Um companheiro e amigo, dirigente da CGTP, dizia-me que não
entendia algumas críticas que algumas pessoas faziam a esta Central Sindical,
considerando-a partidarizada ou com falta de autonomia!
Tivemos uma saudável
conversa sobre a matéria e até lhe enviei a foto de um livrinho das Edições
BASE intitulado «Sindicalismo e política”! Claro que hoje pouca gente lê estes
livrinhos de sindicalismo e até de política!
Os jovens partidários, muitos deles licenciados, fazem a
carreira para subirem nos partidos e sabem tudo e mais alguma coisa e alguns
jovens sindicalistas aprendem umas tretas de sindicalismo e de política e
esperam ansiosamente que os mais velhos larguem as direções dos sindicatos!
Mas os sindicalistas não podem ter simpatias partidárias e
até serem militantes partidários? Claro que podem! Estarão a exercer a sua
cidadania, exercendo os seus direitos políticos! Acontece até que são os
militantes dos partidos que sustentam a estrutura do movimento sindical em
quase todo o mundo! Acontece que quando o sindicato tem uma direção da minha
linha política é um bom sindicato. Porém, quando a linha sindical é de um
partido concorrente, então o sindicato não é bom e está partidarizado!
Os partidos podem dividir os trabalhadores?
Temos já aqui um primeiro problema. Os partidos políticos
podem dividir os trabalhadores e as suas organizações dificultando a unidade e
a ação conjunta!
Por outro lado, temos algumas conceções de sindicalismo que
submetem os sindicatos e os trabalhadores à direção política partidária. É o
caso do sindicalismo influenciado pelo leninismo, em que o Partido dirige todas
as outras organizações de massas, nomeadamente os sindicatos! Este sindicalismo
defende a unidade dos trabalhadores e o controlo de toda a estrutura sindical
por quadros do Partido! Este sindicalismo pode ter eficácia na sua ação
centralizada, mas tende a ter um discurso pouco criativo, a chamada «cassete»,
burocrático. Os seus quadros podem cair no sectarismo, reduzindo a base social
dos sindicatos. Apenas os trabalhadores que se identificam com aquele discurso
próximo do partido continuam sindicalizados.
Temos também o caso do sindicalismo reformista, mais ou
menos social-democrata ou social-cristão em que o sindicato trata das questões
laborais e a política fica para os partidos! Este sindicalismo defende a pluralidade
sindical e as correntes político-ideológicas através do «direito de tendência»,
transformando os sindicatos em «parlamentos»! É um sindicalismo que pretende
apenas as migalhas do banquete!
O sindicalismo autónomo e de classe
Ora, o sindicalismo de classe, autónomo e de massas é uma
conceção de organização que defende na prática todos os trabalhadores, para além das
conceções políticas e religiosas de cada trabalhador! É um sindicalismo
político e cultural, mas não partidarizado. Elabora pensamento e estratégias de
ação com autonomia, ou seja, elabora uma análise política e discurso próprios,
com imprensa própria e procurando influenciar a sociedade, nomeadamente os
partidos que estão mais próximos sob ponto de vista de reivindicações e até de
pensamento! O seu discurso de classe deve ser, no entanto, abrangente. A
abertura deve ser total para que cada trabalhador possa evoluir politicamente
na medida em que se torna um sindicalista antes de mais nada no local de
trabalho, verdadeira escola sindical! É nas lutas sindicais que o trabalhador vai evoluir e sentir que tem objetivos, não meramente individuais e profissionais ,mas também e sobretudo, objetivos de classe e de emancipação.
Historicamente foram mais os sindicatos que deram origem aos partidos!
Historicamente foram mais os sindicatos que deram origem aos
partidos dos trabalhadores do que ao contrário! O Partido Comunista Português
nasceu de um grupo de sindicalistas. O histórico Partido Socialista nasceu das
associações de classe, existindo uma intercomunicação de ambas as organizações!
Já o atual PS, que nunca sabemos se renega ou assume o antigo Partido
Socialista ,nascido no século passado, não tinha um sindicalista no grupo
fundador! Aliás, este Partido nunca considerou devidamente os militantes sindicais!
Temos o caso do Partido dos Trabalhadores do Brasil que teve origem nos sindicatos e onde Lula se fêz um verdadeiro líder sindical e, posteriormente partidário, e, mais tarde, Presidente daquele País!
Em Portugal a INTERSINDICAL, mais tarde CGTP, nasceu da ação de militantes partidários ,comunistas, socialistas e muitos quadros independentes, em larga percentagem das Organizações da Ação Católica Operária!
O caso da UGT portuguesa é muito especial, pois sabemos hoje que foi criada por sindicalistas de serviços e da Banca do PS e do PSD ,quase obrigados pelas cúpulas daqueles partidos e pela social-democracia europeia, que consideravam vital quebrar a influência da Intersindical constituída maioritariamente por quadros do PCP.
Os sindicalistas dos partidos são quase sempre os mais
avançados politicamente, mas não podem cair na armadilha de tudo partidarizar!
Partidarizar nesta estrutura de sociedade divide os locais de trabalho em
afetos a este e aquele partido!
Infelizmente a maioria dos jovens trabalhadores estão hoje
afastados dos partidos e dos sindicatos. Conhecem pouco da História do
sindicalismo, não conhecem as vantagens de estar sindicalizado e até consideram
que não precisam do sindicato! Todavia, são muito sensíveis à partidarização
dos sindicatos!
É urgente pensar em formas de atrair os jovens para os
sindicatos, de lhes dar protagonismo nos mesmos e de lhes proporcionar formação
sindical! Há que melhorar a proteção legal do ativista e delegado sindical nas
empresas e serviços! Não podemos perder de vista que a população inscrita em partidos é muito minoritária!