domingo, 5 de agosto de 2018

SINDICALISMO E CONCERTAÇÃO SOCIAL



A recente polémica sobre a recusa da CGTP em assumir a presidência do Centro de Relações Laborais noticiada pelo jornal Expresso no passado mês de julho tem aspectos que merecem alguma reflexão para além da política de superfície.Em primeiro lugar convém saber qual é efectivamente a posição da Central Sindical porque, pelo que lemos, existiria aqui ,de facto, uma certa contradição.Se a CGTP aceitou participar num centro tripartido também aceitou as regras estabelecidas pelo mesmo desde o início.
A posição das confederações patronais mais não é do que uma tentativa de marginalizar esta Central sindical do referido Centro e corresponde a uma estratégia particularmente agressiva tanto dos patrões como da UGT que se acentuou com a formação da «geringonça ».
Note-se também que alguns dirigentes da CGTP da área socialista manifestaram publicamente a sua posição, curiosamente no mesmo jornal, defendendo que a CGTP deve assumir na integra a participação no Centro de Relações Laborais.
A questão de fundo é o que podemos chamar de participação sindical nas instituições democráticas tripartidas ou não.Esta questão nunca se colocou à UGT que é uma central reformista, que nasceu para concretizar no campo sindical o bloco central e «rachar» a então fortíssima Intersindical, mais tarde CGTP-IN.
Desde o início que a questão da participação sindical nas instituições atravessou a CGTP.Históricamente foi através de um largo debate, e ,por força persuasiva das chamadas correntes minoritárias ,socialista, BASE-FUT/Católicos e Independentes,que  pouco a pouco uma parte dos sindicalistas comunistas aceitaram como correcto para a defesa dos interesses dos trabalhadores a ação sindical nas instituições.A luta nos locais de trabalho, a promoção e fortalecimento da contratação colectiva e a luta na rua são ações compatíveis e complementares próprias de um sindicalismo de classe,autónomo, combativo e de transformação social, ou seja anticapitalista.
Porém, a história das relações laborais em Portugal tem sido para os trabalhadores uma sucessiva perda de direitos e poder nas empresas e na economia, tendo em conta que ,após a Revolução de 1974, os sindicatos tinham uma importante e decisiva  influência no poder político e nas instituições conseguindo avanços sociais superiores aos que detinha a maioria dos sindicatos europeus .
Lembramos em especial o que aconteceu nos anos de Sócrates/ Troika/Passos Coelho em que foram inclusive assinados acordos com clausulas anticonstitucionis  e legislação laboral que impôs uma perda assinalável de direitos e rendimentos aos trabalhadores.
Esta sucessiva perda de direitos está, porém, mais relacionada com a relação de forças no mundo,na Europa em Portugal, com a forte desindicalização em Portugal, com a segmentação do mercado de trabalho  e revolução tecnológica, com a promoção do trabalho atípico e precariedade  do que própriamente pela participação nas institucionais, pelo diálogo social.Basta ver os recentes relatórios da OIT sobre as tendências no mundo do trabalho.
Porém, a corrente na CGTP que nunca aceitou esta participação institucional não desistiu das suas posições fazendo uma relação directa entre a perda de direitos dos trabalhadores portugueses com o facto de existirem instânias de diálogo e possível acordo de carácter tripartido, não acreditando que daí venha algo de positivo para o reforço do poder dos trabalhadores.
Assim, e ao contrário de algumas análises de direita propaguendeiam,  a questão não está na eventual radicalização de alguns sectores da CGTP, mas sim no facto da existência de um diálogo social decepcionante e na debilidade crescente das outras correntes sindicais hsitóricamente ligadas a esta Central Sindical, com especial destaque para os socialistas e a BASE-FUT/católicos.Esta questão merece um novo debate tendo em conta os estudos de cientistas sociais já efectuados  sobre a concertação social em Portugal e as estratégias sindicais.O que não podemos  dizer é que uns são os «radicais» porque criticam o papel das instituições de concertação e os outros são os «sérios e responsáveis» porque vivem dessa concertação e adoram-na quando esta evolui a seu jeito.



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