domingo, 3 de outubro de 2010

AINDA SOBRE A GREVE GERAL!

A CGTP decidiu por unanimidade organizar uma greve geral para 24 de Novembro.Tudo indica que foi uma proposta amadurecida por uma vanguarda mas não por um amplo movimento de debate e auscultação dos trabalhadores!A greve geral, nascida como arma final do movimento operário, é um instrumento de luta excepcional!Para os sindicalistas anarco-sindicalistas era a condição para uma insurreição social capaz de destruir o capitalismo e criar um mundo novo!Tinha assim, esta forma de luta ,um carácter mítico.

Ao longo dos tempos a greve geral foi várias vezes utilizada, muitas vezes com impacto político e alterando a relação de forças políticas entre os actores da sociedade, outras vezes sem grande impacto social e político. Para ter impacto e alterar a relação de forças e «valer a pena» a greve geral, hoje mais do que nunca ,deve ser pensada tendo em conta os dados de cada situação concreta.

Não duvido que alguns sectores de trabalhadores estão preparados para fazerem um dia de greve.Aliás mais dias seria um desastre para a sua economia doméstica!

Na Administração Pública um dia de greve apenas pode criar problemas em alguns sectores ou «chatear » o público utente, ou seja o cidadão.-Noutros sectores o Estado apenas poupa o dia de salário dos grevistas!

Relativamente aos transportes e dado o sistema de passes que envolve a maioria dos trabalhadores, um dia de greve não afecta em especial as empresas públicas e privadas de trasportes.A Greve apenas irrita os utentes e naturalmente o Governo!

Daqui resulta que nas condições actuais é fundamental a participação dos trabalhadores do sector privado na greve geral!Ora aqui é que está o principal problema da próxima greve geral.

A crise, embora contenha os elementos de congelamento de salários e despedimentos colectivos, aumentou o desemprego que ameaça subir e assim é um machado sobre a cabeça de todo e qualquer trabalhador do sector privado!

A precariedade, a irmã do desemprego, afecta centenas de milhares de trabalhadores que, por mais vontade que tenham de protestar, fazem contas à vida antes de aderirem a uma greve geral!

Neste quadro a adesão á greve geral passará fundamentalmente pelas grandes empresas como aconteceu ,aliás, em Espanha na recente greve geral de 29 de Setembro!
Tudo isto que aqui lembro sabe-o qualquer dirigente sindical.Todavia, para alguns o interesse político na greve é superior a estas considerações.
Mas estas considerações devem servir para se pensarem em outras formas de luta adaptadas á situação presente e que não passem simplesmente pelas chamadas tradicionais «acções de massas» tão ao gosto dos vanguardistas!Formas de luta que envolvam sectores da população que não podem aderir a greves mas que querem protestar.Formas de luta que afectem económicamente as empresas e defendam os interesses dos consumidores.Formas de luta de defesa dos postos de trabalho, articulando estas com a defesa dos consumidores como se deveria fazer nas lutas das portagens (alguém defende os postos de trabalho dos portageiros?).

Sei que não é fácil organizações tradicionais rotinadas em determinados processos fazerem emergir acções diferentes!Pelo menos devem-se fazer novas alianças sociais e políticas e não partir «orgulhosamente sós» para a luta!

1 comentário:

gritosnosilêncio disse...

Apenas quero concordar com tudo que referes neste post. Falta processos de luta criativa aos sindicatos, por ventura porque muitos de nós deixou de sentir que o sindicato é uma organização independente e consequentemente muitos activistas e pensadores foram abandonando esta forma de participação cívica.

Precisamos de um novo 25 Abril, onde alguns estadistas "morram" para dar lugar a uma nova vaga de intervenção social e que construam novas pontes neste mundo globalizado e desafiador.