segunda-feira, 1 de março de 2021

OS MILHÕES DA «BAZUCA»VÃO TORNAR-NOS MAIS RICOS E COMPETENTES?

 

O Plano de Recuperação e Resilencia (PRR), a famosa «bazuca» beneficia de um


envelope financeiro da UE no montante quase de 16 mil e setecentos milhões de euros.Os partidos do bloco central político já se movem tendo em conta o poder que este envelope lhes pode proporcionar.Daí a pressa de uma certa direita em arrepiar caminho e pôr de lado o Rui Rio, procurando seduzir novamente Passos Coelho para liderar a recuperação do aparelho de estado.Daí o equilibrismo de António Costa em procurar manter o poder por mais algum tempo.O pós pandemia terá uma sabor a mel para as gentes que circulam nas órbitas dos grandes partidos do poder e um sabor bem amargo para uma grande fatia de portugueses.

O PRR é um documento tecnocrático na linha de outros que têm vindo á luz do dia e muito do agrado dos burocratas da UE.Tudo combinado e avaliado por uma tecnocracia impante e rica que a nível nacional e internacional se estende aos milhares de consultores para todo o gosto, gabinetes de juristas e lobys mais ou menos disfarçados.

No centro político, em particular no PSD e PS o grande debate vai ser para onde vai o bolo maior do pacote financeiro:para as empresas ou para o Estado, o chamado investimento público.É um falso dilema pois em última análise os grandes beneficiários destes milhões vão ser as empresas nacionais e internacionais.O PSD grita que o Estado vai levar o bolo maior e que as empresas menos.Apenas um discurso para o povo ver e ganhar votos.No essencial os grandes actores da gestão e investimento da bazuca vão ser as empresas, accionistas respectivos e clientela política do centrão político.

Neste documento é óbvio que são desprezados determinados actores sociais e políticos que pouco contam para o mercado ou que são elemento descartável desse mesmo mercado.É o caso dos trabalhadores e suas organizações e todo o sector da economia social que enovolve centenas de milhares de trabalhadores, militantes e voluntários e que são essenciais para a coesão social e territorial do país.

Um documento com tal perfil e elaborado por tal «elite» apenas considera a questão da empregabilidade, do crescimento do emprego e de eventual riqueza partilhada nesse parametro.Para tais entidades iluminadas as organizações de trabalhadores não são um actor histórico capaz de contribuirem para um Portugal mais rico e democrático.Para eles o crescimento económico que a bazuca proprociona trará por si mesmo a partilha de alguma riqueza, não da riqueza.A definição de uma estratégia própria para atacar a pobreza endémica do País e as desigualdades não é uma questão de fundo a considerar.O pensamento tecnocrático é assim mesmo!

Assim pode acontecer que gastos os quase 17 mil milhões do PRR em multiplos investimentos o País até possa melhorar em alguns aspectos.Mas deveriamos ter a certeza de que daqui a dez anos não teríamos os mesmos dois mlilhões de pobres e um aumento das desigualdades sociais.Porque não tenham dúvidas, esses milhões podem perfeitamente desaguar nos mesmos de sempre que ficarão mais ricos.

Basta que não haja transição digital justa e  se apliquem milhões num novo capitalismo verde com criação de novos empregos precários mas se abandonem milhares de antigos trabalhadores das velhas industrias.Uma economia mais verde e digital com grandes investimentos públicos e privados não significa automáticamente um país mais justo socialmente e ambientalmente harmonioso.

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