O Papa Francisco continua a agitar as águas do mundo e qualquer
pessoa,crente ou pouco crente,não pode deixar de admirar este homem fragilizado e bastante idoso pela sua enorme energia e lucidez!
É
espantoso como tem desencadeado e dinamizado em simultâneo três dinâmicas no
mundo católico com um entusiasmo contagiante e ecuménico,são elas:
-O
Sínodo da Igreja que abala a estrutura clerical
-A
economia de Francisco que envolve alguns sectores de jovens e universitários de
todo o mundo e pretende um novo modelo
económico;
-As
Jornadas Mundiais da Juventude de Lisboa onde a Igreja Católica pretende
afirmar-se como mobilizadora de massas e é a actividade que mais ambiguidade
comporta.
A
sua atitude obriga-me mais uma vez a falar de assuntos que actualmente
acompanho da periferia, porque óbviamente me sinto desafiado.Em todas estas
iniciativas Francisco parte de uma abordagem muito própria, ou seja, das
periferias , dos marginalizados e sem voz, da necessidade de fazer justiça aos
injustiçados e defender a «Mae Terra».As suas referências centrais são bem
conhecidas: a figura espantosa de Francisco de Assis que se fez pobre no meio
dos pobres, contestando a deriva de poder e dinheiro da própria Igreja e proclamou o amor a todos os seres da terra,
e a parábola do samaritano, aquele que, sendo marginal ao povo eleito, se
compadeceu de quem sofria.
O
acontecimento mais recente foi o «Encontro de Assis» sobre a Economia de
Francisco.Perante um capitalismo predador da terra e dos pobres, fomentador da
guerra ,da violência e competição, Francisco procura incentivar um movimento
dinamico global de vontades e competências para encontrar saídas para esta«
economia que mata».Francisco supera aqui a tradicional «Doutrina Social da
Igreja» e é muito mais abrangente, interrogativo e aberto.Aponta as linhas
mestras de um outro modelo económico mas não apresenta um modelo concreto como
é óbvio.O novo modelo tem que respeitar a terra e os homens e as mulheres do
planeta, as riquezas distribuídas, os direitos dos trabalhadores respeitados;os
que não têm voz também devem ter voz;teto, terra e trabalho para todos.Embora
Francisco nunca o diga um tal modelo é anticapitalista
O sindicalismo mundial vai ao encontro deste
modelo de Francisco?
Entretanto,
a Confederação Sindical Internacional CSI, realiza em novembro próximo, o seu
Congresso em Melbourne,Austrália.Logo no início do projecto de declaração do
congresso podemos ler«Um novo contrato social torna-se mais urgente do que
nunca para que a economia esteja ao serviço da humanidade e para salvar as
pessoas e o planeta da destruição.Apenas com os trabalhadores organizados se
pode conseguir este novo contrato social.Este assenta as bases para a
democracia, a igualdade, uma prosperidade compartilhada para enfrentar os
desafios que a população de todo o mundo enfrenta».
O
projecto de declaração continua dizendo que mais de 2.000 milhões estão na
pobreza e no desespero, faz um levantamento das desgraças por que passam
milhões de trabalhadores nos seus locais de trabalho, nomeadamente os mais de
dois milhões que morrem por causas profissionais,as perdas de emprego e os
efeitos da pandemia,etc,etc.Apresenta depois um conjunto de reivindicações e
compromissos para o mundo sindical, desde as condições de trabalho , ao emprego
e salários.O documento reclama um novo contrato social fundamentado em seis
reivindicações dos trabalhadores e trabalhadoras :emprego, direitos,salários,
proteção social,igualdade,inclusão.
O
documento é, no entanto, quase omisso na
explicação clara das razões destas situações,ou seja,do causador profundo
destes males ambientais e sociais-o capitalismo-embra critique num ponto ou
outro as políticas neoliberais. Evita as clivagens politicas no seio do
movimento sindical onde se encontram correntes mais á esquerda e mas á direita.No
entanto, muitas reivindicações vão ao
encontro da« Economia de Francisco», nomeadamente a justiça social, começando
por salários dignos,condições de trabalho decentes, o emprego e proteção social
para todos, paises ricos e países pobres,a defesa de transição ecológica e digital
justas, com respeito pela terra e pelos seres vivos.
Onde
está o busilis?
Os
sindicatos pretendem um novo contrato social que faça renascer a esperança de
milhões de trabalhadores e trabalhadoras,bem como as respectivas
famílias.Francisco incentiva o caminho para um novo modelo
humanista,cooperativo,ecuménico,ecológico e democrático,dando voz a quem não
tem voz.Mas temos um grosso problema que é o seguinte:quer o mundo dos
negócios, das multinacionais,dos ricos, um novo contrato social e um novo modelo
económico?Será que precisam dele?Aparentemente não precisam e a maioria não
quer qualquer contrato e sente-se muito bem acumulando riqueza,alargando o
fosso classista, protegendo-se como uma casta com direitos especiais .Claro que
os mais lúcidos perceberam que o barco ao afundar-se leva toda a gente, mas
primeiro vão os da terceira classe.
Apenas
um forte movimento sindical, político e popular a nível mundial, bem
articulado, consciente e mobilizado poderá inverter a relação de forças e
obrigar os poderosos a novos compromissos.Com a juventude, com velhas e novas
organizações.O que vemos não é isto,antes pelo contrário, vemos parte
substancial da classe trabalhadora votar na extrema direita como ocorreu na
Suécia, na França e na Itália.Vemos o movimento político socialista e social
democrata fazer compromissos com o capital na governação.Vemos grande parte do movimento sindical acomodado e
institucionalizado. Vemos pouca crença e motivação militante nas pessoas, mesmo
as mais conscientes.Há muito trabalho pela frente!Mas a esperança nunca morre
nos corações dos homens e mulheres de boa vontade!
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