Na mesma semana ocorreu a morte de um jovem sindicalista dos Call Centers, o Cerqueira, que
perdeu a vida com um enfarte aos 34 anos e a Fátima, uma funcionária do Agrupamento de Escolas do Monte da Caparica com pouco mais de 60 anos,morreu igualmente da mesma maneira.Estes e outros factos semelhantes ocorrem de vez em qundo com trabalhadores sem notícia nos jornais e televisões.Acontecem como factos banais a que a maioria dos portugueses não presta atenção.Em geral são raras as pessoas que associam este tipo de mortes ao trabalho.No entanto hoje, como ontem, as condições de trabalho influenciam a nossa saúde.
Estes óbitos são, todavia, a ponta do icebergue
de um mundo laboral cada vez mais degradado, onde aumenta a precariedade, a
ansiedade e o esgotamento devidos a políticas de gestão que visam a sistemática
redução dos custos com pessoal para benefício dos investidores, dos acionistas
enfim, do capital.É toda uma política laboral estruturada num único sentido que
são os bolsos de uma minoria cada vez
mais rica.Montam esquemas terríveis de não transparência, impedindo os
protestos do público consumidor e dos trabalhadores
.Nenhum consumidor ou trabalhador pode falar
directamente com o «boss» destas grandes empresas;ninguém lhes pode ver a
cara.Sómos atendidos por algoritmos e call centers onde os trabalhadores se
assemelham a operários do século
XIX.Estes e outros trabalhadores de outros sectores como das grandes
superficies ou de serviços de entrega ao domicílio, na agricultura intensiva, em
serviços,em fábricas com moderno equipamento que não deixa respirar, com ritmos e carga de trabalho intensa e a vigilancia
e horários extremos, sofrem na pele as
chamadas novas formas de gestão que têm por base produzir muito com pouco, ou
seja, com pouco dinheiro e poucos trabalhadores.
Esta filosofia é dominante nas empresas e até
nos serviços públicos.Reduzem-se as equipas, descartam-se os menos resistentes
e velozes e os que ganham mais;fazem-se turnos, horas suplementares não pagas,
trabalha-se ao domingo a custo reduzido, precarizam-se os vínculos, deitam-se
fora os mais velhos e empregam-se os mais novos definitivamente provisórios.O
assédio moral,o cinismo e a não transparência são escolhidas como virtudes de
um bom gestor.
Com a nova situação da pandemia algumas
empresas já estão a fazer acordos de teletrabalho com cada um dos seus
trabalhadores sem esperarem por mais legislação e sem enquadramente da
negociação colectiva.O cinismo é tão grande que ainda dizem que os trabalhadores
vão ter vantagens com o teletrabalho pois não terão custos de
transporte.Esquecem os custos de internet, energia, água e outros consumíveis.´
E são muitos os trabalhadores que apenas olham
para o curto prazo e para algumas vantagens sem atenderem às desvantagens.Não
apenas as económicas mas também as psicológicas, familiares e de saúde.Mas não
apenas estas, também as de que ficam isolados face à empresa, com contactos
reduzidos com os companheiros de trabalho, sem defesa e ação colectiva.Deixam o monstro entrar nas
suas casas e depois vai ser muito
difícil expulsá-lo.
Esta é uma gestão que mata para fazer mais
célere a concentração do capital, para fazer fluir o capital para as mãos dos
hiper ricos e empobrecer cada vez mais quem trabalha.É a nossa saúde que está
em causa, a nossa paz familiar, o nosso descanso.As universidades de gestão,algumas
com a chancela de «católicas», são cada vez mais as escolas de ensinar a não
humanidade no trabalho, o tornar o trabalhador num colaborador escravizado, um
mero factor de produção.
Há que resistir a este tipo de filosofia da
submissão e escravidão.Hoje, mais do que nunca, é necessário ter um sindicato,
agir de forma organizada e colectiva.
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