Tal como o 1º de Maio de 1974 nunca será
esquecido pelos melhores motivos, também o 1º de Maio de 2020 nunca será esquecido
pelos piores motivos.Uma pandemia súbita alterou a nossa vida de forma bem
radical.
Neste 1º de Maio duas posições mais vincadas no Movimento Sindical
estiveram presentes aos olhos da sociedade:uma a da UGT que comemorou o Dia do Trabalhador
pela internet e outra a da CGTP que num gesto de afirmação levou centenas de
activistas sindicais para a rua no quadro das regras sanitárias acordadas com as
autoridades.Embora não inteiramente consensual no interior da histórica Central
Sindical, foi a posição dos sindicalistas comunistas que prevaleceu e que
organizou todo o cenário.
Embora compreenda esta posição de afirmação
sindical também entendo as reticencias de outros sindicalistas que queriam uma
comemoração mais simbólica, com poucas pessoas expostas em pleno quadro de
confinamento e de estado de emergência.É dar algumas armas aos empresários quando
os trabalhadores exigirem confinamento e medidas de proteção?´É possíve!Foi uma
ação contraditória com o que se exige a outros portugueses?Foi.Todavia, no
plano do significado foi semelhante ao
que se passou nas comemorações do 25 de Abril.O 1º de Maio tem para os
trabalhadores e para o Movimento Sindical um significado histórico e
reivindicativo mais abrangente que o próprio 25 de Abril.
Claro que alguns cronistas que defendem as
posições empresariais aproveitaram a ocasião para mais uma vez identificarem a
ação da CGTP com as estratégias do PCP.E diga-se em abono da verdade que a
Central nos últimos tempos tudo faz para que essa identificação seja cada vez
maior.Este 1º de Maio, com as entrevistas a Jerónimo de Sousa, como único líder
partidário presente, mais vincaram aos olhos dos portugueses essa
identificação.
Históricamente a direita em Portugal sempre
identificou toda a oposição com os comunistas.Existiam outras forças progressistas
como socialistas, católicos, anarquistas,revolucionários de várias cores e tendências, mas
para o regime tudo era comunista.Tal identificação era boa para o regime porque
lhe permitia tratar duramente todo o opositor e era boa para clandestino PCP
que aparecia como a única força de oposição, a única referência e medida.
Sobre a CGTP a direita faz algo semelhante.Ao
identificar a CGTP com o PCP retira desta potenciais trabalhadores e activistas
sindicais, empobrece o movimento sindical português, coloca um carimbo a todo o
sindicalista.Mas, por vezes, parece que esta identificação não desgrada ao
PCP.Por uma questão eleitoral, óbviamente, não por uma questão sindical.
O que fez grande a CGTP foi a unidade na
pluralidade
Se olharmos para a História Sindical no nosso
País veremos que o que fez grande a CGTP foi a unidade de várias correntes numa
estratégia de aceitação da pluralidade procurando-se o consenso como método de
decisão, óbviamente tendo em conta a relação de forças e a militancia sindical.
Em determinado momento, precisamente quando a
CGTP estava no seu máximo, apesar das duras lutas contra as políticas da AD, alguns
sindicalistas comunistas recearam perder o controlo da Central.Foi nos tempos
de grande sindicalistas como Luis Judas,
Florival Lança, Maria Emília Reis, Kalidás Barreto, entre outros.
Na dinâmica social também é verdade que hoje,
tanto na corrente comunista como nas outras correntes, até mais nestas, existem
grandes dificuldades de atrair
militantes para a ação sindical.Existem dirigentes profundamente empenhados,
com prejuízo das suas vidas pessoais.Todavia, o mundo mudou muito, os problemas
no trabalho aumentaram, diminuiram os sindicalizados e centralizaram-se as
estruturas sindicais.O objectivo central é hoje manter a estrutura e o discurso repetitivo e
autojustificativo.
A formação sindical e política dos
sindicalistas modernizou-se na forma mas pouco nos conteúdos .Temos activistas
que não fazem fronteiras entre o partido e o sindicato e ate´ficam desconfiados
se, por acaso, aparece um trabalhador que, sendo activista, não é partidário.Convocam-se
hoje os activistas para uma ação sindical e amanhã o mesmo dirigente convoca os
mesmos para uma ação eleitoral do partido.No entanto, em
plena manifestação gritam há décadas «unidade sindical»!
Esta não transparência e promiscuidade não
ajuda ao recrutamento de novos trabalhadores e ao alargamento da base
sindical.Poderemos ter um sindicato pequeno mas coeso e útil para a pressão
política, mas não teremos um sindicato que seja a casa de todos os
trabalhadores da profissão ou classe.
Nas comemorações dos 50 anos da CGTP seria bom
que, para além da festa e do discurso mobilizador, houvesse debate e reflexão
sobre os caminhos da unidade e da renovação, de como fazer da CGTP ainda uma
maior Central sindical , travando o seu continuado emagrecimento que nenhuma
campanha de sindicalização ocultará!
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