Há muito que a direita esperava uma oportunidade para avançar na sua agenda de restringir o direito
constitucional à greve. A greve dos vários sindicatos ferroviários deste mês de maio, coincidindo com a campanha eleitoral, veio mesmo a calhar para esse ataque despudorado e orquestrado em toda a linha.
Aproveitando o
descontentamento dos utentes com as implicações das greves na sua vida diária,
os dirigentes políticos dos partidos da direita e vários comentadores têm
zurzido forte nos sindicatos aproveitando para retirar dividendos políticos e
eleitorais.
Podemos criticar este aproveitamento e oportunismo, claro!
Mas eles estão a fazer o seu trabalho político, trabalhando para, caso ganhem
as próximas eleições legislativas com alguma folga, alterarem a lei da greve
restringindo este direito fundamental dos trabalhadores e há muito exigido por
alguns setores patronais e até do aparelho do Estado.
O principal argumento dos comentadores de serviço ligados
aos interesses económicos, televisões e escritórios de advogados é a de que
estas greves fazem muitos transtornos aos utentes pobres porque não usam o
transporte privado e precisam da ferrovia para ir para o trabalho. Acrescentam outros
que com o sistema de passes a CP não é excessivamente prejudicada, mas muito
mais os próprios utentes.
Fico verdadeiramente admirado com o sentimento de
solidariedade destes comentadores que usam, alguns deles, bons carros para se
deslocarem e nunca pensam nos trabalhadores pobres suburbanos! Estas «gralhas» televisivas puxam sempre para o mesmo lado, ou seja, fazendo o jogo de quem
lhes paga, claro!
No entanto, estes argumentos que eles esgrimem
oportunisticamente e com objetivos eleitorais têm fundamento como toda a gente sabe.
Basta falar com os passageiros que fazem todos os dias a viagem de comboio na área
metropolitana de Lisboa e do Porto.
Ora, mas os sindicalistas ferroviários não conhecem muito
bem esta realidade? Claro que conhecem. No grupo sindical existem sindicalistas
com anos, e até décadas, de atividade! Então como se percebe que um grande
conjunto de sindicatos se tenham unido para fazerem uma luta neste contexto político
e eleitoral, dando involuntariamente uma oportunidade ao governo de fazer o que
está a fazer? É óbvio que estas greves não estão a ter uma particular simpatia
de ninguém e até os próprios setores da esquerda se sentem constrangidos. Alias,
greves nos transportes são sempre complexas.
Mas será que os sindicatos ferroviários avaliaram mal a
situação e vão cometer um erro que vai sair caro à sua classe e aos
trabalhadores em geral? Creio que é uma hipótese muito provável. Partiram da hipótese
de que este governo fragilizado e em eleições, pródigo com as forças de
segurança e outras categorias profissionais, iria permitir à administração da
CP regularizar neste momento situações que se arrastam há longo tempo para
evitar greves nas eleições.
O facto de se conseguir uma larga adesão dos grevistas não
pode perturbar a nossa visão mais global! Uma greve também deve ser avaliada
pela sua eficácia na obtenção dos objetivos, pelo seu impacto e consequências
políticas
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