terça-feira, 14 de julho de 2020

A VISÃO ESTRATÉGICA DO SR.COSTA SILVA: e os trabalhadores?

Dei-me ao trabalho de ler, embora por alto, o documento do famoso António Costa Silva intitulado

pomposamente «Visão estratégica para o Plano de Recuperação Económica e Social»  com um total de 120 páginas na versão que me chegou.

Depois de analisar o indice e de ir lendo capítulo a capítulo  nota-se que o grande ausente desta grande visão é quem trabalha  e respectivas organizações.Ausente como actor porque como não poderia deixar de ser o documento contém um capítulo sobre a qualificação.Qualificação óbviamente dos recursos humanos.Estes são mais uma das questões  que devem ser tratadas como o mar, a floresta, as tecnologias etc.

Assim, neste documento retintamente tecnocrata onde se diz com todas as letras que é necessário pensar «fora das ortodoxias de direita e de esquerda e encontrar um equilibrio virtuoso entre Estado e Mercado»» os trabalhadores e suas organizações estão ausentes como actor social, económico e político.Não podemos deixar de sorrir com este virtuoso, um conceito tão pouco rigoroso num economista ou cientista social.Mas afinal onde se situa políticamente o sr. Costa?Lendo o documento ficamos a saber.

Embora se diga em vários locais que a competitividade não deve ser conseguida pelos baixos salários nada contém este documento no sentido de evitar essa estratégia empresarial.O Sr.Costa fala antes num ridículo pacto Empresas/Estado, dizendo claramente em várias páginas que o estado existe antes de mais nada para apoiar a competitividade e capitalização das empresas, para além da estafada função de regulador.

Esta visão estratégica do Sr. Costa é assim uma visão neo corporativa onde se desenha uma sociedade altamente tecnológica, verde e competitiva tendo por base uma «santa aliança» entre o Estado e o mercado, ou seja,teoriza um capitalismo pós corona, um capitalismo verde e digital, pretensamente regulado, mas igualmente explorador dos trabalhadores.

Mas então a «visão» do sr. Costa não tem nada, mesmo nada que se aproveite?Terá certamente, embora algumas ideias ali plasmadas já o foram por outros visonários do sistema e, em alguns casos, há décadas.A necessidade de se ter uma estratégia para o mar,para a floresta, para o digital, para as energias renováveis, etc,etc.

Apenas um reparo:embora dizendo que vamos ter fundos europeus como nunca tivemos,o que ainda não é absolutamente certo, esta visão estratégica para dez anos exigiria milhares de milhões de euros para se implementar.No entanto, mesmo com todos esses fundos europeus, a nossa dívida é enorme.Mas sobre este assunto, tão importante relativamente ao investimento o sr. Costa pouco ou nada diz.

Mas sendo esta visão estratégica tão pouco pertinente qual é a sua importância?Apenas porque o sr Costa poderá vir a ser ministro a curto ou médio prazo.Mais um ministro que tem uma visão moderna e futurista de um capitalismo verde mas onde não cabem as organizações de trabalhadores e o seu importante papel na sociedade, no aprofundamento da democracia, no bem estar dos trabalhadores, numa economia que não mate mas que alimente todo um povo.


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