O conceito «resiliente» ganhou espaço na linguagem diária e é assumido sem qualquer crítica em vários
tipos de discurso.Embora com origens remotas do latim e na física o conceito ganhou força nos últimos tempos nas áreas da gestão, da política e da psicologia.
Gestores e políticos tem vindo a popularizar o conceito falando em
organizações e pessoas resilientes, ou seja, pessoas e organizações flexíveis,
que se adaptam com sucesso ao meio ambiente, ao trabalho e a circunstâncias
dificeis como a que estamos a viver com a actual pandemia.
A resiliência tornou-se assim numa peça chave
da ideologia neo-liberal que exige flexibilidade total às pessoas para que as
empresas, no discurso gestacional, possam enfrentar com sucesso a competição
num mundo onde impera a incerteza, a volatilidade e a complexidade.Algumas
empresas proprocionam inclusive formação em resiliência aos trabalhadores com
formadores bem pagos que pregam a adptação a resignação e a flexibilidade.Na UE
e nos grandes organismos internacionais escrevem-se programas e planos de
recuperação e resiliência
É assim que o discurso dos gestores e
políticos enaltecem os cidadão e trabalhadores resilientes, que perante uma
crise são capazes de se superarem, de abdicarem de direitos e regalias sociais
conquistadas com muito suor e sangue.São louvados os trabalhadores resilientes
e marginalizados e até despedidos os trabalhadotres resistentes que na
linguagem empresarial não se adaptam ás circunstâncias das crises, que resistem
à flexibilidade total que querem um trabalho para a vida e permanente,
negociação colectiva e direitos laborais e sindicais.
Nesta abordagem empresarial não se atacam, e
até se escamoteiam, as causas profundas do mal estar no trabalho na economia
capitalista;evita-se falar em prevenção dos riscos psicossocaiis no
trabalho,esconde-se e não se aceita que muito do mal estar está na organização
do trabalho , na carga mental e física, na precariedade, nos baixos salários e
na falta de conciliação entre vida profissional e familiar.
Por incrível que pareça nestas abordagens
gestionais e psicologistas as causas dos problemas do trabalhador deprimido ou
stressado está no próprio trabalhador que não é suficientemente resiliente, não
consegue superar o stresse e a doença.Devem ir ao ginásio, devem ouvir com
atenção as palestras dos chefes e gestores, devem cultivar a estabilidade
emocional.
Frequentemente o trabalhador acaba por se
culpabilizar e adoecer numa espiral de terror contagiando a própria família.O
trabalhador acredita que ele não é competente, não é resiliente, não é dos
eleitos.Máxima perversão do capitalismo:explora e adoece o trabalhador numa
economia que mata e consegue culpabilizar o trabalhador por se encontrar nesta
situação.
Assim perante a ideologia da resiliência há
que levantar a proposta da resistência e luta por um trabalho digno e
saudável.Resistir nas empresas e no teletrabalho exigindo os direitos laborais
e sindicais.Resistir e reconstruir as nossas organizações, os nossos colectivos.Resistir
colectivamente e´uma excelente terapia.
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