O Plano de Recuperação e Resilencia (PRR), a famosa «bazuca» beneficia de um
envelope financeiro da UE no montante quase de 16 mil e setecentos milhões de euros.Os partidos do bloco central político já se movem tendo em conta o poder que este envelope lhes pode proporcionar.Daí a pressa de uma certa direita em arrepiar caminho e pôr de lado o Rui Rio, procurando seduzir novamente Passos Coelho para liderar a recuperação do aparelho de estado.Daí o equilibrismo de António Costa em procurar manter o poder por mais algum tempo.O pós pandemia terá uma sabor a mel para as gentes que circulam nas órbitas dos grandes partidos do poder e um sabor bem amargo para uma grande fatia de portugueses.
O PRR é um documento tecnocrático na linha
de outros que têm vindo á luz do dia e muito do agrado dos burocratas da
UE.Tudo combinado e avaliado por uma tecnocracia impante e rica que a nível
nacional e internacional se estende aos milhares de consultores para todo o
gosto, gabinetes de juristas e lobys mais ou menos disfarçados.
No centro político, em particular no PSD e
PS o grande debate vai ser para onde vai o bolo maior do pacote financeiro:para
as empresas ou para o Estado, o chamado investimento público.É um falso dilema
pois em última análise os grandes beneficiários destes milhões vão ser as
empresas nacionais e internacionais.O PSD grita que o Estado vai levar o bolo
maior e que as empresas menos.Apenas um discurso para o povo ver e ganhar
votos.No essencial os grandes actores da gestão e investimento da bazuca vão
ser as empresas, accionistas respectivos e clientela política do centrão
político.
Neste documento é óbvio que são desprezados
determinados actores sociais e políticos que pouco contam para o mercado ou que
são elemento descartável desse mesmo mercado.É o caso dos trabalhadores e suas
organizações e todo o sector da economia social que enovolve centenas de
milhares de trabalhadores, militantes e voluntários e que são essenciais para a
coesão social e territorial do país.
Um documento com tal perfil e elaborado por
tal «elite» apenas considera a questão da empregabilidade, do crescimento do
emprego e de eventual riqueza partilhada nesse parametro.Para tais entidades
iluminadas as organizações de trabalhadores não são um actor histórico capaz de
contribuirem para um Portugal mais rico e democrático.Para eles o crescimento
económico que a bazuca proprociona trará por si mesmo a partilha de alguma
riqueza, não da riqueza.A definição de uma estratégia própria para atacar a
pobreza endémica do País e as desigualdades não é uma questão de fundo a
considerar.O pensamento tecnocrático é assim mesmo!
Assim pode acontecer que gastos os quase 17
mil milhões do PRR em multiplos investimentos o País até possa melhorar em
alguns aspectos.Mas deveriamos ter a certeza de que daqui a dez anos não
teríamos os mesmos dois mlilhões de pobres e um aumento das desigualdades
sociais.Porque não tenham dúvidas, esses milhões podem perfeitamente desaguar
nos mesmos de sempre que ficarão mais ricos.
Basta que não haja transição digital justa
e se apliquem milhões num novo
capitalismo verde com criação de novos empregos precários mas se abandonem
milhares de antigos trabalhadores das velhas industrias.Uma economia mais verde
e digital com grandes investimentos públicos e privados não significa
automáticamente um país mais justo socialmente e ambientalmente harmonioso.
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