quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

DESCARAMENTO NADA CRISTÃO!

Numa conferência exótica realizada há poucos dias em Lisboa o advogado António Pinto Leite, atual Presidente da Associação Cristã de Empresários e Gestores, (ACEGE) afirmou, segundo o jornal Negócios, que a legislação laboral deveria ser alterada para permitir às empresas baixarem os salários! Como argumento a favor diz, pasme-se, que tal já se passa na realidade e, portanto, haveria que adequar a lei a esta realidade!


O referido senhor advogado considera ainda, do alto da sua posição protegida, que o despedimento por não cumprimento de objetivos deveria ser possível! Afinal ele fala como empresário é óbvio! No entanto este empresário e advogado conseguiu ser Presidente de uma associação que se intitula «cristã», não sendo até agora desautorizada pela Igreja Católica!

Pinto Leite usa um raciocínio muito pobre, ou então a lógica é uma batata! Com o mesmo argumento diríamos que havendo mais crimes nos últimos anos e adequando a lei á realidade deveríamos facilitar a ação dos criminosos, diminuindo nomeadamente as penas! Aceita ele esta ideia lá do alto do seu conservadorismo inato e de classe? Claro que não!

Por outro lado, gostaria de perguntar a Pinto Leite se ele, ao exigir despedimentos e diminuição salarial, se inspira em algum capítulo de alguma encíclica, diretriz da «Doutrina Social» da Igreja Católica ou, antes, em pensamento heterodoxo da sua associação «cristã»! É que eu nas minhas leituras destas matérias sempre vi a exigência do pagamento a tempo e horas do justo salário! Até vi outras propostas como salário e vida digna, participação nos lucros e na vida da empresa, respeito pelo descanso, em particular ao domingo, aspetos que a maioria dos empresários portugueses não pratica, mesmo em tempos de «vacas gordas».

Nunca li algo semelhante às propostas de Pinto Leite, salvo em alguns discursos de comentadores com interesses económicos mais ou menos visíveis! Logo, Pinto Leite estava a falar como empresário ou advogado de empresários! Até porque parece não ter havido na dita conferencia ninguém que interpelasse Pinto Leite sobre a justeza das suas reivindicações. É esclarecedora esta unanimidade!

Este oportunismo, nomeadamente na utilização da sigla «cristã», frequente em muitos dirigentes do nosso associativismo, apenas descredibiliza o mesmo e afasta os cidadãos do necessário empenhamento social. Estas chamadas «elites» chegaram ao cúmulo do descaramento com as suas propostas económicas e sociais! É a vingança geracional e histórica pela Revolução de Abril! É a revanche contra os trabalhadores, principais protagonistas das transformações ocorridas no nosso país! Até onde querem chegar? Até onde os deixarmos!

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