«O movimento sindical tem uma história muito rica. O mundo do trabalho é muito
complexo. Toda a gente se acha especialista das questões do trabalho e pronuncia-se com todo o à vontade sobre o sindicalismo, conhecendo muito pouco da matéria. Esses movimentos de rutura, de que é que resultam? Os professores não estão a reivindicar, neste momento, nem aumentos de salários, nem novas carreiras.
Os professores estão a
fazer uma denúncia da situação em que se encontram, que é de achincalhamento e
de exaustão, por cargas de trabalho letivo e burocrático, e um protesto forte,
porque os seus direitos não são tidos em conta, enquanto os governantes fingem
que respondem e não respondem».(Manuel Carvalho da Silva in entrevista à Renascença
/JN,5/02/2023)
Até ao momento os protestos tiveram a compreensão de muitos portugueses, apesar dos problemas que têm com
os filhos em idade escolar; os sindicatos da FNE e FENPROF deram corda aos
sapatos e desencadearam os seus próprios protestos para não serem ultrapassados
e ainda mais esvaziados de sócios; o governo,por seu lado, anda como uma barata
tonta sem conseguir ganhar a confiança mínima das organizações sindicais para
se iniciarem diálogos que nãos sejam de surdos; o STOP, sendo um pequeno
sindicato, surfou a onda de descontentamento e exaustão dos professores, radicalizou
a luta para obter ganhos organizativos com a adesão de sócios e ter a vanguarda
da luta.Há quem pense que mais uma vez os sindicatos mais antigos poderão ser
desafiados por novas organizações com táticas mais radicais e participativas,
mobilizando diversas classes para objectivos comuns.
A questão que agora se
coloca na sociedade é a seguinte:será possível que todos os actores deste
conflito ganhem com o mesmo?Apenas se os professores ganharem algumas das
reivindicações apresentadas;caso contrário todos vão perder, inclusive o
governo.
Então será necessário que
governo e sindicatos consigam uma plataforma de entendimento e confiança e que
os sindicatos consigam também uma plataforma reforçada de confiança, unidade e
autonomia;caso contrário é certo que alguns actores vão bater com a cabeça na
parede.A concorrência sindical e partidária exacerbada aprofunda a divisão ,fragmenta
as forças perante o poder político.
Mas o que espanta é a
incapacidade do governo, nomeadamente do ministro da educação,em obter essa
confiança e um acordo de curto e medio prazo para dignificar a carreira de
professor, recentrar o seu trabalho na educação, com mais pedagogia e menos
burocracia, condições de trabalho e
salários dignos.
Um estudo realizado pela FENPROF antes da covid sobre as condições de trabalho dos professores dizia que 70% dos professores já estavam naquela altura em exaustão.Agora como estarão?Pior?Muitos estão a reformar-se, outros estão de baixa.Então o governo tem que tomar medidas pra os próximos meses e para os próximos anos!A primeira medida é pacificar os trabalhadores da educação e contar com eles e com as suas organizações para construir o futuro.Com todas as organizações e não apenas com algumas.O chamado poder democrático fala muito em diálogo social,mas raramente vemos um diálogo genuíno entre poder político e sindicatos.Vemos sim limitações à greve com serviços mínimos em todos os movimentos grevistas mais fortes!O Partido Socialista, neste capítulo, comporta-se como um verdadeiro partido liberal!
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