terça-feira, 20 de maio de 2025

NOVO PAPA? Veremos pelas obras...

 

Devo confessar que não estava virado para escrever sobre o novo Papa Leão XIV! Mas como vi e li tanto entendido no assunto, resolvi também dar o meu palpite, ora bem!

Aliás, muito do que se diz e escreve são meras conjunturas e futurismo, muito baseados no trajeto de vida do Cardeal Robert Prevost! No entanto, muito em breve saberemos se este Papa é um continuador de Francisco ou , antes, um stop a Francisco. Não falo do estilo de um e de outro, pois cada um tem a sua maneira de comunicar, de se aproximar das pessoas ou ficar mais distante das mesmas, utilizando assim o seu poder real e simbólico!

Será pelas obras que saberemos. Como vai o novo Papa posicionar-se perante o Sínodo que Francisco colocou nos carris? Vai congelar o movimento tranquilizando os conservadores clericais que consideram a dinâmica sinodal , de escuta, de debate, um movimento perigoso? Vai tranquilamente, mas com firmeza, continuar a dinâmica de participação que inclui toda a gente?

Vai permitir que as mulheres cristãs possam ter um lugar na Igreja, já não digo em paridade, mas pelo menos com poder de decisão nas estruturas e nos ministérios? Ou vai travar o debate e reforçar o clericalismo e o machismo nas estruturas de poder?

Vai este Papa, tendo em conta a sua experiência pastoral nas periferias oprimidas, enfrentar com sabedoria o catolicismo retrógrado americano assente numa «teologia da prosperidade» que mais não é do que uma ideologia de justificação dos ricos e das desigualdades? Ou, tendo em conta as dívidas do vaticano, as suas origens numa Igreja americana aburguesada, vai pactuar com esses setores católicos?

Vai este Papa dar alento aos Movimentos populares para que os mais pobres de todo o mundo tenham teto, terra e trabalho? Vai interessar-se pelos novos trabalhadores explorados pela economia de plataformas, pelos imigrantes vítimas das máfias e de patrões sem escrúpulos? Vai dar ânimo aos sindicalistas de todo o mundo para que lutem pela dignidade dos trabalhadores?

O catolicismo reacionário que alimenta algumas elites americanas e europeias vai procurar influenciar este Papa e colocar mais das suas pedras no vaticano. Vai fazer todos os possíveis para alimentar o voto na extrema direita.

Poderão dizer-me que este Papa tem como objetivos principais a unidade da Igreja Católica e a Paz. Sim, aceito. Todavia, a unidade não se faz pactuando com a imobilidade, com o autoritarismo, com o clericalismo que renasce por todo o lado, apesar das críticas e alertas de Francisco. Também a paz exige profetismo, audácia e inclusão, construindo pontes e espaços de paz. A ver vamos….

segunda-feira, 12 de maio de 2025

AS GREVES NOS COMBOIOS FOI UMA CARTA DADA À DIREITA POLÍTICA?

 

Há muito que a direita esperava uma oportunidade para avançar na sua agenda de restringir o direito


constitucional à greve. A greve dos vários sindicatos ferroviários deste mês de maio, coincidindo com a campanha eleitoral, veio mesmo a calhar para esse ataque despudorado e orquestrado em toda a linha.

 Aproveitando o descontentamento dos utentes com as implicações das greves na sua vida diária, os dirigentes políticos dos partidos da direita e vários comentadores têm zurzido forte nos sindicatos aproveitando para retirar dividendos políticos e eleitorais.

Podemos criticar este aproveitamento e oportunismo, claro! Mas eles estão a fazer o seu trabalho político, trabalhando para, caso ganhem as próximas eleições legislativas com alguma folga, alterarem a lei da greve restringindo este direito fundamental dos trabalhadores e há muito exigido por alguns setores patronais e até do aparelho do Estado.

