segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

TRABALHADORES RESILIENTES OU TRABALHADORES RESISTENTES?

 

O conceito «resiliente» ganhou espaço na linguagem diária e é assumido sem qualquer crítica em vários


tipos de discurso.Embora com origens remotas do latim e na física o conceito ganhou força nos últimos tempos nas áreas da gestão, da política e da psicologia.

Gestores e políticos  tem vindo a popularizar o conceito falando em organizações e pessoas resilientes, ou seja, pessoas e organizações flexíveis, que se adaptam com sucesso ao meio ambiente, ao trabalho e a circunstâncias dificeis como a que estamos a viver com a actual pandemia.

A resiliência tornou-se assim numa peça chave da ideologia neo-liberal que exige flexibilidade total às pessoas para que as empresas, no discurso gestacional, possam enfrentar com sucesso a competição num mundo onde impera a incerteza, a volatilidade e a complexidade.Algumas empresas proprocionam inclusive formação em resiliência aos trabalhadores com formadores bem pagos que pregam a adptação a resignação e a flexibilidade.Na UE e nos grandes organismos internacionais escrevem-se programas e planos de recuperação e resiliência

É assim que o discurso dos gestores e políticos enaltecem os cidadão e trabalhadores resilientes, que perante uma crise são capazes de se superarem, de abdicarem de direitos e regalias sociais conquistadas com muito suor e sangue.São louvados os trabalhadores resilientes e marginalizados e até despedidos os trabalhadotres resistentes que na linguagem empresarial não se adaptam ás circunstâncias das crises, que resistem à flexibilidade total que querem um trabalho para a vida e permanente, negociação colectiva e direitos laborais e sindicais.

Nesta abordagem empresarial não se atacam, e até se escamoteiam, as causas profundas do mal estar no trabalho na economia capitalista;evita-se falar em prevenção dos riscos psicossocaiis no trabalho,esconde-se e não se aceita que muito do mal estar está na organização do trabalho , na carga mental e física, na precariedade, nos baixos salários e na falta de conciliação entre vida profissional e familiar.

Por incrível que pareça nestas abordagens gestionais e psicologistas as causas dos problemas do trabalhador deprimido ou stressado está no próprio trabalhador que não é suficientemente resiliente, não consegue superar o stresse e a doença.Devem ir ao ginásio, devem ouvir com atenção as palestras dos chefes e gestores, devem cultivar a estabilidade emocional.

Frequentemente o trabalhador acaba por se culpabilizar e adoecer numa espiral de terror contagiando a própria família.O trabalhador acredita que ele não é competente, não é resiliente, não é dos eleitos.Máxima perversão do capitalismo:explora e adoece o trabalhador numa economia que mata e consegue culpabilizar o trabalhador por se encontrar nesta situação.

Assim perante a ideologia da resiliência há que levantar a proposta da resistência e luta por um trabalho digno e saudável.Resistir nas empresas e no teletrabalho exigindo os direitos laborais e sindicais.Resistir e reconstruir as nossas organizações, os nossos colectivos.Resistir  colectivamente e´uma excelente terapia.

 

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