segunda-feira, 23 de agosto de 2021

O ACORDO SOBRE FORMAÇÃO E QUALIFICAÇÃO FOI MAIS UM?

 

No passado dia 28 de julho o Governo e os parceiros sociais, com excepção da CGTP, assinaram o


«Acordo sobre Formação Profissional e Qualificação: um desígnio estratégico para as pessoas, para as empresas e para o País».Numa primeira leitura do documento de 20 páginas a impressão que temos pela frente é que é um enfadonho catálogo de intenções, cheio de palavrões técnicos que apenas os mais entendidos no sistema poderão verdadeiramente apreciar.Passado um mês poucos comentários li sobre esta questão tão importante para o nosso País e para os trabalhadores em especial.

Pela minha cabeça passam-me vários episódios vividos em particular na restauração onde cheguei  a ensinar uma empregada como deveria abrir correctamente uma garrafa de tinto com um saca-rolhas.Frequentemente vejo empregados que nem sabem porque lado devem retirar o prato e como devem tratar os talheres.Então não posso deixar de me interrogar como é possível que após tantos milhões para a formação, tantos cursos de formação, tanta formação nos encontremos nesta situação.Será que os trabalhadores formados estão todos nos grandes hotéis e restaurantes de luxo ou estão no desemprego porque têm formação? Será que emigraram para o estrangeiro?

Significa então que a CGTP , que não assinou o Acordo, tem alguma razão quando olha para mais um acordo mas não vê como vai ser cumprido e como se vai conetar a formação recebida á categoria profissional, á melhoria salarial, à produtividade e bem estar dos trabalhadores?Como  valorizar a formação e qualificação quando o mercado de trabalho tem as portas completamente abertas á precariedade? Ao trabalho barato dos imigrantes que, no caso da restauração, pode chegar a 2 euros à hora?

Vamos ter um aumento da população qualificada tanto a nível dos trabalhadores como dos pequenos empresários.É bom!Mas não vemos qualquer mecanismo que , para além do livre mercado,  valorize a formação na carreira do trabalhador, incentive o trabalhador a recorrer á formação para se valorizar e melhorar o seu presente e o seu futuro.

Recordo que na Função Pública os trabalhadores faziam cursos de formação profissional para o curriculo.Todavia, o júri dos concursos percebendo o estrategema,começaram a desvalorizar  a formação  com menos de trinta horas.A motivação da maioria dos trabalhadores não era grande pois a formação tinha e tem pouco impacto na sua carreira.

Lembro-me ainda que durante os meus anos de trabalho fiz vários cursos de informática.Todavia, foi no dia a dia com os meus colegas mais jovens e instruídos na matéria que eu aprendi alguma coisa.Coitados, eles nunca receberam nada por essa formação, enquanto os formandos encartados ganhavam que se fartavam.

No actual contexto de apresentação de trabalho à Comissão Europeia no quadro da «bazuca» este Acordo tem inegávelmente algum valor político para o governo e parceiros sociais.O fulcro será o quadro financeiro de 2021-2027.Metem-se umas buchas de digital e transição energética e está feito o bolo.

Mas não seria altura para um debate mais profundo e alargado sobre as debilidades do sistema de formação profissional?Não seria necessário responsabilizar mais as empresas na formação dos seus trabalhadores em vez de arranjar mecanismos de lhes dar subsídios para os encargos com a formação?Afinal, os capitalistas portugueses fartam-se de dizer que o Estado não se deve meter na vida das empresas e depois querem dinheiro para a formação e para pagarem um salário mínimo?

O cinismo político nos dias de hoje não tem limites!

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