O principal argumento dos comentadores de serviço ligados aos interesses económicos, televisões e escritórios de advogados é a de que estas greves fazem muitos transtornos aos utentes pobres porque não usam o transporte privado e precisam da ferrovia para ir para o trabalho. Acrescentam outros que com o sistema de passes a CP não é excessivamente prejudicada, mas muito mais os próprios utentes.

Fico verdadeiramente admirado com o sentimento de solidariedade destes comentadores que usam, alguns deles, bons carros para se deslocarem e nunca pensam nos trabalhadores pobres suburbanos! Estas «gralhas» televisivas puxam sempre para o mesmo lado, ou seja, fazendo o jogo de quem lhes paga, claro!

No entanto, estes argumentos que eles esgrimem oportunisticamente e com objetivos eleitorais têm fundamento como toda a gente sabe. Basta falar com os passageiros que fazem todos os dias a viagem de comboio na área metropolitana de Lisboa e do Porto.

Ora, mas os sindicalistas ferroviários não conhecem muito bem esta realidade? Claro que conhecem. No grupo sindical existem sindicalistas com anos, e até décadas, de atividade! Então como se percebe que um grande conjunto de sindicatos se tenham unido para fazerem uma luta neste contexto político e eleitoral, dando involuntariamente uma oportunidade ao governo de fazer o que está a fazer? É óbvio que estas greves não estão a ter uma particular simpatia de ninguém e até os próprios setores da esquerda se sentem constrangidos. Alias, greves nos transportes são sempre complexas.

Mas será que os sindicatos ferroviários avaliaram mal a situação e vão cometer um erro que vai sair caro à sua classe e aos trabalhadores em geral? Creio que é uma hipótese muito provável. Partiram da hipótese de que este governo fragilizado e em eleições, pródigo com as forças de segurança e outras categorias profissionais, iria permitir à administração da CP regularizar neste momento situações que se arrastam há longo tempo para evitar greves nas eleições.

O facto de se conseguir uma larga adesão dos grevistas não pode perturbar a nossa visão mais global! Uma greve também deve ser avaliada pela sua eficácia na obtenção dos objetivos, pelo seu impacto e consequências políticas

Comunicado dos sindicatos

domingo, 4 de maio de 2025

SINDICALISMO E POLÍTICA- um debate polémico e sempre atual!

 

Um companheiro e amigo, dirigente da CGTP, dizia-me que não entendia algumas críticas que algumas pessoas faziam a esta Central Sindical, considerando-a partidarizada ou com falta de autonomia!


Tivemos uma saudável conversa sobre a matéria e até lhe enviei a foto de um livrinho das Edições BASE intitulado «Sindicalismo e política”! Claro que hoje pouca gente lê estes livrinhos de sindicalismo e até de política!

Os jovens partidários, muitos deles licenciados, fazem a carreira para subirem nos partidos e sabem tudo e mais alguma coisa e alguns jovens sindicalistas aprendem umas tretas de sindicalismo e de política e esperam ansiosamente que os mais velhos larguem as direções dos sindicatos!

Mas os sindicalistas não podem ter simpatias partidárias e até serem militantes partidários? Claro que podem! Estarão a exercer a sua cidadania, exercendo os seus direitos políticos! Acontece até que são os militantes dos partidos que sustentam a estrutura do movimento sindical em quase todo o mundo! Acontece que quando o sindicato tem uma direção da minha linha política é um bom sindicato. Porém, quando a linha sindical é de um partido concorrente, então o sindicato não é bom e está partidarizado!

Os partidos podem dividir os trabalhadores?

Temos já aqui um primeiro problema. Os partidos políticos podem dividir os trabalhadores e as suas organizações dificultando a unidade e a ação conjunta!

