Para começar devo dizer que o que aqui vou escrever são reflexões empíricas fruto de algumas leituras de sínteses de grupos católicos que
têm sido publicadas em alguns órgãos como o jornal online «Sete Margens» em Portugal.Num ou noutro caso também tenho lido reflexões de grupos católicos alemães, franceses e brasileiros.Diagamos que ainda é cedo para tirar conclusões fundamentadas.No entanto, devo dizer que, por aquilo que vou lendo, já é possível avançar algumas hipóteses de trabalho.
Algumas reflexões dos grupos católicos já têm décadas de
debate e quase nada se avançou como é o caso paradigmático do celibato
obrigatório do clero.Já foi tema candente no Concílio Vaticano II mas o Papa
Paulo VI cabou por confirmar mais uma vez a doutrina tradicional.A falta de
padres nas comunidades Católicas e a pedofilia vieram acrescentar actualidade
ao tema.Neste caso o actual Papa tem sido discreto mas não no caso da
pedofilia.
A este tema juntou-se um relativamente novo que é o
clericalismo ou o poder do clero na estrutura da Igreja e a pouca participação
e responsabilidade dos leigos, em particular das mulheres.Foi também um tema do
Vaticano II e muito caro ao actual papa Francisco, mas que o coloca como alvo
dos sectores conservadores da Igreja Católica.
Outro tema que preocupa muitos grupos no estrangeiro e em
Portugal é, sem dúvida, o afastamento dos jovens e a incapacidade que a Igreja
mostra em ter uma abordagem correcta, inclusive uma linguagem, para este
segmento de pessoas.
Economia e trabalho pouco presentes nas reflexões do sínodo
Mas a grande lacuna que eu noto são as referências à
economia e ao trabalho, bem como á importância dos movimentos sociais como
actores de transformação social e cultural.Um tema muito caro ao Papa Francisco
que, por diversas vezes, se referiu a esta economia neo liberal que descarta
pessoas como a« economia que mata».Tem promovido diversos encontros com os
movimentos sociais de todo o mundo,de jovens, de economistas, de indígenas de
camponeses, propondo a luta pelo teto, pela terra e pelo pão.
É impressionante como os católicos são sensíveis ao
sofrimento e morte, nomeadamente animam em todo o mundo as lutas anti
aborto,e estão pouco ou nada sensíveis
ao sofrimento e morte no trabalho.Nas
sinteses que tenho lido é quase absoluta esta lacuna!Parece que a maioria dos
grupos já consideram o mundo do trabalho uma guerra perdida, mesmo para os
católicos mais abertos e progressistas.
Parece que aceitam como um dado adquirido que o mundo do
trabalho e as organizações de trabalhadores não são vida das pessoas que exiga
também uma leitura ou abordagem à luz da fé cristã.
Ora, o sofrimento no trabalho e o bem estar dos
trabalhadores são temas tão importantes que ocupam uma parte significativa da
investigação na área das ciências sociais,
afecta milhões de trabalhadores e motiva organizações internacionais
como a OIT e a OMS.O mal estar no trabalho , que se tornou uma questão aguda e pertinente neste modelo
do capitalismo, coloca questões várias ao nosso modelo de sociedade.Questões
até de dignidade da pessoa humana, núcleo central do cristianismo.A intensidade
do trabalho até ao esgotamento, o assédio moral e sexual até ao suicídio, a morte
por doença profissional ou acidente de trabalho afectam profundmente a
dignidade e destino das pessoas.
A morte e o sofrimento no trabalho não preocupam os católicos?
As mortes no trabalho, acidentes e doenças profissionais,
que matam anualmente mais do que qualquer guerra,não preocupam a maioria dos
grupos católicos que estão no caminho sinodal?A exploração intensiva e as
criminosas lacunas no domínio da segurança e saúde dos trabalhadores existentes
em algumas empresas não são causas de morte no trabalho?Segurança e saúde no
trabalho que foi agora considerada pela OIT, em junho, principio e direito
fundamental dos trabalhadores a par do combate ao trabalho infantil e ao
trabalho escravo.
Nesta linha a maioria dos católicos, incluindo parte do
clero, nem conhece nem se interessa por movimentos como a Liga Operária
Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos ( LOC/MTC) que se destina a
organizar os trabalhadores e a ler o mundo com os olhos do evangelho e a agir
em consequência numa luta constante pelo trabalho digno!
É caso para dizer:trabalho e trabalhadores? Tarenego!
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