quinta-feira, 12 de abril de 2018

SOCIALISTAS, CATÓLICOS E COMUNISTAS!

O s socialistas foram os grandes animadores do nascente movimento operário português nas últimas décadas do seculo XIX. Grandes nomes da intelectualidade socialista como José Fontana, Oliveira Martins e Antero ficaram nas páginas da História, para além de muitos militantes desconhecidos que organizaram as associações de classe, cooperativas e mutalidades! Pouco antes da República no movimento operário português, ainda pouco consistente, começam as divergências. Os republicanos ganhavam terreno porque prometiam melhorar já as condições de vida e trabalho dos trabalhadores que viviam em situações precárias e miseráveis. Por outro lado, os anarquistas começaram a entrar nos sindicatos e cimentar uma corrente, o anarco - sindicalismo, que disputaria aos socialistas a orientação do movimento operário! Estes novos militantes atacaram a ambiguidade dos sociais- democratas, as tendências eleitoralistas do Partido Socialista. No período anterior á República os católicos agrupavam-se em associações (CCO) que juntavam patrões e trabalhadores. Houve grandes disputas a até lutas físicas com os socialistas em geral por causa de matérias religiosas e clericais. A reivindicação do descanso dominical foi o único ponto de união embora por razões diferentes. Após a Revolução republicana estas tendências acentuaram-se. A República começou a bater forte no Movimento operário e na Igreja. Nas greves de 1911/12 a repressão foi mais forte do que no tempo da monarquia com encerramento da Casa Sindical e prisão e deportação de centenas de militantes operários. Os trabalhadores guinaram á esquerda e aceitaram na sua maioria as teses anarquistas contra o Estado, a repressão e a política praticando a ação direta! O Partido Socialista ainda viria a dar luta mas foi perdendo inexoravelmente a animação das organizações de trabalhadores! Mais tarde até ao fim da Primeira República a luta seria entre os anarco-sindicalistas e a emergente corrente comunista dirigida pela Internacional Sindical Vermelha que tinha a seu favor a primeira grande revolução dos trabalhadores- a revolução soviética na Rússia dos Czares. Aos impasses da ação direta em que caíram os anarquistas, os comunistas levantavam a bandeira da Revolução russa severamente criticada pelos anarquistas que estavam também a ser dizimados pelos comunistas russos (bolcheviques). A ditadura salazarista que se foi consolidando a partir de 1934 com a destruição dos sindicatos livres, veio, embora em condições muito difíceis, abrir caminho aos que estavam melhor organizados e mais apoios internacionais tinham naquele momento- os comunistas. Os acontecimentos mais recentes são muito mais conhecidos por todos. É uma história complexa a resistência dos trabalhadores perante a ditadura. As dificuldades dos anarquistas e socialistas acentuaram-se, os comunistas numa primeira fase queriam criar sindicatos clandestinos até que veio uma ordem em contrário, aceite não sem reticências, e os trabalhadores católicos entraram para os sindicatos nacionais com o objetivo de os cristianizar. Numa segunda fase os comunistas entraram também para os sindicatos nacionais porque aí estavam os trabalhadores, os católicos frustram-se com a sua militância naqueles sindicatos e foram percebendo o caráter não democrático destas organizações. Um setor da militância católica ainda tentou criar sindicatos cristãos, mas Salazar travou tal objetivo. Os socialistas foram perdendo a sua organização, a sua afirmação e identidade própria no seio dos trabalhadores portugueses. A partir da segunda metade da década de sessenta do seculo XX socialistas, católicos e comunistas de diversas tendências trabalham para formar o núcleo de oposição sindical que viria a desembocar na Intersindical e, mais tarde, a CGTP-IN. Após o 25 de Abril, e no contexto do debate sobre a unicidade sindical, um importante setor dos sindicalistas socialistas (serviços) aposta por motivos políticos na criação da UGT numa aliança estratégica com os trabalhadores sociais- democratas do PPD/PSD. Outro setor socialista (operário) continuou apostando na CGTP. Esta clivagem no sindicalismo socialista foi uma das principais causas para a menor influência nos trabalhadores portugueses. Divididos os sindicalistas socialistas tiveram sempre muita dificuldade em influenciar as direções do PS e criar uma verdadeira autonomia face ao mesmo. Esta situação é particularmente confrangedora quando o PS está no governo e aplica políticas pouco trabalhistas e até de ataque a direitos dos trabalhadores. Momento particularmente confrangedor ocorreu com a assinatura pela UGT de um acordo tripartido, com Passos Coelho, governo da Troica, que continha normas laborais inconstitucionais! O principal obreiro deste acordo foi o socialista João Proença. Assim, os socialistas desta Central concordariam (?) com o tal Acordo enquanto os socialistas da CGTP o criticavam. A unidade dos sindicalistas socialistas é feita pelo partido e isso fragiliza-os perante os trabalhadores e perante o PS.
Com a mais recente criação política-governo PS com apoio do BE e do PCP-os sindicalistas socialistas poderiam ter uma ação particularmente importante na busca de uma alternativa mais sólida e não apenas para repôr rendimentos e alguns direitos.Na UGT aqueles sindicalistas encostam-se aos do PSD na crítica à CGTP apoiando por vezes as propostas dos empresários e suas associações.Na CGTP a tática partidária sobrepoe-se  a uma ação autónoma .Esta divisão e ambiguidade impedem que os sindicalistas socialistas não tenham mais força dentro de um partido que históricamente nasceu com o Movimento operário!

Sem comentários: