A IIª
República Portuguesa corre riscos de se afundar?Todos os portugueses
conscientes e politizados transportam consigo há muito esta interrogação.Existem
sinais evidentes de erosão do regime nascido da Revolução de Abril.Que a nossa
Constituição tem uma grande dimensão utópica?Claro que sim.Mas a maioria dos
constituintes queria um regime durável e justo.Queriam liberdade e socialismo,
participação popular, justiça social com mais igualdade e distribuição da
riqueza.
O regime tinha e tem como coluna vertebrável o
sistema partidário que envolveu muitos portugueses com ideais, com a febre da
participação, de ter voz, de intervir na mudança das coisas.Aos poucos a
maioria dos portugueses deixou de acreditar depois de ter votado nos grandes
partidos moderados, chamados do centro, mais á direita, mais á esquerda (PS e
PSD).Até hoje a maioria dessa grande maioria também não se deslocou nem mais
para a esquerda , nem mais para a direita, absteve-se.Ao longo de décadas de democracia viram de tudo, desde banqueiros
e políticos corruptos até à absolvição dos poderosos,jovens das jotas ocuparem lugares
na administração e empresas públicas sem credenciais e experiência,golpes
baixos entre correlegionários dos partidos a golpes contra outros partidos,
muita demagogia e tudo muito bem aproveitado pelos canais privados de televisão para
animarem a revolta e a indignação dos portugueses.
Os portugueses viraram as costas à política
Os resultados desta situação é a abstenção com
os portugueses a virarem as costas à política e o crescimento da extrema
direita e a sua autonomização em partido para chegar de forma mais eficaz ao
poder político.Isto significa que uma parte dos portugueses dos partidos do
centro, e não só, se radicalizaram e querem mudar de regime, querem outra
república, querem claramente uma ditadura mais ou menos musculada.
Mas perante esta situação tão óbvia os partidos
políticos, em particular os de esquerda, estão a tomar medidas sólidas para dar
a volta à situação?.Parece que não.Fecham-se em vez de se abrirem, tanto
orgânica como ideológicamente,depois de erros políticos graves não se demitem, agudizam
as lutas intestinas, não mudam de discurso para o actualizarem, apostam nos
jovens quadros universitários das juventudes sem darem lugar a jovens
trabalhadores com experiência sindical e associativa.Quantos sindicalistas têm
o PS e o PSD na Direção?O diálogo social e a participação não passam de uma
treta quando chegam ao governo.Ficam preocupados se fazem alguma crítica a um grande empresário mas podem estar meses sem falar com
os dirigentes sindicais.
Banir o oportunismo,a corrupção e o
carreirismo
Uma democracia não pode apenas contar com o
voto periódico dos cidadãos.Um partido tem que cuidar de dinamizar a sua base
social e de cuidar da formação dos seus quadros.Tem que banir com fimeza o
oportunismo, a corupção e o carreirismo.
Ao tornar-se quase exclusivamente partidário o
regime colocou uma grande carga nos partidos.Mas a responsabilidade é quase
totalmente dos partidos políticos.Tudo fizeram para que uma minoria dentro dos
partidos tivessem imenso poder.Poder de escolher deputados, dirigentes e
governantes.Fora dos partidos os outros cidadãos foram-se desinteressando da
vida política.Até na vida sindical quase não temos sindicalistas que não sejam
militantes dos partidos.Cada vez mais os sindicatos em vez de organizações de
massas ficarão departamentos partidários .Os partidos, em vez de organizações
abertas e dinamizadoras da democracia ficarão pequenas e estioladas células em
luta pelos poderes.
O futuro do regime de Abril pertence a todos
os portugueses, a democracia e a liberdade é uma luta de todos.Mas, corremos o
risco do regime se tornar odiado por uma larga maioria de portugueses!
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