sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

O PAPA QUER OUTRA IGREJA?

A exortação «Evangelii Gaudium» do papa Francisco tem levantado diversas reações embora duvide que sejam muitas as pessoas que tenham lido na íntegra o longo documento. Uns afirmam que o papa não diz nada de novo, esvaziando o seu conteúdo, outros que tem afirmações verdadeiramente revolucionárias e, outros ainda, preferem ignorar o assunto e não publicitar o documento. O silêncio funciona aqui como uma censura discreta mas eficaz.
 
 O texto é verdadeiramente a imagem deste homem. Um texto com uma linguagem simples e atualizada sem grandes pretensões e fugindo das frases ambíguas e fora do contexto, tão do gosto de um certo clero que evita comprometer-se. Resumiria o texto dizendo que o papa pretende dar um novo protagonismo à Igreja reorientando a sua ação em duas direções, tendo em conta um mundo em que o capitalismo se globalizou, se transformou e transformou a vida de todos, nomeadamente as relações sociais, em consequência das mudanças económicas e financeiras que implementou.
 A primeira direção é a de que a Igreja deve ser fundamentalmente missionária, ou seja, deve viver para os outros e menos para si própria, terá que ser menos clerical, hierárquica e machista. Uma Igreja aberta aos que não têm uma vida regular, aos marginais e aos menos conceituados pelos valores morais dominantes, inclusive católicos.
A segunda direção é a de que a igreja não deve ser uma mera agência assistencialista. Deve ser profética e, sendo para todos, deve dar a preferência aos pobres. Isto exige ver a realidade social com as ferramentas científicas e desmontar as causas estruturais da pobreza que condenam milhões á miséria e opressão. Significa desmontar nomeadamente a dinâmica de acumulação do sistema financeiro mundial atual e encontrar os mecanismos de colocar o dinheiro na produção de riqueza para todos e não para a especulação e ao serviço de uma pequena porção da população mundial. Estar com os pobres no concreto no seu processo de promoção e emancipação e, em simultâneo, trabalhar para uma sociedade onde os ricos perdem as ferramentas da opressão e deixam de se apropriar daquilo que não é deles!
Isto significa, a meu ver, colocar a Igreja católica numa linha de futura superação do sistema capitalista.

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