segunda-feira, 12 de maio de 2025

AS GREVES NOS COMBOIOS FOI UMA CARTA DADA À DIREITA POLÍTICA?

 

Há muito que a direita esperava uma oportunidade para avançar na sua agenda de restringir o direito


constitucional à greve. A greve dos vários sindicatos ferroviários deste mês de maio, coincidindo com a campanha eleitoral, veio mesmo a calhar para esse ataque despudorado e orquestrado em toda a linha.

 Aproveitando o descontentamento dos utentes com as implicações das greves na sua vida diária, os dirigentes políticos dos partidos da direita e vários comentadores têm zurzido forte nos sindicatos aproveitando para retirar dividendos políticos e eleitorais.

Podemos criticar este aproveitamento e oportunismo, claro! Mas eles estão a fazer o seu trabalho político, trabalhando para, caso ganhem as próximas eleições legislativas com alguma folga, alterarem a lei da greve restringindo este direito fundamental dos trabalhadores e há muito exigido por alguns setores patronais e até do aparelho do Estado.

O principal argumento dos comentadores de serviço ligados aos interesses económicos, televisões e escritórios de advogados é a de que estas greves fazem muitos transtornos aos utentes pobres porque não usam o transporte privado e precisam da ferrovia para ir para o trabalho. Acrescentam outros que com o sistema de passes a CP não é excessivamente prejudicada, mas muito mais os próprios utentes.

Fico verdadeiramente admirado com o sentimento de solidariedade destes comentadores que usam, alguns deles, bons carros para se deslocarem e nunca pensam nos trabalhadores pobres suburbanos! Estas «gralhas» televisivas puxam sempre para o mesmo lado, ou seja, fazendo o jogo de quem lhes paga, claro!

No entanto, estes argumentos que eles esgrimem oportunisticamente e com objetivos eleitorais têm fundamento como toda a gente sabe. Basta falar com os passageiros que fazem todos os dias a viagem de comboio na área metropolitana de Lisboa e do Porto.

Ora, mas os sindicalistas ferroviários não conhecem muito bem esta realidade? Claro que conhecem. No grupo sindical existem sindicalistas com anos, e até décadas, de atividade! Então como se percebe que um grande conjunto de sindicatos se tenham unido para fazerem uma luta neste contexto político e eleitoral, dando involuntariamente uma oportunidade ao governo de fazer o que está a fazer? É óbvio que estas greves não estão a ter uma particular simpatia de ninguém e até os próprios setores da esquerda se sentem constrangidos. Alias, greves nos transportes são sempre complexas.

Mas será que os sindicatos ferroviários avaliaram mal a situação e vão cometer um erro que vai sair caro à sua classe e aos trabalhadores em geral? Creio que é uma hipótese muito provável. Partiram da hipótese de que este governo fragilizado e em eleições, pródigo com as forças de segurança e outras categorias profissionais, iria permitir à administração da CP regularizar neste momento situações que se arrastam há longo tempo para evitar greves nas eleições.

O facto de se conseguir uma larga adesão dos grevistas não pode perturbar a nossa visão mais global! Uma greve também deve ser avaliada pela sua eficácia na obtenção dos objetivos, pelo seu impacto e consequências políticas

Comunicado dos sindicatos

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