As eleições para o Poder Local a realizar no próximo mês de setembro já mexem e vemos
nomeadamente cartazes de todos os partidos com as figuras que serão cabeça de lista para cada Vila e cidade.Sob ponto de vista político e social tem muito interesse analisar a postura dos candidatos e o texto dos cartazes.Várias constatações podemos fazer todas elas carregadas de significado e demonstrativas de como vai a democracia portuguesa.
A primeira constatação é a de que lendo os
textos dos cartazes um estranho ao país que não tivesse qualquer informação
sobre a vida política não pereceberia
quais seriam as forças de esquerda e de direita.Vemos cartazes de esquerda a
prometer coisas do género como «uma
ambição grande para uma cidade grande» ou «honestidade e competencia» ou
ainda «tradição e identidade».Por acaso
estes cartazes não poderiam ser de uma qualquer força de direita?Claro que sim
como é óbvio!
Uma segunda constatação é o conteúdo dos textos
que é soft,aparentemente vazio de ideologia.Referem-se alguns valores é
certo.Todavia, são valores que podem ser perfilhados por eleitores de direita e
de esquerda.Mas a maioria estão aparentemente vazios de ideologia.Digo
aparentemente porque eles reflectem de facto a ideologia actual do sistema.Afirmam
claramente o vazio de ideias,a navegação ao centro, á superficialidade e não
compromisso.É a chamada «cultura líquida», o apelo ao voto para gerir o poder
estabelecido, sem rasgos, sem rupturas, sem incómodos para os eleitores. O
apelo ao «votem em mim que eu vou fazer obra».Nos cartazes e panfletos da
maioria dos candidatos não aparece qualquer ideia de uma cidade diferente.Mais
ciclovias, mais rotundas, mais estacionamentos.
A política tornou-se publicidade.O meu produto
tem que ser melhor do que o teu.Realiza-se um enorme esforço para trabalhar as
fotografias de velhos e novos, alguns bem feios e feias.Arredondam-se
bochechas, moldam-se narizes, cortam-se orelhas.O produto final são pessoas
disformes e pouco parecidas com os originais.É o resultado de se entregar a
politica ás empresas de marketing.Estas esvaziam os candidatos de ideologia e
dão-lhe a ideologia do capitalismo, do vazio político e cultural .
O resultado de tudo isto é o afastamento dos eleitores
e cidadãos.Os políticos assemelham-se a pastas dentríficas, a sabonetes.Em
alguns locais os cartazes da REMAX confundem-se com os candidatos eleitorais!O
mercado tomou conta das eleições e dos políticos.Não existe emoção,antagonismo,
propostas claramente diferenciadas.A abastenção cresce e vai crescer ainda
mais!
Há que voltar com discursos novos à ideologia
, á afirmação e debate de ideias , aos antagonismos.Existe esquerda e direita e
cada uma tem que procurar o seu caminho, propostas e discurso.As candidaturas
de esquerda não podem ser um vazio ou uma proposta reacionária de cidade.
A luta pelo emprego digno, pelo ambiente ,
pela habitação com qualidade devem estar
no centro das candidaturas de esquerda.As organizações de trabalhadores devem
ser ouvidas por essas candidaturas.Por sua vez as uniões sindicais deveriam ter
uma palavra nas candidaturas.O Movimento sindical alheia-se demasiado das
eleições.O seu discurso estreita-se cada vez mais e não se renova.O território
e a sua gestão democrática e de qualidade é assunto muito importante para os
trabalhadores.Não é suficiente a candidatura de um ou outro sindicalista que
faz um frete ao partido A ou B.Há que alterar esta situação.
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