Por outro lado, temos algumas conceções de sindicalismo que submetem os sindicatos e os trabalhadores à direção política partidária. É o caso do sindicalismo influenciado pelo leninismo, em que o Partido dirige todas as outras organizações de massas, nomeadamente os sindicatos! Este sindicalismo defende a unidade dos trabalhadores e o controlo de toda a estrutura sindical por quadros do Partido! Este sindicalismo pode ter eficácia na sua ação centralizada, mas tende a ter um discurso pouco criativo, a chamada «cassete», burocrático. Os seus quadros podem cair no sectarismo, reduzindo a base social dos sindicatos. Apenas os trabalhadores que se identificam com aquele discurso próximo do partido continuam sindicalizados.

Temos também o caso do sindicalismo reformista, mais ou menos social-democrata ou social-cristão em que o sindicato trata das questões laborais e a política fica para os partidos! Este sindicalismo defende a pluralidade sindical e as correntes político-ideológicas através do «direito de tendência», transformando os sindicatos em «parlamentos»! É um sindicalismo que pretende apenas as migalhas do banquete!

O sindicalismo autónomo e de classe

Ora, o sindicalismo de classe, autónomo e de massas é uma conceção de organização que defende na prática todos os trabalhadores, para além das conceções políticas e religiosas de cada trabalhador! É um sindicalismo político e cultural, mas não partidarizado. Elabora pensamento e estratégias de ação com autonomia, ou seja, elabora uma análise política e discurso próprios, com imprensa própria e procurando influenciar a sociedade, nomeadamente os partidos que estão mais próximos sob ponto de vista de reivindicações e até de pensamento! O seu discurso de classe deve ser, no entanto, abrangente. A abertura deve ser total para que cada trabalhador possa evoluir politicamente na medida em que se torna um sindicalista antes de mais nada no local de trabalho, verdadeira escola sindical! É nas lutas sindicais que o trabalhador vai evoluir e sentir que tem objetivos, não meramente individuais e profissionais ,mas também e sobretudo, objetivos de classe e de emancipação.

Historicamente foram mais os sindicatos que deram origem aos partidos!

Historicamente foram mais os sindicatos que deram origem aos partidos dos trabalhadores do que ao contrário! O Partido Comunista Português nasceu de um grupo de sindicalistas. O histórico Partido Socialista nasceu das associações de classe, existindo uma intercomunicação de ambas as organizações! Já o atual PS, que nunca sabemos se renega ou assume o antigo Partido Socialista ,nascido no século passado, não tinha um sindicalista no grupo fundador! Aliás, este Partido nunca considerou devidamente os militantes sindicais!

Temos o caso do Partido dos Trabalhadores do Brasil que teve origem nos sindicatos e onde Lula se fêz um verdadeiro líder sindical e, posteriormente partidário, e, mais tarde, Presidente daquele País!

Em Portugal a INTERSINDICAL, mais tarde CGTP, nasceu da ação de militantes partidários ,comunistas, socialistas e muitos quadros independentes, em larga percentagem das Organizações da Ação Católica Operária!

O caso da UGT portuguesa é muito especial, pois sabemos hoje que foi criada por sindicalistas de serviços e da Banca do PS e do PSD ,quase obrigados pelas cúpulas daqueles partidos e pela social-democracia europeia, que consideravam vital quebrar a influência da Intersindical constituída maioritariamente por quadros do PCP.

Os sindicalistas dos partidos são quase sempre os mais avançados politicamente, mas não podem cair na armadilha de tudo partidarizar! Partidarizar nesta estrutura de sociedade divide os locais de trabalho em afetos a este e aquele partido!

Infelizmente a maioria dos jovens trabalhadores estão hoje afastados dos partidos e dos sindicatos. Conhecem pouco da História do sindicalismo, não conhecem as vantagens de estar sindicalizado e até consideram que não precisam do sindicato! Todavia, são muito sensíveis à partidarização dos sindicatos!

É urgente pensar em formas de atrair os jovens para os sindicatos, de lhes dar protagonismo nos mesmos e de lhes proporcionar formação sindical! Há que melhorar a proteção legal do ativista e delegado sindical nas empresas e serviços! Não podemos perder de vista que a população inscrita em partidos é muito minoritária!