sexta-feira, 20 de novembro de 2020

A EXTREMA DIREITA, A DEMOCRACIA E OS TRABALHADORES

 Com os acordos dos Açores, que abrangem um partido da extrema direita, e com o acentuar das dificuldades


pandémicas tem crescido em mediatismo mais rápidamente do que se julgava a voz e portavozes da extrema direita em Portugal.A mando dos donos e ávidos de novidades, de intrigas e de excentricidades os «media» acabam por lhes insuflar vida e protagonismo e ajudá-los no seu caminho demagógico rumo ao poder ou á partilha do mesmo com a direita com menos pergaminhos democráticos.

A actual situação económica e social é , de facto, propícia ao discurso populista das lideranças da extrema direita e dos fascistas.As dificuldades económicas de alguns sectores de trabalhadores mais pobres, o desemprego galopante e airritação de alguns sectores da pequena burguesia ,como pequenos comerciantes, trabalhadores independentes , proprietários agrícolas e do imobiliário podem proporcionar a adesão às teses dos direitistas e levar largos sectores da população a aderirem ao projecto autoritário financiado pelo capital mais reacionário do País.

Todavia, teremos que dizer que a pandemia apenas acentuou e intensificou uma tendência que já se verificava na sociedade portuguesa, nomeadamente nas redes sociais e em algumas manifestações sectoriais, e que emergiu eleitoralmente com o aparecimento do Chega.

Esta tendencia mostra que sectores sociais significativos se radicalizaram e se viraram contra o «sistema» , ou seja, contra as governações do nosso sistema democrático.Cabe então perguntar quais as razões subjacentes a esta viragem,  este descontentamento de sectores que porventura se abstinham eleitoralmente ou votavam PSD/CDS ou até na esquerda.As respostas virão a prazo com estudos sociológicos fundamentados.

Dois milhões de portugueses continuam pobres

Entretanto podemos avançar com hipóteses de trabalho que poderão ser ou não confirmadas mais tarde:

1.O nosso regime constitucional de democracia liberal com forte dimensão económica-social foi sendo desvirtuado ao longos das décadas.Não apenas com sucessivas revisões da Constituição mas principalmente pelas políticas dos dois maiores partidos que foram governando o País.

Com efeito passado 46 anos de democracia continuamos com cerca de dois milhões de portugueses no limiar da pobreza.Apesar do Euro, os salários da maioria dos trabalhadores mantiveram-se estagnados há cerca de vinte anos. No funcionalismo público técnico ganha-se menos agora do que em 2010 graças á carga fiscal actual e á falta de aumentos anuais. Entre 10 e 12% por cento dos trabalhadores trabalham como burros e não conseguem um rendimento digno.As crises económico financeiras ,entretanto, foram ainda tornando esta realidade mais crua.Aos pensionistas pobres , até aos miseráveis 600 euros, fazem-se contas complexas para lhes dar mais 10 euros por mês!

Todavia, os salários de gestores e dos quadros de algumas profissões aumentaram  substancilamente, alguns mesmo de forma pornográfica como os banqueiros e gestores das empresas da Bolsa.Os portugueses fartam-se de ouvir e ler notícias sobre os grandes salários de alguns administradores e de estudos a dizerem que as desigualdades estão a aumentar e que os ricos estão mais ricos.

Quer queiramos quer não o regime saído do 25 de Abril não conseguiu resolver o problema de instituir uma sociedade  inclusiva e coesa.Uma larga percentagem da população vive encostada ao assistencialismo, muitos deles sem uma habitação  e emprego dignos!Não há futuro nem horizontes para muitos portugueses!

Um Estado forte com os fracos e fraco com os fortes

2.Mas será que conseguiu instituir uma justiça equitativa, onde  fosse feita justiça independentemente dos recursos de cada um?Não!A justiça é precisamente um dos pontos mais frágeis deste regime democrático.O Estado é claramente forte com os fracos e fraco com os fortes.Apesar de vários casos de corrupção e de falcatroas monumentais que levaram á falência de bancos e grupos poderosos envolvendo políticos, banqueiros e empresários a justiça não faz justiça.Ninguém desses magnatas está preso!Os portugueses fartam-se de ouvir e ler notícias de que a Polícia Judiciária faz buscas, poderá prender este e aquele, o Ministério Público trabalha árduamente.Resultados?Nada!Todos eles têm excelentes advogados pagos a peso de ouro.

Entretanto, se um pobre marginal roubar um telemóvel ou comida no supermercado pode ir para a prisão durante anos,bastando já ter uma folha pouco abonatória!

3.Mas será que o regime conseguiu instituir uma governação amada pelo povo ou por uma larga maioria da população?Cada vez menos.Mesmo os que votam neste ou naquele partido quase que o fazem por inércia ou pelo tal «dever cívico».A abstenção é enorme, mais de 50% e tende a subir!Fala-se num fosso cada vez maior entre governados e governantes, nos privilégios dos políticos!Numa reforma que nunca se faz, na afirmação de que em democracia o que conta são os votos que entram na urna!E fica-se descansado!

Nestes três pontos estão as principais razões da descrença, do afastamento e revolta de largos sectores de portugueses.A extrema direita sabe que o regime já não tem forças para se resgatar, para dar a  volta.Os partidos políticos á esquerda e á direita estão de certo modo esgotados, cansados,sem ideais.O que conta é o poder, as benesses que o mesmo pode proprocionar.Uns estão na defensiva , com medo, outros aproveitam enquanto podem.Mas não se vislumbra um rasgo, uma ofensiva concertada dos partidos menos instalados e menos comprometidos com os interesses económicos.

Cada um vive na sua capelinha, alguns com as direções em contra mão com as suas bases.Como exegetas e teólogos conventuais vivem dias e semanas a fio a negociar artigo a artigo um orçamento que pode morrer passados alguns meses.Mas não gastam uma manhã a questionarem-se e a pensarem na merda em que isto está e como erguer um futuro mais autónomo,com prioridades sociais e económicas assumidas e negociadas com um compromisso para uma legislatura para se fazerem políticas sustentáveis doa a quem doer, sem medo do patronato e da finança, valorizando quem trabalha e quem levanta este país.


Sem comentários: