A COVID 19 teve um impacto profundo na vida de todos, nomeadamente nos serviços públicos e nas
empresas, em particular na produção e na organização do trabalho.Claramente o ambiente mudou em muitas empresas, por vezes com alguma degradação das relações de trabalho e da saúde dos trabalhadores.Teletrabalho, layoff, rotação de horários,equipas que não reunem, projectos a meio gás ou cancelados, precariedade, despedimentos e, por vezes, salários que não se pagam.Os efeitos negativos da pandemia na saúde dos trabalhadores ainda não são conhecidos na sua plenitude.
É importante que os investigadores sociais e
os representantes dos trabalhadores possam acompanhar a situação de modo a
poderem mobilizar os companheiros, apresentar propostas no domínio da
organização do trabalho e da promoção da segurança e saúde dos trabalhadores.Neste
quadro de pandemia é especialmente importante prevenir os riscos psicossociais
no trabalho, conceito raramente utilizado nos tempos que correm.
Efectivamente fala-se muito de saúde mental,
um conceito mais amplo e menos comprometido em termos laborais.Corremos o risco
de, ao falarmos apenas em saúde mental ,subvalorizar um dos aspectos essenciais
dessa mesma saúde, a prevenção dos riscos psicossociais no trabalho.O impacto
da pandemia no trabalho e nos trabalhadores é pouco falado nos meios de
comunicação social.Sabemos algo do que se passa com o pessoal de saúde e ponto
final.Pouco se fala dos trabalhadores da educação infectados e dos problemas
que estes vivem.E dos trabalhadores da agricultura, limpeza,a maioria
imigrantes?Ainda menos!
A avaliação do risco psicossocial nos locais
de trabalho deve desenvolver-se neste novo quadro de pandemia que confere á
situação elementos novos e coloca novas prioridades.Neste sentido é importante
avaliar alguns factores de risco nomeadamente:
1.Avaliação da carga de trabalho:
É inegável que a pandemia afectou por longos
meses a produção e/ou comercialização de muitas empresas.A situação é ainda
muito incerta e alguns sectores não sabem quando poderão voltar a uma produção
normalizada.Mas no caso de se regressar a uma situação de produção normal a
tentação de sobrecarregar os trabalhadores será muito grande.Os gestores
quererão recuperar tudo o que perderam.Também são possíveis situações de pouco trabalho como pode acontecer no tempo
de pouca produção ou serviços.A subcarga de trabalho também desenvolve
sentimentoss de isolamento, insegurança e de inutilidade.Há que estar atento a
estas situação para implementar medidas organizativas de partilhar o trabalho e
não sobrecarregar mais uns trabalhadores do que outros, recrutar novos trabalhadores e promover
vínculos de trabalho estáveis.
Os sindicalistas e os representantes dos
trabalhadores para a segurança e saúde e comissões de trabalhadores têm aqui também um papel de vigilância e de
apresentação de propostas.
2.Tensões e conflitos entre trabalhadores
Os gestores e os serviços de segurança e saúde
deverão estar também atentos aos eventuais conflitos e tensões entre os
trabalhadores no quadro da pandemia.Trabalhadores que estão em teletrabalho ou
layoff sofrendo de prolongado isolamento, outros que por questões de saúde não
podem deslocar-se à empresa ou trabalhadores que estão em contacto directo com
os clientes e o público.Estas diferentes situações podem ser entendidas pelos
trabalhadores como injustas, em particular os que devem enfrentar maior risco.
É fundamental falar e explicar o sentido das
medidas sanitárias e organizacionais para combater a infecção, não deixar os
trabalhadores abandonados, à deriva, em particular os mais jovens e recentes na
empresa.Esta deve passar uma imagem de actividade e cuidado pela saúde de todos,
apesar dos constrangimentos sanitários.
3.Encontrar novas formas de animar os
colectivos de trabalho
Os constrangimentos e dificuldades impostas
pela pandemia obrigam a um grande esforço da gestão e dos serviços para
encontrarem novas formas de manter os colectivos de trabalho e as equipas
unidas e coesas.Torna-se importante encontrar meios de partilha de informação e
de comunicação entre cada um e entre todos;módulos de formação adequada;
teletrabalho com trabalho alternado no local de trabalho e acompanhamento
efectivo dos que estão em teletrabalho com respeito pelos seus direitos,
nomeadamente de descanso e privacidade.
Esta situação pode permitir instituir novas
formas de organização do trabalho criativas e mobilizadoras colocando sempre no
centro o bem estar dos trabalhadores e o sucesso da empresa.Melhorar a
segurança e saúde dos trabalhadores, as carreiras, os estímulos, nomeadamente
monetários, á iniciativa e participação dos funcionários.
Reforçar a autoestima e segurança dos
trabalhadores através da formação profissional e do combate á precariedade e instituir
mecanismos de combate á violencia e ao assédio moral são fundamentais.A própria
actividade sindical e ação colectiva dos trabalhadores é um elemento importante
para a coesão e animação dos colectivos de trabalhadores.Exemplos como os que
se passam nos CTT, na TAP, Refinaria de Matosinhos e na Groundforce são
preocupantes porque criam um ambiente geral de insegurança , de abandono e até
de medo.
4.Evitar o isolamento, a perda de sentido e
a desmotivação
São situações que sempre podem ocorrer mas que
no quadro de pandemia são um maior risco.Os constrangimentos sanitários e
organizacionais podem promover o isolamento e a perda de sentido do que se está
a fazer, do projecto em que estamos envolvidos.Os trabalhadores mais recentes
na empresa podem perder inclusive referencias importantes e a motivação para
trabalhar porque se sentem abandonados pela gestão ou pelo coordenador de
equipa.Perante a indiferença da gestão e a lesão de direitos o trabalhador pode
sentir uma grande desmotivação e até revolta.Este pode ser o caminho para a
depressão e para a emergência de outras doenças psiquicas ou físicas.
O enquadramento da gestão é muito importante
com medidas de contacto pessoal e de equipa, com propostas de formação mantendo
sempre o trabalhador nos projectos que tem em mãos.
As organizações de trabalhadores devem igualmente manter o contacto com os trabalhadoresm promover ações de informação, formação e ação colectiva.
5. Evitar os riscos de agressão e violência para com os trabalhadores
Quase todas as empresas e serviços públicos
têm um ou mais departamentos com funcionários que atendem ou contactam com o
público.Estes trabalhadores estão particularmente expostos aos riscos de
assédio e violência no trabalho.
Neste quadro é importante não apenas a
formação específica destes trabalhadores como a construção de medidas
organizacionais que previnam as causas das agressões, verbais ou físicas, do público, nomeadamente dirigidas ao bem
estar dos utentes e cidadãos, a rapidez e eficiência dos serviços e a segurança
de pessoas e bens.
A prevenção dos riscos psicossociais deve estar
enquadrada no plano geral de prevenção de riscos profissionais tendo em conta o
novo contexto de pandemia.Nesta prevenção, nomeadamente na avaliação de riscos
é fundamental a participação dos trabalhadores e suas organizações.
Fontes:ACT;INRS;EU-OSHA,DGS-ETUI
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