas as
receitas da direita
Quando foram para o governo a maioria aplicou
ao mundo do trabalho as receitas da direita europeia, as directrizes da
competitividade, com horários desregulados, flexibilidade, avaliações de
desempenho, trabalho por objectvos, desvalorização das carreiras, contenção
salarial.Os resultados estão á vista com as desigualdades a aumentarem nas
últimas décadas.
Apesar de tudo a experiência portuguesa de governação de 2015-2019, um governo
do PS com apoio das esquerdas parlamentares,tentou remar contra essa maré, em
particular com a valorização do salário mínimo, retirando-o em grande medida da
concertação social .No entanto, a questão do trabalho, em particular a reversão
das medidas da troika, foi sempre um caroço que o PS nunca digeriu.
Ou seja, as questões do trabalho, nomeadamente
as medidas que podem distribuir mais a riqueza como as indemnizações por
despedimento, trabalho suplementar e valorização salarial devem estar submetidas
a uma forte contenção, quer em tempos de vacas gordas (2016-2019) quer no tempo
de vacas magras (2020-2022).
Os sindicalistas podem fazer mais
Assim sendo, estamos destinados a uma
periferia geográfica e do progresso económico e social?De facto o nosso tecido
económico vai mudando muito lentamente.Ainda está muito baseado nas indústrias
tradicionais e no turismo, em pequenas empresas pouco podutivas, etc.Sentimos
que as empresas portuguesas não absorvem
as novas gerações qualificadas, não lhes pagam de forma incentivadora e com perspectivas
de futuro.Em Portugal temos engenheiros em empresas de ponta como a aeronáutica
a ganharem pouco mais de mil euros!Do que estão á espera estas empresas?Que os
melhores pensem em emigrar logo que tenham uma oportunidade!
Mas, perante esta desvalorização política,
económica e social do trabalho os sindicatos também podem fazer mais.Os
próprios sindicalistas pulverizam as listas partidárias em posições não
elegíveis;são poucos os sindicalistas na Assembleia da República e nos órgãos
de decisão dos partidos e a sua influência é reduzida, inclusive nos partidos
de esquerda.É fundamental uma maior autonomia sindical face aos partidos
políticos e não uma tão grande submissão.
.É inaceitável que o trabalho,no qual passamos uma grande parte da
nossa vida, esteja a ser uma questão secundaríssima nos debates, nos programas
políticos e nas políticas efectivas.
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